Um caminho para a Europa e outro para a continuidade

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Já aqui analisei a composição do novo governo. Volto hoje ao tema por já conhecermos todos os secretários de Estado que vão integrar os ministérios que compõem a nova orgânica. Não é demais lembrar que este é um Executivo paritário e também mais político do que técnico (veja-se a troca nas Finanças, de João Leão para Fernando Medina) e recordar ainda que a maioria dos nomeados são fiéis seguidores do primeiro-ministro, António Costa. Aliás, o único dos "seus" que lhe poderá fazer voz grossa será Pedro Nuno Santos, tantas vezes apontado como sucessor de Costa no Partido Socialista. Depois, gozam de estado de graça e de liberdade as independentes nomeadas para a Defesa ou a Ciência e Ensino Superior. Que o aparelho não as amarre e que continuem espíritos livres e construtivamente críticas.

Voltemos aos secretários de Estado: foram nomeados 38 e há uma certa continuidade, já que 23 são os mesmos nomes e há 15 novos. Entre os que continuam a vestir esta pele destaca-se Tiago Antunes, um homem da confiança do primeiro-ministro que abraça agora os Assuntos Europeus (uma nova pasta, na alçada direta de Costa) e preparará bem o terreno para um trilho que poderá levar Costa até às instâncias europeias, cujas lideranças vão estar em aberto em 2024. Seja para a Comissão Europeia seja para o Conselho Europeu, o atual primeiro-ministro está bem preparado. Para o último, já chegou a ser convidado em 2019, tendo declinado. Mas agora o homem e o seu contexto são diferentes e tudo está em jogo. Ora, quem melhor do que Tiago Antunes para tratar da pasta e preparar o eventual futuro líder europeu? Até já há sucessora de Costa para continuar a legislatura, a superministra Mariana Vieira da Silva, que sai largamente reforçada na nova composição, pelo que o país não ficaria a viver um vazio... resta saber ainda é se o Presidente da República convocaria ou não eleições antecipadas. Se o fizer, o PS tem de ir à luta sem Costa, mas o maior desafio será colocado à família partidária de Marcelo Rebelo de Sousa, o PSD, que terá de fazer prova de vida.

Voltando à realidade, e deixando em banho-maria os cenários hipotéticos na Europa, são reconduzidos vários nomes como secretários de Estado - alguns até constaram em listas não-oficiais de potenciais ministros -, como Patrícia Gaspar, na Proteção Civil, Mendonça Mendes, nos Assuntos Fiscais, João Nuno Mendes, no Tesouro, João Neves, na Economia, Rita Marques, que junta agora ao Turismo o Comércio e Serviços, Lacerda Sales, na Saúde, e João Galamba, no Ambiente e Energia, entre outros. São secretários de Estado que dominam bem os dossiês e que, com velho ou com novo ministro, vão segurar as casas onde trabalham. Entre os novos, há que esperar para ver, mas as expectativas são altas em relação, por exemplo, a Bernardo Ivo Cruz, especialista em Relações Internacionais e colunista do DN.

Amanhã, quarta-feira, o novo Executivo tomará posse no Palácio de Belém, pelas 17 horas, onde se aguarda um ambiente ainda nublado e com alguma tensão no ar, depois de o Presidente da República ter conhecido a lista de nomes para o governo pela comunicação social, tal como declarou. Que passem as nuvens e a incerteza, o país não precisa de uma meteorologia indefinida.

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