Há política na União Europeia.A União Europeia habituou-nos a ser um espaço técnico, mas não tem de o ser. A tese da TINA (There Is no Alternative) já não cola, e temos 5 anos pela frente de um Parlamento Europeu que é reflexo disso. Dos extremos à moderação, da defesa ao clima, haverá vozes para todos os gostos com força suficiente para dar diferentes rumos políticos ao projeto. Isso vai gerar discussão, vencedores e derrotados, o que trará um elemento novo à política europeia: vai tornar-se intrigante..A democracia europeia tarda mas arranca.Após 30 anos de quebra da participação eleitoral, temos a primeira inversão, e uma que nos deixa com a maior participação eleitoral em europeias dos últimos 20 anos. Tivemos também partidos europeus a tentar assumir a campanha com os seus candidatos, organizando debates e levando-os por essa Europa fora. A UE lançou uma campanha de apelo ao voto transnacional e diversos programas para pôr diferentes países em contacto (disclaimer: participei em dois deles). A chegada do POLITICO a Bruxelas, em 2015, não é irrelevante nesta história. A minha tese, para que fique claro, é esta: criem mais media europeus que comuniquem a política europeia tal como é comunicada a nacional e verão a democracia europeia florescer..O tsunami negro fez poucas ondas.Após semanas de grande excitação entre quem acompanha a política europeia, mas sobretudo entre aqueles que só olham Bruxelas nas vésperas de eleições europeias, a montanha pariu um rato. O anunciado tsunami de "extremistas" e "populistas" e "radicais" (termos entre aspas, já que raramente são bem usados) rebentou longe da costa e trouxe pequenas alterações relativamente à anterior edição, em 2014, quando realmente se reforçou..Com duas exceções - Itália e Bélgica - os partidos mais extremos tiveram performances aquém do esperado. A Frente Nacional, após meses de protestos, mal conseguiu bater Macron, piorando o seu anterior resultado. O Vox, em apenas um mês, perdeu 40% da sua quota eleitoral. A Alternativa para a Alemanha também perdeu relativamente às últimas legislativas alemãs. Na Dinamarca e nos Países Baixos, figuras importantes dos movimentos de extrema-direita foram-se abaixo. Não era bem isto que se esperava ler depois de tantos meses a criar ilusões, pois não?.Os verdadeiros problemas continuarão problemáticos.E agora? Bom, agora o mundo continua o mesmo e não espera pela velha Europa. Os problemas já estavam identificados: UE a envelhecer e a perder voz no mundo, economia que teima em não ser inovadora, tecnológicas a precisar de ser reguladas, e o planeta a viver uma crise climática..O Brexit foi tema central da campanha no Reino Unido, que acaba de mandar o maior contingente de um único partido para o Parlamento - por alguns meses, ou por alguns anos, ou para fazer todo o mandato, ninguém sabe. Noutros países, falamos de migrações, terrorismo e... do ameaçador tsunami dos extremistas. Resumindo: preferimos aproveitar as eleições europeias para esmiuçar a destruição da União, e agora ela mantém-se. Chatice, não é? O que me leva a outro ponto....Melhor do que soar alarmes é planear a defesa.Como dizia hoje o Cas Mudde, os académicos que estudam movimentos políticos mais extremos que estejam descansados. Enquanto os defensores da democracia liberal e da União continuarem sem ter uma proposta sua, haverá sempre mais alguns radicais prontos a aparecer, num autêntico jogo da marretada nas toupeiras (Whack-a-mole). Preferimos dar espaço nas nossas agendas às respostas radicais para os problemas, em vez de planearmos formas sistémicas de os resolver. Espero que isso mude depressa, sob pena de termos mais 5 anos altamente tóxicos..O clima move eleitores.Falando de temas que são importantes para o futuro e que podem servir para mobilizar eleitores, é preciso dar destaque especial ao clima. Este é um tópico de eleição dos partidos verdes, mas que outros foram abraçando, inclusivamente alguns dos partidos que se juntam à ALDE. Em França e na Alemanha, onde temos dados etários da participação eleitoral, sabemos que os jovens votaram em grande número nos partidos verdes. Pode ser um excelente elemento mobilizador de uma grande coligação de moderados no Parlamento Europeu.O Spitzenkandidat está morto?.É agora tempo de decidir os grandes cargos das instituições europeias. O primeiro da lista será mesmo o presidente da comissão. Supostamente, os partidos europeus decidiram usar o método do Spitzenkandidat, isto é, de candidatos a presidente da comissão sufragados nas eleições europeias, tal como em 2014. Veremos se resulta. A ALDE+Macron+A2020 (novo grupo anunciado) avisou que não aceitará o método do Spitzenkandidat. A próxima comissão será nomeada pelo Conselho e eleita no Parlamento Europeu. O facto de o PPE ter tido um resultado mais fraco e de haver mais grupos de média dimensão com vontade de fazer exigências vai implicar consensos alargados. O mais provável é mesmo que se escolha um candidato que não estava anunciado. Que impacto terá ignorar o que foi comunicado aos eleitores (mas que poucos conheciam) para a credibilidade da democracia europeia, saberemos a seu tempo..É tempo de haver mulheres.Há muitos cargos para distribuir. Presidente da Comissão e restantes 27 comissários, Presidência do Conselho, Presidência do Parlamento, Presidência do Banco Central Europeu... Juntando-lhe a fragmentação política saída destas eleições, será provavelmente uma negociação em bloco que inclui compromissos nacionais, regionais, partidários e, esperemos, de género. A UE nunca teve uma presidente da Comissão, BCE ou Conselho, e teve apenas duas presidentes do Parlamento. Em março, nomeações para altos cargos de governança financeira da União foram alvo de críticas duras no Parlamento Europeu por estarem a perpetuar desigualdades de género (os nomeados eram três homens).
Há política na União Europeia.A União Europeia habituou-nos a ser um espaço técnico, mas não tem de o ser. A tese da TINA (There Is no Alternative) já não cola, e temos 5 anos pela frente de um Parlamento Europeu que é reflexo disso. Dos extremos à moderação, da defesa ao clima, haverá vozes para todos os gostos com força suficiente para dar diferentes rumos políticos ao projeto. Isso vai gerar discussão, vencedores e derrotados, o que trará um elemento novo à política europeia: vai tornar-se intrigante..A democracia europeia tarda mas arranca.Após 30 anos de quebra da participação eleitoral, temos a primeira inversão, e uma que nos deixa com a maior participação eleitoral em europeias dos últimos 20 anos. Tivemos também partidos europeus a tentar assumir a campanha com os seus candidatos, organizando debates e levando-os por essa Europa fora. A UE lançou uma campanha de apelo ao voto transnacional e diversos programas para pôr diferentes países em contacto (disclaimer: participei em dois deles). A chegada do POLITICO a Bruxelas, em 2015, não é irrelevante nesta história. A minha tese, para que fique claro, é esta: criem mais media europeus que comuniquem a política europeia tal como é comunicada a nacional e verão a democracia europeia florescer..O tsunami negro fez poucas ondas.Após semanas de grande excitação entre quem acompanha a política europeia, mas sobretudo entre aqueles que só olham Bruxelas nas vésperas de eleições europeias, a montanha pariu um rato. O anunciado tsunami de "extremistas" e "populistas" e "radicais" (termos entre aspas, já que raramente são bem usados) rebentou longe da costa e trouxe pequenas alterações relativamente à anterior edição, em 2014, quando realmente se reforçou..Com duas exceções - Itália e Bélgica - os partidos mais extremos tiveram performances aquém do esperado. A Frente Nacional, após meses de protestos, mal conseguiu bater Macron, piorando o seu anterior resultado. O Vox, em apenas um mês, perdeu 40% da sua quota eleitoral. A Alternativa para a Alemanha também perdeu relativamente às últimas legislativas alemãs. Na Dinamarca e nos Países Baixos, figuras importantes dos movimentos de extrema-direita foram-se abaixo. Não era bem isto que se esperava ler depois de tantos meses a criar ilusões, pois não?.Os verdadeiros problemas continuarão problemáticos.E agora? Bom, agora o mundo continua o mesmo e não espera pela velha Europa. Os problemas já estavam identificados: UE a envelhecer e a perder voz no mundo, economia que teima em não ser inovadora, tecnológicas a precisar de ser reguladas, e o planeta a viver uma crise climática..O Brexit foi tema central da campanha no Reino Unido, que acaba de mandar o maior contingente de um único partido para o Parlamento - por alguns meses, ou por alguns anos, ou para fazer todo o mandato, ninguém sabe. Noutros países, falamos de migrações, terrorismo e... do ameaçador tsunami dos extremistas. Resumindo: preferimos aproveitar as eleições europeias para esmiuçar a destruição da União, e agora ela mantém-se. Chatice, não é? O que me leva a outro ponto....Melhor do que soar alarmes é planear a defesa.Como dizia hoje o Cas Mudde, os académicos que estudam movimentos políticos mais extremos que estejam descansados. Enquanto os defensores da democracia liberal e da União continuarem sem ter uma proposta sua, haverá sempre mais alguns radicais prontos a aparecer, num autêntico jogo da marretada nas toupeiras (Whack-a-mole). Preferimos dar espaço nas nossas agendas às respostas radicais para os problemas, em vez de planearmos formas sistémicas de os resolver. Espero que isso mude depressa, sob pena de termos mais 5 anos altamente tóxicos..O clima move eleitores.Falando de temas que são importantes para o futuro e que podem servir para mobilizar eleitores, é preciso dar destaque especial ao clima. Este é um tópico de eleição dos partidos verdes, mas que outros foram abraçando, inclusivamente alguns dos partidos que se juntam à ALDE. Em França e na Alemanha, onde temos dados etários da participação eleitoral, sabemos que os jovens votaram em grande número nos partidos verdes. Pode ser um excelente elemento mobilizador de uma grande coligação de moderados no Parlamento Europeu.O Spitzenkandidat está morto?.É agora tempo de decidir os grandes cargos das instituições europeias. O primeiro da lista será mesmo o presidente da comissão. Supostamente, os partidos europeus decidiram usar o método do Spitzenkandidat, isto é, de candidatos a presidente da comissão sufragados nas eleições europeias, tal como em 2014. Veremos se resulta. A ALDE+Macron+A2020 (novo grupo anunciado) avisou que não aceitará o método do Spitzenkandidat. A próxima comissão será nomeada pelo Conselho e eleita no Parlamento Europeu. O facto de o PPE ter tido um resultado mais fraco e de haver mais grupos de média dimensão com vontade de fazer exigências vai implicar consensos alargados. O mais provável é mesmo que se escolha um candidato que não estava anunciado. Que impacto terá ignorar o que foi comunicado aos eleitores (mas que poucos conheciam) para a credibilidade da democracia europeia, saberemos a seu tempo..É tempo de haver mulheres.Há muitos cargos para distribuir. Presidente da Comissão e restantes 27 comissários, Presidência do Conselho, Presidência do Parlamento, Presidência do Banco Central Europeu... Juntando-lhe a fragmentação política saída destas eleições, será provavelmente uma negociação em bloco que inclui compromissos nacionais, regionais, partidários e, esperemos, de género. A UE nunca teve uma presidente da Comissão, BCE ou Conselho, e teve apenas duas presidentes do Parlamento. Em março, nomeações para altos cargos de governança financeira da União foram alvo de críticas duras no Parlamento Europeu por estarem a perpetuar desigualdades de género (os nomeados eram três homens).