O cessar-fogo parece estar a aguentar na Faixa de Gaza, com as armas caladas e os deslocados a regressar às suas casas (muitas em escombros). Mas na Cisjordânia ocupada, onde os últimos 15 meses também foram de violência (a uma escala diferente), a situação está a piorar. Pelo menos nove palestinianos morreram e 40 ficaram feridos no campo de refugiados de Jenin, no início da “operação militar” Iron Wall (Muro de Ferro), que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse ser “em larga escala e significativa” e visar “erradicar o terrorismo”. O Hamas já apelou à “mobilização”. A operação em Jenin, que não é a primeira e incluiu ataques aéreos, foi lançada na terça-feira de manhã, com as forças de segurança da Autoridade Palestiniana (AP) a recuar. Estas tinham lançado há pouco mais de um mês raides neste campo de refugiados de betão onde vivem 14 mil pessoas com o objetivo de desmantelar os grupos armados - uma ação pouco comum e que foi condenada pelos palestinianos, que acusam a AP de Mahmud Abbas de colaborar com Israel. Segundo o The Jerusalem Post, os israelitas terão considerado “insuficiente” o que foi feito e resolveram atuar. “Este é outro passo para alcançar o objetivo que estabelecemos - reforçar a segurança na Judeia e Samaria”, escreveu Netanyahu no X, usando os nomes pelos quais os israelitas conhecem a Cisjordânia ocupada. “Estamos a agir sistematicamente e resolutamente contra o eixo iraniano onde quer que este estenda os seus braços - em Gaza, no Líbano, na Síria, no Iémen e na Judeia e Samaria - e com as nossas mãos ainda estendidas”, acrescentou. “Em nome da nossa liberdade, em nome da nossa dignidade, derrotaremos esta ocupação e quebraremos estes muros de ferro, com a nossa vontade de aço”, disse por seu lado o líder do Hamas na Cisjordânia, Zaher Jabarin, em entrevista à Al Jazeera. O acordo de cessar-fogo diz apenas respeito à Faixa de Gaza, não havendo qualquer referência à Cisjordânia, onde o Hamas está presente, mas em menos força do que no enclave palestiniano. Desde os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023 que as forças israelitas - e os colonos - multiplicaram os ataques na Cisjordânia. Segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, pelo menos 828 palestinianos morreram (77 em Jenin). Do lado israelita, a mesma fonte contabiliza a morte de oito civis (sete deles colonos) e 17 soldados. O novo presidente dos EUA, Donald Trump, levantou as sanções impostas pelo antecessor aos colonos, com a AP a avisar que isso vai encorajar mais a violência.Na segunda-feira à noite, dezenas de civis israelitas (alguns deles com o rosto tapado) “instigaram motins, incendiaram propriedades e causaram danos” na localidade palestiniana de Al Funduq, segundo um comunicado das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês). Esta zona fica perto do local onde três israelitas foram mortos num ataque terrorista a 6 de janeiro, perpetrado por alegados residentes de Jenin. As autoridades foram recebidas com “pedras”, tendo dois jovens israelitas sido feridos a tiro por um polícia. O caso está a ser investigado.Demissões nas IDF .O início da operação em Jenin surgiu horas antes do anúncio do chefe do Estado-maior das IDF, Herzi Halevi, de que vai deixar o cargo a 6 de março. “Em virtude do reconhecimento da minha responsabilidade pela falha das IDF no 7 de Outubro (...) pedi para deixar o meu cargo”, revelou em comunicado. Na carta de demissão admite: “As IDF falharam na sua missão de proteger os cidadãos de Israel.”Halevi disse que iria concluir a investigação ao ataque do Hamas - no qual cerca de 1200 pessoas morreram e 250 foram feitas reféns - e reforçar a preparação das IDF para desafios de segurança. A demissão de Halevi, militar há quatro décadas, era esperada, surgindo depois de outros oficiais se terem demitido devido às falhas no dia do ataque. Também o comandante do Comando Sul das IDF, Yaron Finkelman, anunciou a sua demissão.susana.f.salvador@dn.pt