Foi em Vila Nova de Gaia que a ministra da Juventude e Modernização deu, ontem, o pontapé de saída no processo de recolha de propostas para a elaboração da futura Agenda Nacional da Juventude. Esta deverá ser formalmente apresentada em abril, sendo que os primeiros três meses do ano servirão para ouvir os jovens de todo o país. Neste primeiro encontro, Margarida Balseiro Lopes escutou propostas relacionadas com a área da Saúde e Habitação, com os jovens a pedirem medidas de apoio a quem tem salários baixos e não pode, ainda, recorrer à garantia estatal para o crédito à habitação. O arrendamento com opção de compra mais tarde foi uma das sugestões que ouviu.A cidade de Gaia foi escolhida para o arranque deste processo por ser a Capital Nacional da Juventude 2025, uma distinção obtida entre 19 municípios candidatos. E foi perante um auditório cheio de jovens que Margarida Balseiro Lopes explicou que a agenda tem um objetivo “muito claro”: o de conseguir que os jovens portugueses “possam ficar no seu país”.A ministra lembrou que 30% dos jovens têm saído do país, num total de mais de 800 mil nos últimos anos, classificando estes números de “especialmente chocantes”, atendendo a que “muitos destes jovens com quem temos contactado não saíram porque queriam, mas por falta de opções para ficarem”. É isto, garante, “que preocupa o Governo e o impele a ter uma ação concreta com políticas públicas a nível nacional, e local, de forma a criarmos as oportunidades para que os jovens possam viver no seu país”.A agenda “não começa em branco”, garante, na medida em que irá integrar as ações e iniciativas tomadas pelo Governo nos últimos meses, designadamente o IRS Jovem, o pacote de acesso facilitado ao crédito à habitação, com isenção de Imposto de Selo e Imposto Municipal sobre as Transações, entre outros. A ministra garante que o objetivo é que a Agenda Nacional da Juventude “não seja apenas a agenda do Governo, mas que seja criada a partir das prioridades definidas pelos próprios jovens”.Além das sessões presenciais pelo país, haverá também recolha de contributos online através do site participa.gov.pt, a partir do fim do mês.E são 10 as grandes áreas de atuação para as quais os jovens são chamados a contribuir com propostas: Saúde e Bem-estar, Educação e Qualificação, Participação Cívica e Cidadania, Digitalização e Tecnologias, Habitação, Natalidade e Intergeracionalidade, Sustentabilidade, Ambiente e Coesão Territorial, Empreendedorismo e Inovação, Cultura e Criatividade e, por fim, Inclusão e Igualdade.Em Gaia foram escolhidos 50 jovens, cinco por cada uma das linhas mestras a cobrir, para participarem no processo de discussão. E a ministra quis ouvir alguns deles. Começou pelo grupo da Habitação, onde ouviu as preocupações de um estudante universitário que pedia o desenvolvimento de residências de estudantes a preços mais acessíveis e ao qual lembrou os 7,5 milhões de euros aprovados para pagar camas protocoladas entre as Instituições do Ensino Superior e as entidades e estabelecimentos que disponibilizem camas.Numa fase diferente da vida está Liliana, que pondera comprar casa e que considera que a medida recente do Governo de garantir 100% do financiamento do crédito à habitação é “excelente”, mas só para quem tem salários elevados. Para quem ganha o salário mínimo, ou pouco mais, não há liquidez para comprar casa, mesmo com a garantia do Estado. Para esses, a jovem considera que a possibilidade de arrendar uma casa com opção de compra posterior, e com o desconto do valor das rendas já pagas, seria uma boa solução.Medidas para controlar a proliferação de Alojamento Local e impedir a compra de casa por estrangeiros foram outras das sugestões, levando a ministra a lembrar que as regras da UE não permitem discriminação de europeus.Já no grupo da saúde e bem-estar, Margarida Balseiro Lopes apercebeu-se da falta de conhecimento sobre os recém-criados cheque-psicólogo e cheque-nutricionista, que pretendem cobrir mais de 100 mil e 50 mil consultas, respetivamente. Noutros grupos, destaque para a vontade de haver maior inclusão e uso de tecnologias nas escolas, o aumento da literacia digital ou a facilitação do acesso à internet por parte de jovens mais carenciados.