O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, avisou que será preciso um “quase milagre” para executar no próximo ano e meio ou em dois anos cerca de 16 mil milhões de euros do “muito atrasado” Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Na mensagem gravada que abriu a conferência “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, inserida nas comemorações do 160.º aniversário do Diário de Notícias, que decorreu na sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o Chefe de Estado disse que “importa recuperar o tempo perdido e ver até onde é possível ir”.“Sem crescimento económico é muito difícil combater a pobreza e é muito difícil combater as desigualdades económicas e sociais”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, defendendo que, além das “contas certas” para assegurar estabilidade financeira, haja “um mínimo de entendimento no sistema partidário para questões de regime”, como Justiça, Administração Pública, Saúde, Educação ou Habitação.Após homenagear o Diário de Notícias pela forma como acompanha Portugal, da Monarquia Liberal até à Democracia, realçando que o jornal “é uma realidade forte no presente e para o futuro”, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma reflexão sobre a mudança de ciclo no Mundo. A começar pelo regresso de Donald Trump à Casa Branca, em circunstâncias diferentes do primeiro mandato. Não só “porque há guerras que não existiam”, mas também porque “a economia é diferente”.O Presidente da República realçou que “a Europa está diferente e com crises nos sistemas políticos, económicos e sociais”, ao mesmo tempo que se “inverteu a ordem dos factores” entre a China e a Rússia. E advertiu para a “concentração do poder económico nas mãos de muito poucos, que juntam ao poder económico o poder político, e de alguns poucos, que juntam ao poder político o poder económico”.A seguir, no primeiro painel da conferência, dedicado ao tema “Que certezas num mundo de incerteza?”, o diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Neiva da Cruz, disse que os movimentos extremistas, “tanto de esquerda como de direita”, são um “campo de pressão para o Estado de Direito” em Portugal.Mas o debate, moderado pelo diretor do DN, Filipe Alves, passou por outros temas. A ex-eurodeputada Ana Miguel dos Santos disse que a Europa “tem de apanhar um comboio que já vai muito adiantado” na Segurança e Defesa, estando “a pagar um preço alto” pelo desinvestimento. Sobre a guerra na Ucrânia, o embaixador Martins da Cruz admitiu que não se pode terminar o conflito em 24 horas, como disse Trump. “Provavelmente nem em 24 dias, mas talvez em 24 semanas”, vaticinou, replicando o que se fez na Coreia e no Chipre.Para o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Gonçalo Saraiva Matias, a União Europeia, que “tem falhado na questão da imigração”, deverá olhar para o que os Estados Unidos fizeram na imigração, “no bom e no mau sentido”. E, focado na economia e empresas, José Bizarro Duarte, partner da PwC, disse os gestores estão “mais otimistas” do que noutros países, apesar da volatilidade macroeconómica e da cibersegurança.