A política, o Estado, os países também são feitos de símbolos. E nisto dos símbolos, Portugal anda um pouco destreinado e esquecido. A esquerda tem sobre a ideia de Portugal complexos de esquerda e a direita tem sobre a ideia de Portugal complexos de direita. E lá fica Portugal como símbolo na gaveta..Das poucas medidas de peso fortemente simbólico que a direita e a esquerda não se abstiveram de tomar, são precisamente estas relativas ao regresso dos emigrantes. Desde o programa Valorização do Empreendedorismo Emigrante (VEM), criado no governo de Passos Coelho pelo secretário de Estado Pedro Lomba, aos benefícios fiscais agora aprovados pelo governo de António Costa, estamos perante a mesma política..No fundo, mostrar aos portugueses que estão lá fora que continuam a ser bem-vindos aqui, com isto afagando a sua saudade e a das suas famílias e amigos, acalentando a esperança. Mostrar que o país não os esquece, não os renega, políticas públicas que são como as mãos do pai do filho pródigo no retrato de Rembrandt, paradoxalmente a imagem do antipaternalismo..É neste plano que situo estas políticas de atração de emigrantes, sendo quase irrelevante a discussão sobre o concreto, se funcionam, se não funcionam, se o benefício é grande ou pequeno, se vai ou não atrair emigrantes, pontos percentuais, casos pontuais. Cair nessa armadilha não tem saída, todos sabemos a complexidade da decisão das pessoas, da decisão de sair, da decisão de voltar, mas é precisamente nesse complexo processo de decisão que um gesto simbólico também ajuda..O desafio é comunicar estas medidas sem ser contra ninguém, não achando que os que voltam são melhores do que os que não voltam, ou que uns os expulsaram e apenas outros os querem de volta, ou que os que ficaram mereceram mais do que os que saíram. E nunca esquecer que não há liberdade mais absoluta do que sair e não voltar..Advogado