A campanha de bombardeamento do Japão por parte dos Estados Unidos, iniciada quase 14 meses antes, tinha levado à morte de uns 700 mil civis, primeiro com bombas incendiárias, depois com napalm. A área urbana destruída atingia 50% em Tóquio, por exemplo. Bastaram, porém, duas bombas para pôr termo à guerra dos aliados contra o Japão. A capacidade de destruição demonstrada pelas duas explosões foi determinante. A primeira, composta por urânio, foi lançada às 8h15 de 6 de agosto de 1945 e explodiu a 600 de altitude de Hiroxima. Três dias depois Nagasáqui foi obliterada com uma bomba com plutónio na composição. À meia-noite de dia 14, o imperador japonês anunciou a rendição. Terminava a guerra e iniciava-se uma corrida às armas nucleares. .Uma corrida incessante pela arma de que se diz ser dissuasora . No dia 8 de junho de 1945 o governo nipónico decidira prosseguir a guerra até às últimas consequências. Na defesa do arquipélago, os japoneses responderam com 2800 ataques de pilotos suicidas kamikazes (“vento divino”) e preparavam-se para a invasão anfíbia norte-americana com novas armas suicidas, entre as quais um torpedo e uma mina guiados por homens. Estas inovações em breve se tornaram inúteis. Depois do primeiro teste realizado em 16 de julho, no deserto do Novo México, o presidente dos EUA Harry Truman aprovou o uso da bomba atómica no dia 25 de julho caso Tóquio não aceitasse o ultimato saído da conferência de Potsdam, no dia seguinte. Os EUA não queriam prolongar uma guerra cujos planos de invasão previam baixas de 250 mil militares norte-americanos e de um milhão de japoneses. . O ministro da Guerra japonês Korechika Anami manteve-se inflexível, ao discutir o ultimato no Conselho Supremo, depois de a União Soviética ter declarado guerra, mas quando ignorava a explosão da segunda bomba atómica, três dias depois de Hiroxima: “É muito cedo para dizer que a guerra está perdida. Não é de todo impossível que consigamos reverter a situação em nosso favor, transformando a derrota em vitória.” Mas com a notícia da destruição de Nagasáqui, o imperador Hirohito cedeu à exigência dos aliados, desde que em troca se mantivesse no trono. Depois de um locutor ter dado ordens para os ouvintes se levantarem, ouviu-se pela primeira vez Hirohito. “O inimigo começou a utilizar uma nova e extremamente cruel bomba cujo poder para fazer o mal é de facto incalculável, ceifando muitas vidas inocentes. Se continuássemos a lutar, isso não resultaria apenas no derradeiro colapso e obliteração da nação japonesa, mas levaria também à extinção total da civilização humana”, declarou. No dia seguinte à largada da bomba com o nome de código Little Boy, o DN, em chamada de capa, titulava “Uma bomba atómica de 10 toneladas com um poder de destruição duas vezes maior do que o TNT foi lançada pela aviação americana sobre uma cidade japonesa”. Sem ter ainda pormenores do ocorrido em Hiroxima, a notícia destacava a afirmação de Truman de que “com esta arma a aviação americana revolucionou o poder crescente de destruição pela força aérea”. . No dia seguinte, o DN chamava para manchete o tema. “A bomba atómica tem por base um dos produtos da desintegração do urânio e contém a energia que a radiação das estrelas provoca”, era o título com base nas explicações do físico de Oxford Geoffrey Parr. As aplicações futuras eram alvo de outra chamada (“Prevê-se no futuro a aplicação aos meios de transporte da nova fonte de energia”), mas também as implicações geoestratégicas (“Depois da atual descoberta a segurança das nações só se encontrará garantida pela paz internacional”). O horror causado pelas deflagrações, bem como o número de mortos (80 mil de imediato em Hiroxima, 40 mil em Nagasáqui, e um total de 187.747 calculado três décadas depois) estavam longe de se conhecer.