Freguesias mais baratas de Lisboa e Porto têm menos de 30 casas para arrendar
Oito quilómetros separam as duas pontas da Linha Amarela do metro. De um lado, é possível arrendar cem metros quadrados por 830 euros; no extremo oposto, o mesmo espaço custa mais 570 euros. As freguesias lisboetas de Santa Clara e Santo António estão a 20 minutos de distância, mas há um mundo de diferença entre quem pode lá morar.
A Freguesia de Santa Clara é a mais barata da capital, com preços de arrendamento 30% abaixo da média da cidade. Segundo os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicados nesta quarta-feira, em 2018 o metro quadrado da freguesia mais a norte da capital custava 8,31 euros. Num ano, aumentou quase 22%. Face à Freguesia de Santo António, que revalidou o título de mais cara do país, a diferença de preços é de quase 70%.
Com preços mais acessíveis e transportes diretos para o centro, não falta quem queira morar em Santa Clara. O que faltam são casas para arrendar. Uma pesquisa pelos principais agregadores de anúncios de imóveis revela que há menos de 30 habitações disponíveis na freguesia. Os preços oscilam entre os 600 e os 1400 euros por mês. Segundo os dados do INE relativos a 2017, Santa Clara é uma das cinco freguesias lisboetas onde por ano são assinados menos contratos de arrendamento. Nesse ano foram celebrados 176 novos contratos, o que corresponde a 2,5% do total de registos em Lisboa.
Além de um aumento generalizado dos preços das rendas (ver infografia), os dados do INE para 2018 evidenciam uma descida do número de novos arrendamentos em todo o país. No ano que passou foram assinados menos de 78 mil contratos, o que compara com mais de 84 mil registados no ano anterior. Em Lisboa, as freguesias mais baratas, como Marvila e Beato, são também as que mais sentem a falta de oferta. No Beato, os portais de imobiliário têm 20 casas para arrendar.
"O Beato era uma zona esquecida pelo resto da cidade, mas nos últimos tempos, devido a projetos como o Hub Criativo, tem despertado o interesse dos investidores. Os preços aumentaram muito por isso, tanto no arrendamento como na venda de casas", sublinha Silvino Correia, presidente da Junta de Freguesia do Beato, em declarações ao Dinheiro Vivo.
Segundo o autarca, as casas vazias da freguesia nem sequer chegam ao mercado de arrendamento. "Há muita apetência para comprar e os senhorios nem consideram arrendar. Preferem vender logo. Ficou-me na memória um T1 a precisar de obras que foi vendido por 180 mil euros. Há uns anos era impensável. Há dez anos as pessoas que tinham casas ali achavam que tinham um peso morto", destaca Silvino Correia, considerando que a elevada procura trouxe com ela o "aspeto positivo da recuperação dos imóveis que estavam muito degradados".
A norte o cenário é semelhante. Em toda a Área Metropolitana do Porto foram assinados no ano passado mais de 13 mil novos contratos de arrendamento, menos 900 face ao ano anterior. No município os preços aumentaram 16%.
"Há sete ou oito anos havia senhorios a ligar para o nosso gabinete a perguntar se sabíamos de pessoas interessadas nas casas que eles tinham para arrendar. Agora acontece o contrário, nós é que contactamos os senhorios para saber se têm habitações disponíveis", conta Carla Carvalho, técnica superior do serviço social da Junta de Freguesia de Campanhã.
A zona de Campanhã ainda é a mais barata do município e aquela onde os preços aumentaram menos. O metro quadrado em 2018 subiu 7%, para 6,19 euros, abaixo da média de 7,85 euros registada na cidade. Mas a oferta de casas na freguesia também é quase nula. As plataformas de anúncios mostram que existem entre 20 e 24 casas para arrendar em Campanhã.
E os preços, apesar de mais acessíveis face aos do centro, já são apenas aceites "por quem vem de fora", diz Carla Carvalho. "Tivemos um T1 aqui perto da junta, num prédio com 50 anos, pelo qual pediam 600 euros. O senhorio acabou por arrendar por 525, o que ainda é muito elevado para esta zona", aponta a especialista, admitindo que a situação da freguesia "está cada vez mais difícil" e que, além de algumas situações pontuais de reabilitação urbana, não está previsto para breve o aumento da oferta. "Há ilhas devolutas, mas os senhorios não têm dinheiro para reabilitar e são poucos os que não venderam tudo para alojamento local."
O aumento das rendas atingiu todo o país em 2018. Segundo o INE, 33 municípios registaram valores acima da média nacional, com destaque para as regiões de Lisboa e Algarve. Em Cascais e Oeiras o metro quadrado já ultrapassa os nove euros, por exemplo.
Na lista do valor das rendas por município há quatro que se destacam pelo motivo oposto. O metro quadrado em Belmonte, Sátão, Lamego e Vila Nova de Foz Coa não chega aos dois euros. Belmonte é o município nacional onde o valor das rendas é mais baixo: 1,7 euros por metro quadrado, tendo até aumentado face aos 1,6 euros registados em 2017. Só em Lamego o valor das rendas baixou: há um ano, cem metros quadrados custavam 241 euros no município do distrito de Lamego. Hoje o mesmo espaço pode ser arrendado por 199 euros.