Que "encontrão" o PSD tem de levar para Rui Rio "cair"?
Se tiver um resultado pior do que Pedro Passos Coelho em 2017 nas autárquicas, Rui Rio assume que será "um encontrão para cair". Mas que fasquia é essa que poderá levar o líder do PSD a atirar com a toalha ao chão e fazer o mesmo que o antecessor há quatro anos?
"A fasquia é, obviamente, artificialmente baixa", lembra António Costa Pinto. Isto porque em 2017, os sociais-democratas, sob o comando de Passos e com muitas escolhas pessoais do líder na corrida autárquica, teve dos piores resultados de sempre do PSD em eleições autárquicas.
O partido ficou-se pelas 98 autarquias e elegeu 13.050 pessoas, para câmaras, juntas ou assembleias municipais e de freguesia, quanto o PS reinava em 161. Sobretudo com o peso de uma derrota pesadíssima às costa em Lisboa, depois de ter escolhido Teresa Leal Coelho para encabeçar a lista do partido e a ter visto ficar em terceiro lugar, com apenas 11% dos votos, atrás dos 20% conquistados por Assunção Cristas, pelo CDS, Pedro Passos Coelho anunciou que não se recandidatava à liderança nas diretas do ano seguinte.
Rui Rio assumiu o partido e ainda não teve a oportunidade de uma vitória eleitoral. Na noite das eleições europeias, a 26 de maio de 2019, em que o partido se ficou pelos 21,94%, contra os 33,38% do PS, Rio assumiu que colocaria todas as fichas nas autárquicas, que considerou vitais para o PSD.
Agora é mais explícito a colocar o futuro político nas mãos do resultado eleitoral. E se tiver pior do que Passos? "Não é um encontrão para eu ir para a frente, é um encontrão para eu cair, como é lógico. Se eu estou a dizer que 2017 correu mal, imagine que 2021 sob a minha responsabilidade ainda cai pior, o encontrão que diz é para eu cair não é para eu andar para a frente", disse na segunda-feira durante a apresentação dos cabeças de lista aos municípios do distrito de Vila Real.
António Costa Pinto considera que estas declarações são coerentes com o que tem dito sobre o assunto. "Perante um resultado negativo nas autárquicas não é de supor que enfrente os seus desafiadores internos", frisa o politólogo.
Citaçãocitacao "Não é um encontrão para eu ir para a frente, é um encontrão para eu cair, como é lógico. Se eu estou a dizer que 2017 correu mal, imagine que 2021 sob a minha responsabilidade ainda cai pior, o encontrão que diz é para eu cair não é para eu andar para a frente"
Na sua opinião pesará mais o cômputo geral de câmaras conquistadas ou perdidas, do que o peso excessivo, sobretudo dos resultados em Lisboa e do Porto. "Apesar do russiagate, Rui Rio sabe que é um desafio significativo o combate em Lisboa contra Fernando Medina", diz António Costa Pinto. O mesmo se passará no Porto contra Rui Moreira, apesar do presidente da câmara e recandidato como independente, estar envolvido no processo judicial do caso Selminho.
"A questão que se vai colocar a Rio é se o PSD conseguirá recuperar globalmente os eleitos para as autarquias neste próximo ato eleitoral", considera o politólogo.
Rio confrontar-se-á também com o facto de ter feito escolhas pessoais para algumas autarquias, como a de Sintra em que apostou em Ricardo Batista Leite (em detrimento de Marco Almeida) ou para a de Coimbra em que pôs as fichas no ex-bastonário da ordem dos Médicos José Manuel Silva (em vez de Nuno Freitas).
Mas também em Lisboa e Porto - municípios onde pesa sempre a vontade da direção nacional do partido - os candidatos terão de reconquistar votos perdidos. Na capital, Carlos Moedas corre coligado ao CDS (mais PPM/MPT e Aliança) e verá as contas do partido serem feitas na soma das partes, ou seja, pelo menos os 20% arrecadados por Assunção Cristas em 2017 e os 11% de Teresa Leal Coelho.
No Porto, Vladimiro Feliz tem tarefas menos espinhosa, já que lhe bastará superar os 10,39% que o partido conseguiu há quatro anos contra Rui Moreira.
Seguindo a tendência das autárquicas de 2013, o PSD foi perdendo gás na representação dos órgãos autárquicos nas eleições de 2017. Eleições que ditaram a queda de Passos Coelho.
98
Pela segunda vez seguida em dois atos eleitorais, o PSD ficou muito atrás do PS em número de câmara nas autárquicas de 2017. Só arrecadou 98, contra as 161 dos socialistas, muitas em coligação com o CDS. Manteve a liderança em seis capitais de distrito: Aveiro, Braga, Bragança, Guarda, Santarém e Viseu e Ponta Delgada, nos Açores.
13.050
Há quatro anos, os sociais-democratas conseguiram eleger para os vários órgãos autárquicos - câmara municipal, assembleia municipal e juntas de freguesia, 13.050 pessoas. Estes cargos são muito importante para manter coeso o partido e a sua implantação no país.
1165
Nas autárquicas de 2017, o PSD ainda liderado por Pedro Passos Coelho conseguiu conquistar 1165 juntas de freguesia sozinho e em coligação. Em Lisboa escaparam-lhes todas e em nenhuma ficou em segundo lugar.
11
Há quatro anos, os sociais-democratas consequiramconquistar um total de 11 municípios que antes estavam nas mãos dos socialistas, ainda assim ficou com menos oito autarquias do que em 2013.