Com praticamente 250 mil hectares de área ardida, o primeiro-ministro Luís Montenegro dá esta quarta-feira, 27 de agosto, explicações aos deputados da Comissão Permanente, num debate parlamentar de urgência.A discussão (que deverá durar à volta de uma hora), agendada desde a semana passada, foi proposta por Chega e PCP e aprovada por todos os partidos em reunião de Conferência de Líderes, numa altura em que a oposição tem deixado críticas transversais à gestão dos incêndios em Portugal. Em causa está o facto de, no entender dos oito partidos da oposição, o Executivo não ter prevenido a situação nem acionado, de forma atempada, o Mecanismo Europeu de Proteção Civil. Além disso, a oposição critica ainda o facto de Luís Montenegro ter estado na Festa do Pontal, a rentrée do PSD, no dia 14 de agosto, quando o país atravessava dias complicados no combate às chamas. A presença no Pontal mereceu críticas de falta de empatia a Luís Montenegro.Mas os esclarecimentos sobre os incêndios podem não ficar por aqui. Quando o primeiro-ministro se sentar, às 15h00, na bancada do Governo no Parlamento, já saberá que o Chega pondera avançar com um pedido para ser constituída uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre “o negócio dos incêndios”. No entanto, certo é também que tanto PSD como PS são contra a constituição desta comissão. Isto significa que, no caso das propostas avançarem, ambos os partidos as podem chumbar, inviabilizando a constituição da CPI..Gestão de meios e incentivos de fixação no interior são temas que peritos querem ver discutidos na AR.Perante este cenário, André Ventura, líder do Chega, admite que o partido pode forçar a realização da CPI, através de um requerimento potestativo, o que não obrigaria a um consenso com os outros partidos. “Se tivermos de o fazer, faremos”, garantiu Ventura.Em reação, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, criticou a proposta, dizendo que “o trabalho de fazer, e bem, investigação da mão criminosa” nos fogos em Portugal compete às “forças de segurança e à PJ” e não aos deputados no Parlamento. Segundo o deputado social-democrata, criar uma CPI é “extemporâneo”, “inútil” e “despropositado”.Além do Chega, também o Bloco de Esquerda e Juntos pelo Povo (JPP) vão propor uma CPI aos fogos, mas com um objeto ligeiramente diferente, focando-se na gestão dos incêndios.Para o PS, o foco deve ser outro: o de ter “um olhar externo” para avaliar o que correu mal na prevenção e no combate aos incêndios. Para tal, José Luís Carneiro, secretário-geral socialista, propõe que se crie uma Comissão Técnica Independente - o PSD já disse ser a favor.Segundo o líder do PS, este deve ser o mecanismo a adotar e não uma comissão de inquérito “proposta por um partido que descobriu o que estava a acontecer no país”.Governo “decapitou” estruturas da Proteção CivilAinda segundo o secretário-geral socialista (que foi ministro da Administração Interna), o Governo tem responsabilidades na gestão dos incêndios.Em declarações feitas ontem na Lousã, durante a rota que está a fazer pela Estrada Nacional 2 (EN2), José Luís Carneiro acusou o Governo de ter feito uma “decapitação” nas estruturas intermédias da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANEPC). “Se eu fosse primeiro-ministro, não teria autorizado as alterações que foram feitas”, garantiu.Citado pela Lusa, José Luís Carneiro considerou que os governos do PS fizeram um “trabalho sério, rigoroso e metódico”, sendo “inaceitável” que o Executivo esteja a “pôr de lado” o que foi feito. “O Governo não pode passar sobre estes assuntos como gato sobre brasas. Tem que, efetivamente, responder às perguntas que estão a ser feitas e mostrar que está a servir o país, porque essa é a primeira obrigação que o Governo tem relativamente às portuguesas e aos portugueses”, vincou ainda.Para José Luís Carneiro, deve ainda ser realizada uma avaliação do que foi feito e um ponto de situação da execução das diferentes iniciativas, várias delas financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)..Líder do PS acusa Governo de "decapitação" de várias estruturas intermédias da Proteção Civil.André Ventura insiste em comissão de inquérito e quer incendiários equiparados a terroristas