O ministro da Defesa, Ben Wallace, foi apanhado por uma câmara da BBC a explicar o expediente de Boris Johnson em suspender as atividades parlamentares por um período mais longo do que é habitual. "O Parlamento tem sido muito bom em expressar o que não quer mas tem sido péssimo em expressar o que quer. Esta é a realidade", disse à homóloga francesa, Florence Parly, e entre risos admitiu não fazer ideia sobre o que irá acontecer. Depois justificou a medida: "De repente encontrámo-nos sem maioria e em coligação, o que não é fácil para o nosso sistema.".Na véspera, quarta-feira, a rainha acedeu ao pedido do primeiro-ministro em suspender as atividades do Parlamento entre 10 de setembro e 14 de outubro - e o escândalo rebentou, porque os deputados ficam com a agenda apertada para conseguir evitar a saída desordenada do Reino Unido da União Europeia. Chegado ao cargo de primeiro-ministro na sequência do voto de 92 153 militantes conservadores para a liderança do seu partido, Boris Johnson tem como cavalo de batalha o Brexit - um pouco à imagem do americano Donald Trump e a construção do muro com o México..Desde o momento em que se assumiu como candidato a sucessor de Theresa May, a mensagem foi a de que esse objetivo será concretizado no dia 31 de outubro, com ou sem acordo, "venha o que vier, é matar ou morrer". Nem que faça hoje uma coisa e tenha dito outra no passado. Durante a campanha para a liderança do Partido Conservador, há dois meses, afirmou: "Não me sinto atraído por artifícios arcaicos, como a suspensão [do Parlamento].".Se não surpreende que o Daily Telegraph - no qual Boris Johnson foi correspondente e mais recentemente colunista - e os tabloides tenham mostrado apoio ao primeiro-ministro, os conservadores Economist e Financial Times não pouparam o antigo mayor de Londres. Classificando a ação de Johnson de "vandalismo constitucional", o FT condenou a ideia de usar o Parlamento para pressionar Bruxelas e apelou aos deputados para usarem os dias em que podem trabalhar para passarem uma moção de censura, ainda que isso possa levar o líder da oposição, Jeremy Corbyn, a dirigir um governo de gestão. "A principal prioridade deve ser a salvaguarda da democracia britânica.".A iniciativa levou milhares às ruas um pouco por todo o país, milhões a assinarem uma petição parlamentar - cujo efeito prático é nulo -, a interposição de ações legais contra a medida. E uniu a oposição. Numa declaração comum, os líderes partidários exigiram a Johnson que volte atrás ou que dê aos deputados o poder de decidirem sobre a suspensão. Corbyn prometeu que a partir de terça-feira, quando o Parlamento reabrir de férias, vai agendar legislação para evitar um No Deal Brexit..Entre os conservadores, ex-adversários de Boris Johnson na corrida à liderança como Sajid Javid - até apagou um tuíte -, Matt Hancock e Michael Gove engoliram expressões de há dois meses como "demolir a democracia" ou "coisa horrível", ao que se juntou o silêncio das ministras Amber Rudd e Nicky Morgan quando antes tinham criticado a ideia de suspender o Parlamento como "sugestão louca"..A medida causou mal-estar junto dos conservadores menos radicais. A primeira demissão foi a de Ruth Davidson, líder dos conservadores escoceses e opositora a uma saída sem acordo. Seguiu-se George Young, a primeira baixa no governo, ao renunciar às funções de líder parlamentar na Câmara dos Lordes. Segundo o Buzzfeed, pode ser nesta câmara que os brexiteers terão mais hipóteses de adiar legislação. Inclusive, Boris Johnson poderá usar da prerrogativa de nobilitar pares para derrotarem o que puder ser aprovado pela Câmara dos Comuns. Outras táticas dilatórias estarão a ser consideradas pela equipa do primeiro-ministro, desde criar um Orçamento de emergência, cuja discussão iria impedir outras, até à criação de feriados..Na frente europeia, após uma viagem a Berlim e Paris, onde se encontrou com Angela Merkel e Emmanuel Macron, e a cimeira do G7, na qual se reuniu com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, Boris Johnson diz-se otimista sobre um acordo, embora o que foi assinado por Theresa May seja para ele inaceitável. E tentou ameaçar Tusk ao dizer que Londres não está disposto a pagar os 39 mil milhões de libras (pelos compromissos já assumidos com a UE). Mas a resposta em público surgiu através do eurodeputado Guy Verhofstadt: "Se o Reino Unido não pagar o que é devido, a UE não vai negociar um acordo comercial.".De Berlim chegou uma crítica à iniciativa de Johnson em suspender o Parlamento: "Se a lógica era assustar a UE e levá-la à renegociação, eliminando o Parlamento como último obstáculo ao Brexit sem acordo, o governo do Reino Unido enganou-se redondamente", disse Norbert Roettgen, deputado que preside à comissão dos Negócios Estrangeiros no Bundestag.
O ministro da Defesa, Ben Wallace, foi apanhado por uma câmara da BBC a explicar o expediente de Boris Johnson em suspender as atividades parlamentares por um período mais longo do que é habitual. "O Parlamento tem sido muito bom em expressar o que não quer mas tem sido péssimo em expressar o que quer. Esta é a realidade", disse à homóloga francesa, Florence Parly, e entre risos admitiu não fazer ideia sobre o que irá acontecer. Depois justificou a medida: "De repente encontrámo-nos sem maioria e em coligação, o que não é fácil para o nosso sistema.".Na véspera, quarta-feira, a rainha acedeu ao pedido do primeiro-ministro em suspender as atividades do Parlamento entre 10 de setembro e 14 de outubro - e o escândalo rebentou, porque os deputados ficam com a agenda apertada para conseguir evitar a saída desordenada do Reino Unido da União Europeia. Chegado ao cargo de primeiro-ministro na sequência do voto de 92 153 militantes conservadores para a liderança do seu partido, Boris Johnson tem como cavalo de batalha o Brexit - um pouco à imagem do americano Donald Trump e a construção do muro com o México..Desde o momento em que se assumiu como candidato a sucessor de Theresa May, a mensagem foi a de que esse objetivo será concretizado no dia 31 de outubro, com ou sem acordo, "venha o que vier, é matar ou morrer". Nem que faça hoje uma coisa e tenha dito outra no passado. Durante a campanha para a liderança do Partido Conservador, há dois meses, afirmou: "Não me sinto atraído por artifícios arcaicos, como a suspensão [do Parlamento].".Se não surpreende que o Daily Telegraph - no qual Boris Johnson foi correspondente e mais recentemente colunista - e os tabloides tenham mostrado apoio ao primeiro-ministro, os conservadores Economist e Financial Times não pouparam o antigo mayor de Londres. Classificando a ação de Johnson de "vandalismo constitucional", o FT condenou a ideia de usar o Parlamento para pressionar Bruxelas e apelou aos deputados para usarem os dias em que podem trabalhar para passarem uma moção de censura, ainda que isso possa levar o líder da oposição, Jeremy Corbyn, a dirigir um governo de gestão. "A principal prioridade deve ser a salvaguarda da democracia britânica.".A iniciativa levou milhares às ruas um pouco por todo o país, milhões a assinarem uma petição parlamentar - cujo efeito prático é nulo -, a interposição de ações legais contra a medida. E uniu a oposição. Numa declaração comum, os líderes partidários exigiram a Johnson que volte atrás ou que dê aos deputados o poder de decidirem sobre a suspensão. Corbyn prometeu que a partir de terça-feira, quando o Parlamento reabrir de férias, vai agendar legislação para evitar um No Deal Brexit..Entre os conservadores, ex-adversários de Boris Johnson na corrida à liderança como Sajid Javid - até apagou um tuíte -, Matt Hancock e Michael Gove engoliram expressões de há dois meses como "demolir a democracia" ou "coisa horrível", ao que se juntou o silêncio das ministras Amber Rudd e Nicky Morgan quando antes tinham criticado a ideia de suspender o Parlamento como "sugestão louca"..A medida causou mal-estar junto dos conservadores menos radicais. A primeira demissão foi a de Ruth Davidson, líder dos conservadores escoceses e opositora a uma saída sem acordo. Seguiu-se George Young, a primeira baixa no governo, ao renunciar às funções de líder parlamentar na Câmara dos Lordes. Segundo o Buzzfeed, pode ser nesta câmara que os brexiteers terão mais hipóteses de adiar legislação. Inclusive, Boris Johnson poderá usar da prerrogativa de nobilitar pares para derrotarem o que puder ser aprovado pela Câmara dos Comuns. Outras táticas dilatórias estarão a ser consideradas pela equipa do primeiro-ministro, desde criar um Orçamento de emergência, cuja discussão iria impedir outras, até à criação de feriados..Na frente europeia, após uma viagem a Berlim e Paris, onde se encontrou com Angela Merkel e Emmanuel Macron, e a cimeira do G7, na qual se reuniu com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, Boris Johnson diz-se otimista sobre um acordo, embora o que foi assinado por Theresa May seja para ele inaceitável. E tentou ameaçar Tusk ao dizer que Londres não está disposto a pagar os 39 mil milhões de libras (pelos compromissos já assumidos com a UE). Mas a resposta em público surgiu através do eurodeputado Guy Verhofstadt: "Se o Reino Unido não pagar o que é devido, a UE não vai negociar um acordo comercial.".De Berlim chegou uma crítica à iniciativa de Johnson em suspender o Parlamento: "Se a lógica era assustar a UE e levá-la à renegociação, eliminando o Parlamento como último obstáculo ao Brexit sem acordo, o governo do Reino Unido enganou-se redondamente", disse Norbert Roettgen, deputado que preside à comissão dos Negócios Estrangeiros no Bundestag.