De Gaulle a resistir ao maio mais famoso de França

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"A República não abdicará! Não me demitirei", lia-se na manchete do Diário de Notícias de 31 de maio de 1968. A declaração do presidente francês Charles de Gaulle surgia depois de centenas de milhares, "alguns afirmavam ser um milhão", terem saído à rua em sua defesa, "cantando a Marselhesa" nos Campos Elísios.

Vivia-se o mais famoso dos meses de maio em França, o de 68, quando estudantes colocaram a França em estado de sítio. No poder, De Gaulle lutava para se manter no poder - o que conseguiria até abril de 69 - nas ruas a mensagem era bem diferente. Cartazes com De Gaulle a fazer a saudação nazi, punhos cerrados, apelos à união dos trabalhadores, a greves intermináveis e um que ficaria na história, "Revolução, meu amor".

A 30 de maio, Paris foi palco de uma manifestação em defesa do governo. No Diário de Notícias, lia-se que na frente da multidão seguiam "ministros e deputados com faixas tricolores, bandeiras dos antigos combatentes, mutilados nas suas cadeiras de rodas". "Durante perto de três horas, a multidão maciça, em filas cerradas, passou pela avenida mais célebre do mundo cantando slogans tais como "A França ao trabalho", "Connosco os franceses". "O comunismo não avançará", "De Gaulle, De Gaulle, Pompidou, bravo", e também gritos hostis a Mitterrand."

Não passou o comunismo, Mitterrand haveria de passar, e a revolução do Maio de 68 nunca o chegou a ser. Maria Antónia Palla, então jornalista, haveria de publicar em livro o que viu por Paris um ano depois. Em entrevista ao Público, a assinalar a reedição do livro Revolução, Meu Amor, apreendido pela PIDE em 1969, resumiu o que viu. "Foi menos do que uma revolução, mas também foi muito mais do que uma insurreição."

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