A filosofia, a política e a alma perdida

O país está crispado. Já aqui o escrevi antes e sobre a forma como o termo crispação, quase morto e enterrado desde os tempos do PEC IV e da troika, regressou à narrativa atual. Do governo à oposição, dos professores aos polícias, do futebol à igreja - agora por causa do altar da Jornada Mundial da Juventude -, todos estão em alta crispação.

Esta semana folheei, finalmente, um livro que me fora oferecido, com o título Estoico Todos os Dias, e encontrei algumas linhas que me fizeram parar e reler. "Acima de tudo, tens de ser cuidadoso com as relações ou amizades para evitar depender delas ou transformares-te no mesmo que elas. Se não, vais perder-te... Deves escolher continuar a ser o mesmo e ser querido pelas antigas amizades ou ser uma pessoa melhor apesar delas... se tentares ser ambas as pessoas, não evoluirás nem conseguirás o que antes tinhas." Palavras do filósofo Epiteto, em Diatribes. E mais se lê na mesma página: "Com os bons, aprenderás as coisas boas. Mas se te misturares com os malvados, deitarás a perder até a alma", declarou Misónio Rufo (mestre de Epiteto e um dos maiores nomes do Estoicismo Romano), citando Téognis de Mégara (poeta lírico grego), em Dissertações.

Estas palavras sábias vêm a propósito da falta de ética, de cariz republicano de preferência. A democracia corre o risco de ver o seu povo a rotular os políticos e os gestores de "todos iguais". Cabe precisamente a esses mesmos dirigentes contrariar essa ideia pré-concebida, fazer prova de boa-fé, mostrar de que matéria são feitos e ao que vêm quando assumem funções de poder, público ou privado, com alto impacto na sociedade. Dizendo de outra forma, e lembrando uma máxima simples, mas eficaz, de Goethe, "diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Ou a segunda máxima do mesmo escritor alemão e que vai mais longe: "Sabendo de que te ocupas, saberei para onde vais."

Com quem andam e de que se ocupam os nossos líderes? Rodeiam-se dos melhores, com provas dadas no mercado e com um carácter à prova de bala? Ocupam-se do bem comum, da razão de "ser a servir", das desigualdades, da inclusão e da criação de riqueza para quebrar um ciclo de pobreza que se colou a Portugal? Ou estarão mais ocupados em grupos e grupetas, manias da perseguição e conspirações inúteis que em nada contribuem para um país melhor?

Deixo aos leitores a tarefa de encontrar as respostas a cada uma destas perguntas e também fica nas mãos dos eleitores reagir às mesmas quando chegar o próximo ato eleitoral. Afinal, quem merecerá a confiança dos portugueses? Onde estão os homens bons da nação?

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG