Golos, faltas, substituições e muito mais. 10 estatísticas que marcaram a Liga 2019-20
Do arranque fulguroso do Benfica à recuperação do FC Porto sustentada num laboratório de bolas paradas que fez Sérgio Conceição juntar-se ao lote de treinadores bicampeões, a I Liga de 2019-20 não foi pródiga em goleadores, mas teve golos, cartões e pela primeira vez cinco substituições.
Talvez por causa da pandemia que obrigou à realização de jogos à porta fechada na reta final do campeonato e que fez diminuir o fator casa, o resultado mais comum na I Liga em 2019-20 foi o 1-1 (40 vezes), seguido do 0-1 (35 vezes) e do 1-0 (34).
Ainda assim, foram mais as vitórias de quem jogava em casa (126) do que quem jogava fora (101), registando-se ainda 79 empates.
A moda foi haver dois golos por jogo (78 vezes), mas houve 69 encontros em que apenas se registou um golo e 58 em que houve três. O máximo registado foi oito numa partida, na goleada do Sp. Braga sobre o Belenenses SAD no Jamor (1-7).
A média de golos por jogo foi 2,49.
Protagonista de um arranque fulguroso de campeonato, o Benfica foi o recordista de vitórias consecutivas na edição de 2019-20 da I Liga: 16, entre a quarta e a 19.ª jornada. Essa sequência também constituiu o recorde de invencibilidade de uma equipa durante a competição. O pior veio depois...
Por outro lado, o Desportivo das Aves foi a equipa que sofreu mais derrotas seguidas: 10, entre a 3.ª e a 12.ª jornada.
Embora não tenha descido de divisão, foi o Vitória de Setúbal o conjunto que esteve mais tempo sem ganhar: 15 jogos, entre a 19.ª e a 33.ª jornada, quebrando essa sequência negativa precisamente na derradeira ronda, com um triunfo sobre o Belenenses SAD no Bonfim.
Quatro equipas partilham o recorde de mais empates consecutivos (quatro): Boavista (5.ª à 8.ª jornada), Moreirense (8.ª à 11.ª), Benfica (23.ª a 26.ª) e Vitória de Setúbal (23.ª à 26.ª).
Os guarda-redes de Gil Vicente e Rio Ave, Denis e Kieszek, foram os dois únicos totalistas do campeonato em 2019-20, tendo ambos somado os 3060 minutos da competição.
Além dos dois guardiões, três jogadores disputaram as 34 jornadas da I Liga, embora não tenho atuado na totalidade dos minutos: Pizzi (Benfica), Fábio Abreu (Moreirense) e Carlos Jr. (Santa Clara).
18 golos bastaram a o benfiquista Carlos Vinícius para se sagrar melhor marcador do campeonato, batendo a concorrência do companheiro de equipa Pizzi e do rioavista Taremi devido ao menor número de minutos em campo.
Desde 2006-07 que não havia um artilheiro-mor com um registo tão pobre, quando o sportinguista Liedson fechou a época com 15 golos. Porém, há 13 anos havia a atenuante de a I Liga se jogar apenas em 30 jornadas, menos do que as atuais 34.
Vinícius foi, a par do famalicense Anderson, o jogador com mais golos como suplente utilizado (seis).
Já o portista Alex Telles foi o jogador com mais golos de penálti (oito).
Bruno Wilson (Tondela e Sp. Braga), Ronan (Rio Ave e Tondela) e Denilson (Tondela e Paços de Ferreira) marcaram por duas equipas, enquanto quatro jogadores conseguiram apontar um hat trick: Zé Luís (FC Porto), Mehdi Taremi (Rio Ave), Vinícius (Benfica) e Paulinho (Sporting de Braga). Carlos Vinícius foi o que fez mais bis (quatro).
Outro benfiquista, Gonçalo Ramos, destacou-se por ser o jogador menos utilizado (cinco minutos) a marcar no campeonato, e logo por duas vezes, na vitórias das águias sobre o Desp. Aves na penúltima jornada.
O ganês Yaw Ackah, do Boavista, e o francês Mohamed Diaby, do Paços de Ferreira, foram os jogadores mais vezes admoestados pelos árbitros na edição 2019-20 da I Liga. Os dois médios, ambos a cumprirem a segunda época nos respetivos clubes, viram cada qual por 13 vezes o cartão amarelo, não somando qualquer expulsão.
Ackah, de 21 anos, disputou um total de 23 encontros, 20 dos quais como titular, somando cinco amarelos na primeira volta e oito na segunda, num total de 13 admoestações que lhe custaram três jogos na bancada.
Quanto a Diaby, de 23 anos, foi utilizado em 26 jogos, começando de início em 19 ocasiões, e viu oito amarelos na primeira volta e cinco na segunda.
Em termos coletivos, o Boavista, com 112 cartões, o Paços de Ferreira, com 110, e o Famalicão, com 104, preencheram o pódio dos indisciplinados.
Por seu lado, o Vitória de Guimarães acabou a prova com a formação mais disciplinada, ao totalizar apenas 68 cartões, nomeadamente 63 amarelos, três vermelhos por acumulação e dois vermelhos diretos.
O Belenenses SAD foi o clube que mais aproveitou a regra provisória que permitiu a realização de cinco substituições após a retoma da I Liga, em contraponto com Vitória de Setúbal, que foi o mais conservador.
Os azuis efetuaram um total de 44 substituições, ficando a uma do pleno permitido após a alteração dos regulamentos da competição, que foi aprovada pela Liga de clubes a 8 de junho e passou a autorizar a realização de duas substituições suplementares, com o objetivo de salvaguardar a saúde e condição física dos jogadores.
Os setubalenses estão no extremo oposto, com um total de 34 substituições, menos 10 do que o Belenenses e a 11 do limite máximo permitido, e apenas em dois dos nove encontros disputados até ao fim da I Liga esgotaram esse recurso.
Benfica e Rio Ave são os clubes que apresentam o melhor balanço de reviravoltas na edição 2019-20 da I Liga, com quatro conseguidas e uma consentida, ficando o título para as águias pelo confronto direto.
Em Vila do Conde, à 27.ª ronda, os comandados de Carlos Carvalhal marcaram primeiro, aos 26 minutos, por Taremi, mas, primeiro face a 10 e depois a nove, o Benfica deu a volta, com tentos de Seferovic e Weigl, este aos 87 minutos.
Além desta reviravolta, a formação comandada por Bruno Lage selou mais três na primeira volta, de 0-1 para 2-1, na deslocação aos redutos do Moreirense (sexta jornada) e Santa Clara (11.ª) e na receção ao Desportivo das Aves (16.ª).
Quanto ao Rio Ave, apenas cedeu face ao Benfica, dando, pelo contrário, a volta ao Sporting (1-2 para 3-2 em Alvalade), graças a três penáltis, à quarta ronda, ao Vitória de Setúbal (0-1 para 2-1, no Bonfim), à 28.ª, e ao Portimonense (0-1 para 2-1), à 31.ª.
O FC Porto marcou quase metade dos seus 74 golos em lances de bola parada, que foram muitas vezes decisivos na obtenção de pontos e, consequentemente, determinantes na conquista da edição 2019-20 da I Liga.
Entre penáltis (10 golos), livres diretos (dois) e golos na sequência de cantos (13), livres (cinco) ou lançamento laterais (cinco), os dragões apontaram um total de 35 golos, contra 39 de bola corrida.
Os 10 pontos e 32 golos perdidos pelo Benfica, que o fizeram tombar de campeão para vice, são o dado mais chocante na comparação das tabelas finais das duas últimas edições da I Liga.
Dos 87 pontos de 2018-19, os encarnados baixaram para 77, e, em matéria de golos, ficaram-se pelos 71, a quilómetros dos espantosos 103 da época passada, algo que não se via desde os anos 70 do século passado (101 em 1972-73, em 30 jogos).
Em matéria de pontos, só o Sporting, ao perder 14 (60 contra 74), rumo à 18.ª época de seca, e o Desportivo das Aves, que somou menos 19, para cair redondo na II Liga, fizeram pior do que os encarnados.
Sérgio Conceição tornou-se em 2019-20 o 24.º treinador a repetir a conquista do título de campeão português de futebol, ao replicar o sucesso de há dois anos, também ao comando do FC Porto.
Aos 45 anos, Conceição junta-se a um lote de 10 treinadores que somam dois cetros, e seguem no 14.º lugar do ranking, sendo que o último a entrar tinha sido Vítor Pereira, também com dois títulos pelos dragões, em 2011-12 e 2012-13.
O ex-jogador de Penafiel, Leça, Felgueiras, FC Porto, Lazio, Parma, Inter de Milão, Standard Liège, Al Qadisiya e PAOK junta-se a mais cinco compatriotas, nomeadamente Cândido de Oliveira, José Maria Pedroto, Toni, António Oliveira e José Mourinho.
Cândido de Oliveira bisou ao comando do Sporting, em 1947-48 e 48-49, José Maria Pedroto pelo FC Porto, em 1977-78, para acabar com uma seca de 19 anos, e 78-79, Toni ao comando do Benfica, em 1988-89 e 93-94, e António Oliveira (1996-97 e 97-98) e José Mourinho (2002-03 e 2003-04) também pelos dragões.
A lista de bicampeões inclui ainda quatro estrangeiros, um pelos encarnados, o inglês John Mortimore (1976-77 e 86-87), e três pelos azuis e brancos, o húngaro Mihaly Siska (1938-39 e 39-40), o brasileiro Carlos Alberto Silva (1991-92 e 92-93) e o inglês Booby Robson (1994-95 e 95-96).
Há ainda 12 treinadores tricampeões. Os primeiros a chegarem ao tri foram três húngaros, nos anos 30 e 40 do século passado, Lipo Herczka e Janos Biri ao comando do Benfica e, pelo meio, Josef Szabo, que arrebatou um pelos dragões- e, depois, bisou pelo Sporting.
O inglês Randolph Galloway foi o quarto a chegar aos três títulos, e consecutivos (1950-53), seguindo-se outro húngaro, Béla Guttman, que somou o primeiro pelo FC Porto e os outros dois pelo Benfica (1959-61), que conduziu a dois títulos europeus.
O chileno Fernando Riera, em 1962-63, 66-67 e 67-68, e o inglês Jimmy Hagan, consecutivamente em 1970-71, 71-72 e, sem derrotas, em 1972-73, também triplicaram pelo Benfica, enquanto Artur Jorge, ex-avançado do Benfica, conseguiu-o pelo FC Porto, em 1984-85, 85-86 e 89-90, com uma Taça dos Campeões pelo meio.
O sueco Sven-Goran Eriksson, que teve duas passagens pelo Benfica, também conquistou três títulos (1982-83, 83-84 e 90-91), enquanto Jesualdo Ferreira, também ex-técnico de Benfica e Sporting, logrou-os pelo FC Porto (de 2006-07 a 2008-09).
Mais recentemente, triplicaram pelo Benfica Jorge Jesus, que ganhou em 2009-10, 2013-14 e 2014-15 e vai regressar ao comando das águias em 2020-21, e Rui Vitória, em 2015-16, 2016-17 e, com a preciosa ajuda de Bruno Lage, em 2018-19.
Acima deste lote de técnicos com três títulos, está, bem acima de todos, o brasileiro Otto Gloria, falecido em 1986, com 69 anos, que ganhou um total de seis campeonatos. O técnico que também orientou a seleção portuguesa de futebol venceu quatro pelos encarnados, em 1954-55, 56-57, 67-68 e 68-69, e, pelo meio, bisou pelo Sporting, em 1961-62 e 65-66.