Uma nota positiva, uma negativa e "uns copos"
A liderança do Parlamento carece de uma voz firme, com mundo, credibilidade e com independência. Augusto Santos Silva - eleito com 156 votos a favor, 63 brancos e 11 nulos - tem o perfil que é preciso para liderar a casa da democracia, mas terá de fazer um esforço redobrado em matéria de independência. Foi um ministro muito importante de António Costa, teve título de ministro de Estado e, muitas vezes, representou o chefe de governo em causas nacionais e internacionais. Tem 65 anos, é um homem da confiança do primeiro-ministro e foi uma peça determinante na forma como decorreu a presidência portuguesa da União Europeia. Distanciar-se do líder do Executivo e também secretário-geral do Partido Socialista vai ser a primeira grande prova de fogo de Santos Silva.
A vitória deste político português, com mais tempo em funções governativas ao longo de 48 anos de democracia, era já dada como certa. Ontem, no discurso de tomada de posse prometeu uma presidência "aglutinadora" e recordou ser um deputado eleito pelo círculo da emigração. Atacou os nacionalismos, foi aplaudido pelo PSD e IL, mas provocou agitação nas cadeiras ocupadas pelo Chega. "O discurso sem lugar aqui é o do ódio", sublinhou.
A segunda prova de fogo de Santos Silva será lidar com uma composição parlamentar atípica em Portugal, na qual as forças de direita ganharam peso, nomeadamente a extremista Chega, que passou a ter 12 deputados . Vamos ouvir essa dúzia de pessoas a tentar dar nas vistas, a gritar mais alto e fazer valer os seus argumentos de direita. Nem o presidente da Assembleia da República está treinado para isso, nem as restantes bancadas parlamentares. Vai ser interessante assistir na bancada dos media e nas televisões, com o escrutínio habitual e independente realizado pelos jornalistas.
Também na liderança das bancadas há novos protagonistas a testar argumentos, tons de voz e influência, portanto esta XV legislatura promete tudo menos monotonia. Eurico Brilhante Dias, pelo PS; Paulo Mota Pinto poderá ser o líder do PSD; Pedro Pinto pelo Chega; Rodrigo Saraiva da Iniciativa Liberal; Paula Santos pelo Partido Comunista Português; Pedro Filipe Soares pelo Bloco de Esquerda, terão a palavra e a chefia dos grupos políticos eleitos com assento no hemiciclo.
Depois de uma nota positiva a Santos Silva, uma nota negativa ao Capelão da Marinha, Licínio Luís, que perguntou ao Almirante Gouveia e Melo se "nunca bebeu uns copos?", desculpando os fuzileiros que espancaram até à morte um agente da PSP. Fê-lo numa publicação que escreveu no seu Facebook (realmente não há plataforma mais apropriada para um Capelão, com tamanha responsabilidade, para fazer tais declarações!), criticando o Chefe de Estado-Maior da Armada e relativizando o comportamento dos dois militares. Os portugueses até podem relativizar as críticas que faz ao Almirante, mas desculpar o comportamento dos fuzileiros, enfim...terá bebido "uns copos"? Com ou sem copos já foi exonerado.