As eleições europeias são as mais propícias ao aparecimento de candidaturas extremistas ou populistas. E a culpa da vulnerabilidade dessas eleições não é dos populistas. Esses são responsáveis pelo discurso, mas aproveitam um contexto oferecido de bandeja. Por quatro razões..1 A União Europeia, com os seus defeitos, representa, para a maioria da população, a sociedade aberta, a economia de mercado. Ora, essas realidades têm sido pifiamente defendidas. Ao contrário dos detratores, cheios de certezas, os apoiantes da economia de mercado têm-se perdido no meio de tantas adversativas que é impossível transmitir liderança. Estas eleições agregam, pois, todos os que, nos extremos, defendem sociedades fechadas e anticapitalistas. Não são esses os mais motivados?.2 Convencionou-se que uma visão crítica da União correspondia a uma espécie de eurofobia, nacionalismo. Haverá disso, com certeza; mas há, no europeísmo, um espaço para a divergência. Eu sempre me senti pouco atraído por uma tendência hiper-regulatória ou federalista, que nunca me fez antieuropeu. Mas quantos não foram levados a pensar que a sua visão crítica só cabia fora do consenso europeu?.3 Não houve partido que não utilizasse Bruxelas como desculpa ou pretexto para medidas impopulares. Não é possível construir um discurso europeísta, federalista ou não, quando se passaram anos a culpar Bruxelas. Significa que a União é perfeita? Não. Significa que não é culpada por tudo, e nem sempre do que se lhe atribui. E que fazem os populistas com o belo inimigo externo que durante anos fomos criando?.4 Sendo intercalares, percebidas como irrelevantes, e com sistemas eleitorais que favorecem a eleição de várias forças, as eleições europeias convertem-se nas mais apetecíveis para votos de protesto e para o surgimento, com sucesso, de novas forças, que ganham projeção. São eleições difíceis para quem rejeita os extremos e encontra conforto na moderação e na sensatez. Mas não vale a pena chover no molhado. Há que construir um discurso que inspire as pessoas, que as faça acreditar que os desafios que temos são mais bem vencidos no contexto de uma União do que fora dela. Para isso, convinha largar as adversativas na defesa da sociedade aberta e da economia de mercado..Advogado e vice-presidente do CDS