"Trump está interessado em aumentar o seu poder e riqueza"
Entre Donald Trump e a imprensa a relação foi sempre muito tensa. Quem sofreu mais com ela - no seu entender, o presidente dos EUA ou a imprensa?
Trump tem manipulado com sucesso a imprensa americana, que nunca encontrou uma forma eficiente de cobrir a sua atividade. Ele ficou chamuscado no processo, mas, até agora, isso não parece tê-lo magoado muito. Acho que saberemos a verdadeira resposta a esta pergunta em novembro de 2020, quando os eleitores se pronunciarem.
Acha que Donald Trump acordou, de certa forma, o jornalismo, tornando-o mais necessário?
Não acho que a imprensa estivesse a dormir mas acho que o nosso papel é mais importante do que nunca tendo em conta o comportamento de Trump. Incluindo a sua incapacidade de dizer consistentemente a verdade.
A imprensa ficou também menos objetiva. Onde acaba a objetividade e começa o jornalismo que toma um lado, o partidarismo? Sente esse viés? Ainda o combate, ou já deixou de o incomodar?
Não acho que seja ser enviesamento perseguir assertivamente a verdade. E rejeito a ideia de que a imprensa esteja em guerra com Donald Trump. Como o diretor do The Washington Post, Marty Baron, diz: Não estamos em guerra, estamos a trabalhar. E como eu própria gosto de dizer: não é resistência, é jornalismo.
Esta é uma discussão que não começou com Trump. Deve a imprensa ser mais objetiva? Ou é chamar uma mentira de mentira a epítome da objetividade - nas mais presentes circunstâncias?
Concordo com a última sugestão. E a minha coluna mais recente, chamada "Andar à volta do racismo de Trump é uma traição à verdade jornalística", explica esse argumento, precisamente.
Ao princípio a imprensa estava até um pouco espantada com as atitudes de Trump e o seu estilo - dir-se-ia que estava um pouco tímida e cautelosa. O que mudou?
Houve uma certa tendência de tentar "normalizar" o presidente e o seu estilo de governação. Penso que isso mudou de certa forma, com o tempo, mas não completamente. É um equilíbrio difícil.
O seu tom nas crónicas também mudou... ou não? O que a fez mudar de ideias?
Não concordo. Acho que fui sempre dura com Trump, quando necessário, sempre. Não houve mudança de tom ou de abordagem, no meu caso.
Não está o presidente também a jogar um jogo perigoso? Precisa da atenção dos media e tantas vezes está a tentar matar o mensageiro da mensagem que quer passar?
Ele diria (e eu concordaria) que tem o seu próprio método de fazer passar a sua mensagem - através das redes sociais e através dos seus comícios e discursos, etc... Ele fala diretamente para a sua base de apoiantes e não precisa assim tanto dos media tradicionais.
Sente-se por vezes como uma guerreira? Como uma lutadora pela liberdade? Como uma partisan?
Nenhuma dessas coisas. Sinto-me como uma jornalista. Claro que, porque eu escrevo uma coluna de opinião, tenho mais latitude, mais liberdade, mas certamente não me sinto nenhuma dessas coisas. Só estou a tentar pôr as pessoas a pensar, e talvez aumentar o entendimento delas sobre as situações.
Como é que a América pode recuperar de Trump? Como pode ultrapassar as divisões por ele criadas?
Os americanos precisam de ter um pensamento mais cívico, ser mais bem-educados sobre o seu governo e mais bem informados por fontes reais de notícias - e precisam de votar de acordo com as suas consciências - quaisquer que elas sejam.
Quais os efeitos disto tudo na próxima campanha, e no lado dos democratas? Que tipo de candidato seria melhor para defrontar Trump? Um conservador ou um radical?
Não sou política e não tenho filiação partidária. Essa decisão não depende de mim. Mas acho, no entanto, que é trabalho dos media tratarem os candidatos todos por igual e em iguais quantidades de escrutínio - qualquer que seja o seu género e o seu lado político.
Depois de todos estes anos - e parecem longos -, qual é a imagem que tem de Donald Trump?
Não acho que ele tenha nenhuma crença profunda. Acho que ele está interessado em aumentar o seu poder e riqueza pessoal, e está sempre à procura de atenção devido à sua personalidade e psicologia próprias. Até o seu racismo tem esta base, na minha opinião.