Argelinos e sudaneses revoltaram-se contra os dois homens-fortes que os governaram durante anos a fio, mas continuam nas ruas a tentar demover os respetivos Exércitos. A República Checa (ou Chéquia, como passou a ser designado) e as Honduras estão a milhares de quilómetros de distância, mas os povos estão irmanados contra governantes sob suspeita. No Brasil e em Hong Kong, os cidadãos lutam pelos direitos, e na Geórgia o sentimento de humilhação desencadeou uma crise que envolve a Rússia..Impasse na Argélia.Todas as terças e sextas-feiras, os argelinos pedem nas ruas a transição para um Estado de direito e a democratização depois de o fragilizado Abdelaziz Bouteflika ter desistido de concorrer a um quinto mandato e, por fim, abandonado o cargo presidencial. Mais do que ao presidente interino Abdelkader Bensalah, as manifestações tem outro destinatário. "Rua com o sistema" e "A Argélia não é uma caserna" são palavras de ordem dirigidas a um regime controlado pelos militares e em especial o seu chefe, Gaid Salah..Ao proibir outras bandeiras além da nacional nas manifestações, o Exército estará a apostar no enfraquecimento do protesto de forma a manter o controlo da agenda (foram presos 20 estudantes por brandirem a bandeira amazigue (dos berberes que constituem um quarto da população e que só em 2016 viram a sua língua reconhecida como nacional). As eleições chegaram a estar marcadas para 4 de julho, mas foram adiadas. Há um vazio na sociedade civil para lá da aparente unidade em torno de uma abertura democrática. No próximo sábado há uma conferência nacional de diálogo presidida por um diplomata que fez oposição a Bouteflika. O objetivo é criar "mecanismos de saída da crise" para se realizarem as eleições "num prazo razoável"..Brasileiros divididos nos protestos.Um presidente e um governo extremista polarizam a sociedade brasileira. Exemplo: o ministro da Educação, Abraham Weintraub, perante o escândalo da detenção do militar que seguia na comitiva de Jair Bolsonaro com 39 quilos de cocaína, respondeu que "no passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?" Perante uma política de cortes na educação e na ciência e numa guerra cultural aberta, estudantes e professores manifestaram-se um pouco por todo o país em várias ações ao longo do mês de maio..Mas também há ajuntamentos de apoio a Bolsonaro ou ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Os movimentos Vem Pra Rua, Nas Ruas e Brasil Livre estão a organizar uma manifestação neste domingo em defesa da investigação Lava-Jato, apesar da divulgação de mensagens entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol, por parte do Intercept, que demonstram a orientação das investigações por parte de Moro, que "representa a ideia de combate à corrupção e à impunidade", segundo a líder do Vem Pra Rua, Adelaide Oliveira..Checos indignados com PM bilionário.Dezassete horas de debate volvidas e a moção de censura ao primeiro-ministro Andrej Babis, já na madrugada de quinta-feira, fracassou. A oposição não conseguiu o apoio dos sociais-democratas (que fazem parte da coligação com o ANO, o partido populista do bilionário) para materializar o descontentamento da população. No domingo, uma multidão avaliada em mais de 250 mil pessoas juntou-se no Parque Letna, em Praga, para a maior manifestação desde a Revolução de Veludo, em 1989, que ocorreu no mesmo local..As autoridades policiais concluíram que Babis, de 64 anos, deve ser acusado de fraude na obtenção de um subsídio de dois milhões de euros da União Europeia, há dez anos. Mas a nomeação de um novo ministro da Justiça logo após a declaração da Polícia levou a que os checos suspeitassem das intenções de Babis, que nega ter feito algo de errado. Até ao final do ano, a Comissão Europeia vai também finalizar auditorias cujas conclusões preliminares mostraram que Babis tinha um conflito de interesses e que algumas das suas antigas empresas receberam ilegalmente milhões de euros da UE..Um deputado russo enfureceu a Geórgia.Um deputado russo presidiu à Assembleia Interparlamentar de Ortodoxia no Parlamento da Geórgia - e em consequência sentou-se no lugar do presidente. Não seria nada de especial não se desse o caso de Moscovo ter invadido aquele país do Cáucaso em 2008 e levado à declaração da independência da Abecásia e da Ossétia do Sul, duas regiões separatistas pró-russas..No dia 20, uma multidão juntou-se em frente ao Parlamento, em Tbilisi, e, perante a tentativa de invasão do edifício, a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogéneo, tendo deixado centenas de feridos, alguns em estado grave. Mas os georgianos não dispersaram e continuaram naquela noite e nas seguintes o seu grito de raiva contra a presença russa, mas também a pedir a demissão do presidente do Parlamento (o que acabou por suceder) e do ministro do Interior, devido ao uso da força policial. As consequências do incidente não se ficam por aqui. O Parlamento retirou a imunidade a um deputado, acusado de orquestrar protestos. E o presidente russo Vladimir Putin deu instruções para as agências de viagem suspenderem as atividades na Geórgia, tal como suspendeu todos os voos de e para aquele país, a partir de 8 de julho..Honduras de golpe em golpe.Na sexta-feira passaram dez anos do golpe que afastou Manuel Zelaya do poder e os hondurenhos saíram à rua para se manifestar, como têm feito desde abril, mas com mais intensidade nas últimas semanas. Protestam contra o presidente Juan Orlando Hernández, que tem cortado nas despesas públicas, e que previa avançar com reestruturações nas áreas da saúde e da educação - mais cortes, despedimentos e privatizações no horizonte. Médicos e professores saíram às ruas, a que se juntaram estudantes, agricultores, motoristas e polícias. A resposta foi dura, com os militares a saírem à rua para reprimir a revolta popular. JOH, como também é conhecido o presidente, acabou por suspender as reformas, mas não acalmou os seus opositores, que exigem a sua demissão..Em 2017, JOH candidatou-se a um segundo mandato, proibido pela Constituição, mas o apoio dos militares e dos Estados Unidos falou mais alto. Em 2009, os militares afastaram Zelaya porque este ia levar a plebiscito a revisão da Constituição, de forma a prever a recandidatura do chefe do Estado. Nas eleições de 2017, não bastasse o atropelo ao Estado de direito, os observadores internacionais deram razão às queixas de irregularidades por parte da oposição. Hernández, que tem o irmão preso nos Estados Unidos, suspeito de tráfico de droga, também foi investigado pelas autoridades norte-americanas..Hong Kong contra a mão de Pequim."O governo está sempre a dizer "não faça isto e não faça aquilo". Nós também queremos dizer ao governo "não prossigam nenhuma política de que não gostamos". Mas ela [Carrie Lam, chefe do governo de Hong Kong] não nos ouviu."As palavras são de um manifestante, Paul Chan, que na sexta-feira voltou às ruas, junto de outros, nas imediações do executivo, em protesto contra a lei da extradição. Carrie Lam suspendeu a discussão da controversa lei, mas os seus opositores exigem que seja abolida..Milhões de pessoas saíram às ruas nas últimas semanas em defesa dos seus direitos e liberdades e nesta semana manifestaram-se junto dos consulados de países presentes no G20 com o intuito de levar o tema à cimeira que decorre em Osaka. Ao passar, em 1997, das mãos britânicas para chinesas, Hong Kong passou a ser administrado sob a fórmula "um país, dois sistemas", o que inclui um sistema judicial independente. Mas o projeto de lei pode levar à extradição de opositores ao regime de Pequim..Sudão sem Bashir, mas com os militares.Os ativistas que lideraram quatro meses de protestos contra o aumento do custo de vida e, em consequência, contra Omar al-Bashir, o homem que esteve 30 anos à frente do país, marcaram uma manifestação "de um milhão de pessoas" para domingo. A tomada das ruas passou a ser menos frequente desde o dia 3, quando as forças de segurança reprimiram uma concentração junto ao Ministério da Defesa que terminou com mais de cem mortos..Na quinta-feira, estudantes e advogados voltaram às ruas. Gás lacrimogéneo obrigou os primeiros a dispersar em Cartum, enquanto em Ondurmã, cidade vizinha da capital, os segundos entoaram cânticos pela liberdade, paz, justiça e por um governo civil. Os militares que puseram fim ao governo de um homem procurado pelo Tribunal Penal Internacional não parecem interessados em ceder o poder, e para isso contam com o apoio da Arábia Saudita e dos Emirados, mas também da Rússia e da China, que no Conselho de Segurança da ONU vetaram uma condenação ao massacre dos cem manifestantes sudaneses.
Argelinos e sudaneses revoltaram-se contra os dois homens-fortes que os governaram durante anos a fio, mas continuam nas ruas a tentar demover os respetivos Exércitos. A República Checa (ou Chéquia, como passou a ser designado) e as Honduras estão a milhares de quilómetros de distância, mas os povos estão irmanados contra governantes sob suspeita. No Brasil e em Hong Kong, os cidadãos lutam pelos direitos, e na Geórgia o sentimento de humilhação desencadeou uma crise que envolve a Rússia..Impasse na Argélia.Todas as terças e sextas-feiras, os argelinos pedem nas ruas a transição para um Estado de direito e a democratização depois de o fragilizado Abdelaziz Bouteflika ter desistido de concorrer a um quinto mandato e, por fim, abandonado o cargo presidencial. Mais do que ao presidente interino Abdelkader Bensalah, as manifestações tem outro destinatário. "Rua com o sistema" e "A Argélia não é uma caserna" são palavras de ordem dirigidas a um regime controlado pelos militares e em especial o seu chefe, Gaid Salah..Ao proibir outras bandeiras além da nacional nas manifestações, o Exército estará a apostar no enfraquecimento do protesto de forma a manter o controlo da agenda (foram presos 20 estudantes por brandirem a bandeira amazigue (dos berberes que constituem um quarto da população e que só em 2016 viram a sua língua reconhecida como nacional). As eleições chegaram a estar marcadas para 4 de julho, mas foram adiadas. Há um vazio na sociedade civil para lá da aparente unidade em torno de uma abertura democrática. No próximo sábado há uma conferência nacional de diálogo presidida por um diplomata que fez oposição a Bouteflika. O objetivo é criar "mecanismos de saída da crise" para se realizarem as eleições "num prazo razoável"..Brasileiros divididos nos protestos.Um presidente e um governo extremista polarizam a sociedade brasileira. Exemplo: o ministro da Educação, Abraham Weintraub, perante o escândalo da detenção do militar que seguia na comitiva de Jair Bolsonaro com 39 quilos de cocaína, respondeu que "no passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?" Perante uma política de cortes na educação e na ciência e numa guerra cultural aberta, estudantes e professores manifestaram-se um pouco por todo o país em várias ações ao longo do mês de maio..Mas também há ajuntamentos de apoio a Bolsonaro ou ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Os movimentos Vem Pra Rua, Nas Ruas e Brasil Livre estão a organizar uma manifestação neste domingo em defesa da investigação Lava-Jato, apesar da divulgação de mensagens entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol, por parte do Intercept, que demonstram a orientação das investigações por parte de Moro, que "representa a ideia de combate à corrupção e à impunidade", segundo a líder do Vem Pra Rua, Adelaide Oliveira..Checos indignados com PM bilionário.Dezassete horas de debate volvidas e a moção de censura ao primeiro-ministro Andrej Babis, já na madrugada de quinta-feira, fracassou. A oposição não conseguiu o apoio dos sociais-democratas (que fazem parte da coligação com o ANO, o partido populista do bilionário) para materializar o descontentamento da população. No domingo, uma multidão avaliada em mais de 250 mil pessoas juntou-se no Parque Letna, em Praga, para a maior manifestação desde a Revolução de Veludo, em 1989, que ocorreu no mesmo local..As autoridades policiais concluíram que Babis, de 64 anos, deve ser acusado de fraude na obtenção de um subsídio de dois milhões de euros da União Europeia, há dez anos. Mas a nomeação de um novo ministro da Justiça logo após a declaração da Polícia levou a que os checos suspeitassem das intenções de Babis, que nega ter feito algo de errado. Até ao final do ano, a Comissão Europeia vai também finalizar auditorias cujas conclusões preliminares mostraram que Babis tinha um conflito de interesses e que algumas das suas antigas empresas receberam ilegalmente milhões de euros da UE..Um deputado russo enfureceu a Geórgia.Um deputado russo presidiu à Assembleia Interparlamentar de Ortodoxia no Parlamento da Geórgia - e em consequência sentou-se no lugar do presidente. Não seria nada de especial não se desse o caso de Moscovo ter invadido aquele país do Cáucaso em 2008 e levado à declaração da independência da Abecásia e da Ossétia do Sul, duas regiões separatistas pró-russas..No dia 20, uma multidão juntou-se em frente ao Parlamento, em Tbilisi, e, perante a tentativa de invasão do edifício, a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogéneo, tendo deixado centenas de feridos, alguns em estado grave. Mas os georgianos não dispersaram e continuaram naquela noite e nas seguintes o seu grito de raiva contra a presença russa, mas também a pedir a demissão do presidente do Parlamento (o que acabou por suceder) e do ministro do Interior, devido ao uso da força policial. As consequências do incidente não se ficam por aqui. O Parlamento retirou a imunidade a um deputado, acusado de orquestrar protestos. E o presidente russo Vladimir Putin deu instruções para as agências de viagem suspenderem as atividades na Geórgia, tal como suspendeu todos os voos de e para aquele país, a partir de 8 de julho..Honduras de golpe em golpe.Na sexta-feira passaram dez anos do golpe que afastou Manuel Zelaya do poder e os hondurenhos saíram à rua para se manifestar, como têm feito desde abril, mas com mais intensidade nas últimas semanas. Protestam contra o presidente Juan Orlando Hernández, que tem cortado nas despesas públicas, e que previa avançar com reestruturações nas áreas da saúde e da educação - mais cortes, despedimentos e privatizações no horizonte. Médicos e professores saíram às ruas, a que se juntaram estudantes, agricultores, motoristas e polícias. A resposta foi dura, com os militares a saírem à rua para reprimir a revolta popular. JOH, como também é conhecido o presidente, acabou por suspender as reformas, mas não acalmou os seus opositores, que exigem a sua demissão..Em 2017, JOH candidatou-se a um segundo mandato, proibido pela Constituição, mas o apoio dos militares e dos Estados Unidos falou mais alto. Em 2009, os militares afastaram Zelaya porque este ia levar a plebiscito a revisão da Constituição, de forma a prever a recandidatura do chefe do Estado. Nas eleições de 2017, não bastasse o atropelo ao Estado de direito, os observadores internacionais deram razão às queixas de irregularidades por parte da oposição. Hernández, que tem o irmão preso nos Estados Unidos, suspeito de tráfico de droga, também foi investigado pelas autoridades norte-americanas..Hong Kong contra a mão de Pequim."O governo está sempre a dizer "não faça isto e não faça aquilo". Nós também queremos dizer ao governo "não prossigam nenhuma política de que não gostamos". Mas ela [Carrie Lam, chefe do governo de Hong Kong] não nos ouviu."As palavras são de um manifestante, Paul Chan, que na sexta-feira voltou às ruas, junto de outros, nas imediações do executivo, em protesto contra a lei da extradição. Carrie Lam suspendeu a discussão da controversa lei, mas os seus opositores exigem que seja abolida..Milhões de pessoas saíram às ruas nas últimas semanas em defesa dos seus direitos e liberdades e nesta semana manifestaram-se junto dos consulados de países presentes no G20 com o intuito de levar o tema à cimeira que decorre em Osaka. Ao passar, em 1997, das mãos britânicas para chinesas, Hong Kong passou a ser administrado sob a fórmula "um país, dois sistemas", o que inclui um sistema judicial independente. Mas o projeto de lei pode levar à extradição de opositores ao regime de Pequim..Sudão sem Bashir, mas com os militares.Os ativistas que lideraram quatro meses de protestos contra o aumento do custo de vida e, em consequência, contra Omar al-Bashir, o homem que esteve 30 anos à frente do país, marcaram uma manifestação "de um milhão de pessoas" para domingo. A tomada das ruas passou a ser menos frequente desde o dia 3, quando as forças de segurança reprimiram uma concentração junto ao Ministério da Defesa que terminou com mais de cem mortos..Na quinta-feira, estudantes e advogados voltaram às ruas. Gás lacrimogéneo obrigou os primeiros a dispersar em Cartum, enquanto em Ondurmã, cidade vizinha da capital, os segundos entoaram cânticos pela liberdade, paz, justiça e por um governo civil. Os militares que puseram fim ao governo de um homem procurado pelo Tribunal Penal Internacional não parecem interessados em ceder o poder, e para isso contam com o apoio da Arábia Saudita e dos Emirados, mas também da Rússia e da China, que no Conselho de Segurança da ONU vetaram uma condenação ao massacre dos cem manifestantes sudaneses.