Mais denúncias de abusos sexuais a menores: Internet é via rápida para agressores
É a imagem íntima que circula nas redes sociais, partilhada entre os próprios jovens, o primeiro contacto do abusador com a vítima e ainda a pornografia de menores que passou de uma queixa, em 2013, para 25, no ano passado. Os casos relacionados com a internet não surgem representados isoladamente nas estatísticas da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), mas aos gabinetes chegam cada vez mais denúncias.
"Os jovens hoje em dia estão permanentemente ligados, é impossível estar sempre a controlá-los", sublinha Carla Ferreira, técnica da APAV. "No que diz respeito aos crimes contra as pessoas, o abuso sexual de crianças foi o mais assinalado entre 2013 e 2018", sintetiza o último relatório da APAV - que é apresentado nesta terça-feira em Lisboa - e que diz respeito aos crimes e violência contra crianças e jovens entre 2013 e 2018.
Segundo a estatística da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, no ano passado foram denunciados 269 novos casos de abusos sexuais de crianças (até aos 14 anos) - mais 70 do que no ano anterior. Cresceram também as denúncias de importunação sexual e de "outros crimes sexuais", além dos casos de pornografia de menores - as únicas que desceram foram as denúncias relativas a assédio sexual (com prática de atos sexuais) - uma queixa em 2018, contra as seis contabilizadas em 2017; e o crime de violação - 22 em 2018 (menos três do que em 2017). A maioria destes crimes encontram terreno fértil na internet.
No entanto, e de acordo com a responsável da APAV, as estatísticas não indicam, por si só, que o número de crimes tenha de facto aumentado, mas sim que existem cada vez mais denúncias "da própria vítima, dos pais e familiares, da escola, das autoridades", resume a técnica da APAV, que considera este aumento "uma boa notícia".
"Significa que a comunidade está mais sensibilizada para esta realidade [dos abusos sexuais e violência contra crianças e jovens] - não está tudo feito, mas pelo menos não está ainda tudo por fazer", afirma Carla Ferreira.
Desde janeiro de 2016, quando é criada a Rede Care, também da APAV, e que "veio preencher uma lacuna ao oferecer apoio especializado a crianças e a jovens vítimas de violência sexual", que o número de denúncias tem aumentado e são também muitas as vítimas - já adultas - que procuram a associação em busca de apoio psicológico ou jurídico.
"Não são só crianças e adolescentes que nos pedem ajuda mas também adultos que foram abusados em crianças", revela a técnica.
Estas vítimas procuram sobretudo "apoio psicológico, mas também legal - há quem sinta que já se faz justiça só por acreditarmos nelas mas também quem considere que esta só existe quando o agressor cumpre pena de prisão efetiva", descreve a responsável.
Até 15 de maio de 2019, a Rede Care deu apoio a 881 crianças e a 140 familiares ou amigos, num total de 10 509 atendimentos. Todos os meses, recebe 22 novos processos de apoio relativos a crianças e jovens vítimas de violência sexual.
E quem são as vítimas destes crimes? São, na sua esmagadora maioria, do sexo feminino (80,3% são raparigas e 18,6% são rapazes), com idades entre os 14 e os 17 anos - logo a seguir está a faixa etária entre os 8 e os 13 anos. Os agressores são, em grande percentagem (54,1%), familiares: o pai ou a mãe, o padrasto ou a madrasta, seguido dos avós, tios, irmãos e outros familiares.
Contactos APAV |Rede Care - Apoio Especializado a Crianças e Jovens Vítimas de Violência Sexual
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