O objetivo das manifestações que acontecem hoje, de norte a sul do país, "é contestar as políticas de habitação e a inexistência de políticas de ambiente, mas com grande foco na habitação. É uma questão mais fácil de resolver que a questão do ambiente", diz ao DN Nuno Ramos de Almeida, do movimento Vida Justa, um dos vários envolvidos neste protesto..As plataformas Casa para Viver e Their Time do Pay juntam esforços, com objetivos diferentes mas complementares, para levar às ruas de Lisboa a reivindicação por habitação justa. "As medidas que estão a ser tomadas são muito diminutas. Nós temos um baixíssimo índice de construção, do ponto de vista social. Temos menos de 2% quando a Holanda tem 30%. Obviamente que a construção de habitação social não se resolve num espaço de cinco minutos, mas é preciso começar a construí-la", continua Nuno Ramos de Almeida, acrescentando que "é preciso não deixar o mercado funcionar simplesmente pelo mercado. Com o mercado a funcionar sozinho, os construtores vão fazer casas para pessoas que têm dois milhões de euros para pagar. Não vão construir casas para a classe média, para a classe média baixa", aponta. "Como o número de casas construídas é escasso, tem de haver uma intervenção reguladora do Estado em relação ao mercado", ou nada vai mudar, destaca o representante da Vida Justa..A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, confrontada ontem com as várias manifestações marcadas para hoje, considerou que é "importante a voz das pessoas ser ouvida" perante "um problema real no nosso país". Sobre o pacote de medidas para o setor que o Governo avançou em fevereiro e que foi vetado pelo Presidente da República em agosto, a governante afirmou que "é importante ficarmos todos vigilantes com a execução do Mais Habitação. Nós construímos este diploma para ele ser eficaz no seu objetivo, portanto, é importante fazermos este trabalho [de vigilância]", destacou..As alterações legislativas ao nível do arrendamento, do alojamento local, dos imóveis devolutos e de impostos foram, há uma semana, novamente aprovadas no parlamento, apenas com o voto favorável da maioria parlamentar do PS. Marina Gonçalves também salientou ontem que o Governo ainda não decidiu se vai impor um travão ao aumento das rendas para 2024, defendendo que "não há nenhuma demora" naquela decisão, que só terá implicações em janeiro.."Esse programa [Mais Habitação] não resolve nada", afirma Nuno Ramos de Almeida. Para o representante do movimento Vida Justa, trata-se de "um programa mais feito para consumo mediático do que para alteração real das coisas. Do ponto de vista das casas devolutas, o que é que eles fizeram? Nada Do ponto de vista do crédito à habitação, empurraram com a barriga", considera. No que diz respeito às rendas das casas, Nuno Ramos de Almeida critica o Governo por não ter posto travões em vigor. Neste momento, os preços estão a disparar. O efeito foi exatamente o contrário", argumenta. Na génese do problema, defende Nuno Ramos de Almeida, estão os rendimentos baixos. "O que não pode suceder é os nossos salários estarem abaixo do preço das casas. Um aumento de salários é mais do que necessário. Nós não podemos viver numa situação em que os salários não pagam nem a comida nem a casa. Nem no tempo do fascismo isto era assim", conclui..A manifestação que leva hoje 24 cidades portuguesas a saírem à rua é centrada na habitação e no combate às alterações climáticas, tal como aconteceu a 1 de abril. A plataforma Casa para Viver "não engloba os partidos, não há movimentos partidários ali", sublinha Nuno Ramos de Almeida. Na altura, em Lisboa, a polícia acabou por ter uma intervenção junto de alguns manifestantes. "Nós não conseguimos controlar numa multidão de dezenas de milhar de pessoas. Mas esperemos que não haja problemas, porque aquilo resultou de uma ação de um pequeno grupo que estava na manifestação, que pintou alguns estabelecimentos bancários, e em função disso a polícia tentou fazer uma identificação", explica o porta-voz da plataforma..Para já, a reforçar o caráter pacífico do protesto, à voz dos manifestantes, juntam-se músicos, como A Garota Não (nome artístico de Cátia Mazari Oliveira), Luís Varatojo e Luca Argel, porque o problema também já passou por eles. "A música deve estar ao lado das pessoas e focar as questões que interessam", realça Varatojo, sublinhando que a habitação é um problema transversal. "Eu, músico, também tenho uma casa e obviamente não escapo a esse problema", diz. "Não é um problema que tenha aparecido neste momento", assinala Varatojo, que se dedicou a pesquisar "o que os governos têm dito sobre habitação", acabando por utilizar na música um excerto de um discurso de António Costa, no qual o primeiro-ministro promete resolver o problema. "Entretanto, passaram cinco, seis anos, e as coisas continuam na mesma ou se calhar pior", nota..As prestações do crédito à habitação indexadas às taxas Euribor revistas em outubro vão disparar 167,54 euros no prazo a 12 meses, segundo a simulação da Deco/Dinheiro&Direitos..A simulação é feita para quem tem empréstimos de 150 mil euros, pagos em 30 anos, indexados à taxa Euribor a 12 meses. Feitas as contas, quem estiver nesta situação, vai pagar uma prestação de 807,98 euros em outubro, refletindo uma subida de 68,58 euros face à ultima revisão, em abril. Já no caso de um empréstimo indexado à Euribor a três meses, a prestação será de 794,27 euros, mais 31,03 euros do que pagava desde a última revisão, em julho..Estes valores foram calculados tendo em conta as médias da Euribor no mês de agosto, de 4,030% a seis meses, 3,880% a três meses e 4,149% a 12 meses..vitor.cordeiro@dn.pt