Os aliados e os opositores de Jair Bolsonaro contavam com uma eventual prisão de Jair Bolsonaro por participação numa tentativa de golpe de estado em 2022 e 2023 só depois de novembro, quando se prevê o encerramento do processo. A prisão do ex-presidente três meses antes, ainda que apenas domiciliar por enquanto, precipita a discussão dos candidatos ao espólio eleitoral bolsonarista.Entre os candidatos a candidatos, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, o estado mais rico e populoso do Brasil, e elogiado ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, destaca-se dos demais. Na mais recente das sondagens, do Instituto Datafolha, Tarcísio perderia pela margem mais curta, 45% a 41%, numa disputa com Lula da Silva, caso o presidente atual confirme a intenção, já verbalizada, de se recandidatar. Mas Ratinho Junior, governador do Paraná que tem a vantagem de estar em fim de mandato, ao contrário de Tarcísio que, caso concorra ao Planalto, pode ser acusado de trocar São Paulo pela ânsia do poder federal, pontuou 40% a 45%, um resultado quase idêntico ao do rival paulista. O filho do comunicador sensacionalista Ratinho tem melhor performance do que Romeu Zema, governador de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado, governador de Goiás, ambos também a concluir no ano que vem os segundos e últimos mandatos.O favorito Tarcísio e o surpreendente Ratinho superam, por outro lado, o desempenho de todos os familiares de Bolsonaro citados na sondagem: Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e líder do Partido Liberal-Mulher, fica a oito pontos de Lula, à frente ainda assim do senador Flávio Bolsonaro, primogénito de Bolsonaro, e do deputado Eduardo Bolsonaro, terceiro filho do ex-presidente. A família Bolsonaro, revelam sondagens e afirmam analistas, pode ser contaminada pelos efeitos do “tarifaço” (aumento de 10% para 50% na taxação da maioria dos produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos). Afinal, o “tarifaço”, que prejudica empresas, trabalhadores e consumidores brasileiros, foi instigado por Eduardo, que mora desde março nos Estados Unidos, e apoiado pelos membros da família e pelos bolsonaristas mais radicais para pressionar o governo e o Congresso a aprovarem uma amnistia dos réus do processo do golpe. Já os governadores, considerados mais moderados, saem incólumes da guerra comercial. Eduardo chegou até a criticar Tarcísio e Ratinho: “Desconfie de quem se mostra preocupado com a tarifa-Moraes [alusão ao juiz do Supremo que julga Bolsonaro] e não fala dos presos políticos ou da crise institucional, ignorando a carta de Trump (...) estão te enganando, jogando para a plateia”, disse. Tarcísio tinha acabado de lamentar que as negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos tivessem sido contaminadas por “proveito político”, referindo-se à associação das tarifas à situação jurídica de Bolsonaro. Na manifestação de domingo que levou à prisão domiciliar de Bolsonaro - por ter falado via telefone com os manifestantes - a ausência de Tarcísio, que aposta em conquistar o centro sem perder o bolsonarismo radical de vista, foi aliás muito notada.