Exportações a caminho da pior marca dos últimos 40 anos
Principais clientes de Portugal terão neste ano recessões semelhantes ou piores. Durante o período de confinamento, a economia alemã contraiu 16% e o PIB dos EUA encolheu 4,8% no primeiro trimestre.

© EPA/Mario Cruz
No início deste ano, as empresas exportadoras portuguesas apontavam para um crescimento de 2,1% das suas vendas ao exterior em relação a 2019, de acordo com um inquérito do Instituto Nacional de Estatística. Para maio está previsto um novo questionário e, a contar pelas mais recentes projeções, as perspetivas devem cair a pique.
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Para já, o Banco de Portugal foi a única instituição oficial a publicar previsões para as exportações nacionais para este ano. E são sombrias: de acordo com o banco central nacional, as vendas de bens e serviços ao exterior devem cair 12,1% face a 2019, ano em que avançaram a um ritmo de 3,7%. Será uma quebra superior à da anterior crise económica. A confirmar-se, será o pior desempenho das exportações nos últimos 40 anos. Na era democrática, só em 1975, ano depois da revolução, as exportações caíram mais (-15,6%).
Mas este é o cenário-base, porque num quadro mais adverso a quebra pode chegar aos 19,1%. Seria a pior marca em termos de variação anual de que há registo nas séries históricas.
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Mas, fora das instituições oficiais, as previsões apontam para uma verdadeira hecatombe nas vendas ao exterior. De acordo com o Núcleo de Estudos da Universidade Católica, por exemplo, as exportações podem ter uma quebra próxima dos 36% em relação a 2019.
O comércio internacional deverá contrair quase 13% e isso significa menos trocas entre os países. Mesmo assim, de acordo com as previsões da Organização Mundial do Comércio, a Europa, onde se encontram os principais clientes dos produtos portugueses, não deverá ser a mais fustigada.
Também a Direção-Geral do Comércio da Comissão Europeia prevê uma contração forte das exportações. "Para a UE27, a contração económica prevista relacionada com a covid-19 deverá corresponder a uma redução de 9,2% nas exportações de bens e serviços extra-UE27 e uma redução de 8,8% nas importações extra-UE27 em 2020", indica a nota publicada na semana passada.
Exportações não salvam economia
Desta vez, porque a crise apanha todos os países, nem as exportações, que pesam cerca de 45% da riqueza do país, poderão valer à economia portuguesa. Nos últimos anos, as vendas ao exterior (bens e serviços, sobretudo turismo) têm sido um dos pilares da recuperação económica. Mas desta vez é diferente.
Ao contrário do que aconteceu na crise financeira de 2011, os principais parceiros também enfrentam uma recessão sem precedentes com quebras brutais do PIB. É uma crise simétrica e apanha todos os países, uns de forma mais profunda do que outros, mas nenhum escapa.
De acordo com as previsões do FMI, os dez principais destinos das exportações portuguesas vão entrar em recessão em 2020 e isso significa economias mirradas pela quebra da procura, desemprego e maior incerteza para fazer investimentos.
Espanha é o principal destino das exportações nacionais, com uma quota de cerca de um quinto de todas as vendas. O país vizinho terá uma quebra do produto semelhante a Portugal (8%). Em segundo lugar surge a França, para onde seguem perto de 13% das exportações, depois Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos.
Os dados já conhecidos indicam uma quebra do PIB na Alemanha de 16% durante o período de confinamento e nos EUA o PIB terá contraído quase 5%, mais do que o esperado pelos analistas. São cifras pouco animadoras para as empresas portuguesas que têm no mercado externo a grande alavanca da atividade - e muitas estão com paragem total ou parcial da atividade.
O Jornal de Negócios dava conta, no início desta semana, que das dez maiores exportadoras apenas uma - a Repsol Polímeros - não teve a produção afetada neste período. Neste lote de exportadoras encontra-se a Autoeuropa, a Navigator, a Petrogal, a Continental Mabor ou a Bosch, que anunciou, entretanto, uma paragem total da unidade de Braga durante 11 dias, até ao final de abril.