A afirmação da direita
A afirmação da direita não pode ser feita enquanto mero contraponto da esquerda, como se fosse apenas o contrário daquela. Não há afirmação política duradoura que se sustente no princípio de que "sou o contrário daquilo que aquele defende". Esse princípio pressupõe uma subalternização, a prova da supremacia da esquerda, dando-lhe a posição a partir da qual se define o panorama político.
Assim exposta, a ideia parece consensual, mas tem surgido, não só a nível nacional, uma tese, defendida por gente que admiro, que diz que o domínio cultural e mediático da esquerda é tal que a direita, para vencer, tem de demolir as bandeiras que a esquerda agarra, mesmo em matérias em que pode haver convergência: se a esquerda defende o casamento gay, então a direita só é direita se for contra; se a esquerda anda com os refugiados na boca, só se é de direita se se contrariar esse discurso; se a esquerda ocupou o discurso na cultura, então há que desdenhar a cultura, etc. Estou a simplificar, porque há matizes, mas a ideia é essa, apostando numa perspetiva binária e identitária que tenho criticado: se não estás com Trump é porque estás com Michael Moore.
Como escrevi na semana passada, essa estratégia não só eterniza a posição central que a esquerda tem ocupado como afasta a direita das questões do nosso tempo, deixando as pessoas sem resposta e à mercê de populistas.
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Num mundo a viver a revolução digital e da inteligência artificial, onde milhões de empregos desaparecem e outros tantos são criados, que respostas tem a direita? Num tempo em que a esperança de vida aumenta notavelmente, criando desafios nos sistemas sociais, que respostas tem a direita? Num momento em que a ciência e a investigação se tornam essenciais para o progresso, que respostas tem a direita? Num planeta que enfrenta desafios climáticos, que respostas tem a direita? Num contexto em que pessoas e empresas se deslocam para onde tiverem melhores condições, que respostas tem a direita? Numa altura em que as competências a ensinar se alteraram, que respostas tem a direita? Numa época em que o ritmo laboral se transforma com a nova economia, que respostas tem a direita?
Estas são algumas das questões do nosso tempo e sobre elas a esquerda tem estado calada, alienada, a falar como se nenhuma destas transformações estivesse em curso e a afetar a vida das pessoas. É por aqui que a direita deve fazer a sua afirmação, surgindo como único projeto capaz de preparar as pessoas e as empresas para as enormes oportunidades e riscos deste mundo tão veloz. Em tempos tão incertos quanto desafiantes, vencerá quem apresentar respostas motivadoras, oferecendo a cada um a possibilidade de subir na vida, viver melhor, aproveitar as oportunidades.
Porque entende a economia de mercado, é a direita que está em melhores condições de apresentar essas respostas, surgindo como proposta progressista, cosmopolita, num mundo em que não há produtos, bens, serviços, que possam ser utilmente produzidos ou prestados com fronteiras fechadas: um projeto liderante, capaz de preparar pessoas, famílias e empresas para os grandes desafios, obrigando a esquerda a aparecer atrasada, incapaz de perceber o mundo, a confundir-se com o statu quo que nos impede de crescer.
Se a direita quer vencer política, cultural e mediaticamente a esquerda, tem de apresentar a proposta liderante, não a contraproposta reativa, amuada. E nessa afirmação deve usar de todo o vigor, toda a combatividade, sendo radical, expondo a alienação da esquerda, a sua incompreensão do mundo de hoje, a sua visão ultrapassada. Se a direita souber liderar estas respostas, será a esquerda a parecer um mero reflexo da direita.
Advogado e vice-presidente do CDS