Vinho. Produção de 2018 será a mais baixa do milénio

Colheita deverá ser 22% inferior à do ano passado, e Portugal volta a estar em contraciclo com a Europa.
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Desde 2000, pelo menos, que não se produzia tão pouco vinho em Portugal. As previsões apontam para uma colheita total de apenas 5,3 milhões de hectolitros, menos 22% do que a produção da campanha de 2017. A culpa foi da primavera chuvosa, que criou condições particularmente propícias ao desenvolvimento das doenças da vinha, como o míldio e o oídio, mas também à onda de calor de agosto. A Organização Mundial da Vinha e do Vinho fala na produção "mais baixa dos últimos seis anos", mas, na verdade, é a mais baixa do milénio. Nestes 19 anos, só em três Portugal havia produzido menos de seis milhões de hectolitros: em 2008, 2009 e 2011.

O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) reconhece que é uma "redução importante" e em "contraciclo com o resto da Europa", mas que "não é alarmante". Francisco Toscano Rico admite que haja "situações individuais preocupantes", mas lembra que, no global, o país tem uma campanha e meia de stocks, ou seja, o equivalente a um ano e meio de produção, que "constitui uma almofada importante" e que permitirá que o mercado "continue a funcionar".

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As exportações nacionais de vinho têm crescido sucessivamente desde 2011, com um ligeiro interregno em 2016, atingindo no ano passado o valor mais elevado de sempre: 779 milhões de euros. E, neste ano, os números até agosto mostram um crescimento homólogo de 6,9%, comportamento que o presidente do IVV classifica de "francamente bom", sublinhando, no entanto, que "o grande objetivo do setor, nos próximos anos, passa por valorizar mais o preço médio dos vinhos".

Quanto à colheita de 2018, Francisco Toscano Rico assume que os números são ainda provisórios e, só depois de terminado o período de entrega das declarações de produção, em novembro, é que será possível ter uma caracterização "mais exaustiva" da situação do país e de cada uma das suas regiões vitivinícolas. Certo é que a falta de uvas levou já a um aumento do preço. "É a lei da oferta e da procura a funcionar e implica que a perda dos viticultores poderá ter sido, pelo menos parcialmente, atenuada por esta via", refere. Qualitativamente tudo indica que será um bom ano, a crer na "confiança dos enólogos face ao que estão a receber nas adegas".

O presidente do IVV destaca, ainda, a importância dos viticultores disporem de seguros de colheitas, lembrando que Portugal "é o país da Europa que maiores verbas comunitárias afeta" ao financiamento dos custos destas apólices. "Não esqueçamos que a maior apólice coletiva de seguros de colheita na Europa é da responsabilidade da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes", lembrou, adiantando que, no total, 25% da área de vinha do continente esteve neste ano coberta por seguro de colheitas. Toscano Rico reconhece que as apólices "não são baratas", apesar de a ajuda comunitária poder chegar aos 80%, no entanto, frisa: "É a melhor proteção ao investimento e ao rendimento dos viticultores."

Ano de fartura a nível mundial

A nível mundial, o ano será de fartura, com uma produção total estimada de 282 milhões de hectolitros, um aumento de 12% face a 2017. A OIV admite que se trata de uma das produções "mais elevadas desde 2000". De facto, só em três ocasiões o mundo vitivinícola produziu mais: em 2004, em 2006 e em 2013 com produções totais de 298, 283 e 290 milhões de hectolitros, respetivamente.

Para esta performance foram determinantes as colheitas "muito elevadas" registadas neste ano entre os maiores produtores de vinho do mundo: Itália (+14%), França (+27%), Espanha (+26%), Argentina (+23%) e Chile (+36%). Não há, ainda, números relativos à China, que ocupa já a sexta posição na tabela. Os Estados Unidos só esperam crescer 2%, enquanto a Austrália e a África do Sul registam quebras de, respetivamente, 9% e 12%. Na Europa, só Portugal e a Grécia têm vindimas inferiores às de 2017.

Importante a ter em conta é que, já no ano passado, Portugal tivera um comportamento em contraciclo, com uma colheita 10% superior à de 2016; a produção mundial caiu 8% em 2017, para 251 milhões de hectolitros, um valor "historicamente baixo", alertou então a OIV.

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