O Orçamento do Estado para 2020 conta 1315 propostas de alteração, um valor recorde que bate em mais de três centenas o número atingido no ano passado. Deste total, a maior fatia cabe ao PCP, que apresentou 311 medidas, seguido pelo PAN (234), Bloco de Esquerda (206), PSD (137, parte delas apresentadas pelos deputados do PSD-Madeira, que se abstiveram na votação na generalidade), Chega (99), PS (94), Iniciativa Liberal (69), PEV (67), Livre (52) e CDS (46)..Nesta segunda-feira, data em que terminou o prazo para apresentação de propostas ao OE 2020 - que segue agora para discussão na especialidade -, foram conhecidas as alterações avançadas pelos dois maiores partidos, PS e PSD. Embora os socialistas não tenham maioria no Parlamento, há algumas medidas que, com o apoio da esquerda, já são uma certeza, caso do aumento das pensões. Mas no horizonte está também uma descida do IVA da eletricidade. Uma proposta que, embora em diferentes moldes, é comum a quase toda a oposição.. [Atualizado o número de propostas de alteração entregues pelos partidos] .Aumento extraordinário das pensões.O PS avança com uma proposta para um aumento extraordinário das pensões mais baixas, a partir de agosto, repetindo assim o que aconteceu em 2017 e 2018..De acordo com a proposta dos socialistas, o aumento é "de dez euros para os pensionistas cujo montante global de pensões seja igual ou inferior a 1,5 vezes o valor do indexante dos apoios sociais" (cerca de 658 euros) e de seis euros para os pensionistas que recebam uma pensão cujo montante fixado tenha sido atualizado no período entre 2011 e 2015 - ou seja, as pensões mínimas do regime geral, as pensões sociais e as pensões rurais..Já o PCP quer um aumento de dez euros para todas as pensões, mas esta hipótese foi afastada pela líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes: "A responsabilidade orçamental obriga-nos a fazer opções.".Período transitório para as rendas antigas é alargado.O PCP já tinha avançado com uma proposta para manter congeladas as rendas de inquilinos de baixos rendimentos com contratos antigos, que veem o período de transição terminar no final deste ano, o que levará a um aumento das rendas. Sobre a mesma matéria, o PS avança agora com outra solução, estendendo o período transitório por mais dois anos, até 2022..Em causa estão os inquilinos com rendas anteriores a 1990, com um rendimento anual bruto corrigido inferior a cinco remunerações mínimas nacionais anuais (cerca de 42 mil euros) e que tenham invocado carência económica. Os inquilinos com mais de 65 anos ou com deficiência já estavam abrangidos por um período de transição mais alargado, precisamente até 2022.."Tendo em conta o impacto que a atualização das rendas nos termos do NRAU [Novo Regime do Arrendamento Urbano] pressuporia para um conjunto alargado de famílias, sobretudo tendo em consideração o mercado habitacional atual, é importante salvaguardar a extensão do regime por mais dois anos, permitindo a execução das políticas publicas de habitação", justifica a proposta de alteração dos socialistas..Fim dos vistos gold em Lisboa e no Porto.De acordo com uma das propostas de alteração entregues pelo PS, os vistos gold atribuídos ao investimento imobiliário passam a ficar limitados aos municípios do interior e às regiões autónomas, deixando de fora Lisboa e Porto..Com esta alteração, precisou a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, só "quem fizer investimentos [imobiliários] nas comunidades intermunicipais do interior e nas regiões autónomas, bem como quem criar emprego no país, tem direito ao visto gold". Uma medida que procura "retirar a pressão" sobre o mercado da habitação nas áreas metropolitanas do país..Significa isto que o investimento que resulte na criação de postos de trabalho continuará a permitir a obtenção de vistos gold, sem distinção geográfica. A restrição aplica-se aos vistos que atualmente são atribuídos a quem investir 500 mil euros ou mais em imobiliário..Esta é uma medida de aprovação garantida, dado que o Bloco de Esquerda propõe a eliminação dos vistos gold, que considera terem-se transformado "num dos principais focos de criminalidade económica", mas também "um dos principais motivos de especulação imobiliária". Também o PAN defende a revogação imediata destes vistos..Pensionistas estrangeiros passam a pagar IRS.Os pensionistas que gozem do regime de residente não habitual (RNH) vão ter de pagar uma taxa de 10% de IRS. "Elimina-se a isenção total de tributação dos rendimentos de pensões obtidos no estrangeiro por residentes não habituais, passando a exigir-se a aplicação de uma taxa de 10%, sem prejuízo de opção pelo englobamento e da eliminação da dupla tributação internacional", refere a proposta de alteração dos socialistas..São também "reajustados os requisitos de isenção para os rendimentos do trabalho (dependente e independente) obtidos no estrangeiro por residentes não habituais, exigindo-se a tributação efetiva no Estado da fonte do rendimento"..Os residentes não habituais já inscritos (ou que estejam ainda dentro do prazo para o fazer) poderão optar pelo atual ou pelo novo regime, "em respeito pelas garantias dos contribuintes e visando a prevenção de contencioso"..Sobre a mesma matéria, o BE apresenta uma proposta que visa a eliminação pura e simples do regime de residente não habitual..Oposição em peso quer a descida do IVA da eletricidade.É uma proposta comum a vários partidos, embora com diferentes contornos. O PSD quer reduzir a taxa de IVA da eletricidade de consumo doméstico para os 6% a partir de 1 de julho de 2020, uma medida que os sociais-democratas estimam num custo de 175 milhões de euros em 2020. Uma proposta que o PS já qualificou, pela voz da líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, como uma "tremenda irresponsabilidade"..Já o BE propõe a descida da taxa de IVA da eletricidade e do gás natural para os 13% no próximo mês de julho, e novo decréscimo para a taxa reduzida de 6% até 2023. Na proposta do PCP não há modelações: a bancada comunista quer a redução do IVA do gás e da eletricidade..O Iniciativa Liberal defende a redução do IVA da eletricidade para consumo doméstico para os 13% e o gás natural e de garrafa para os 6%. Também o Chega defende a redução do IVA da eletricidade para 6%.Na conferência de imprensa de apresentação das propostas de alteração ao OE, o PSD não fechou a porta a um entendimento com os outros partidos quanto a esta matéria, adensando assim o cenário de uma possível "coligação negativa" que faça aprovar a descida do IVA da eletricidade à revelia do PS - uma hipótese que tem merecido sucessivos alertas críticos dos socialistas e do governo, que defendem que este aumento pode pôr em causa o equilíbrio das contas públicas..PPP na Saúde sim, PPP na Saúde não.O PSD quer aumentar a contratualização de serviços de saúde com o setor social e privado para garantir médicos de família a todos os portugueses e diminuir as listas de espera nas consultas e exames de especialidade. E quer também as portas abertas às parcerias público-privadas na Saúde..No polo oposto, o PCP defende a eliminação de todas as PPP..O fim das taxas moderadoras no acesso aos cuidados de saúde é um dos pontos comuns à esquerda. O BE defende o fim das taxas moderadoras nas consultas de cuidados de saúde primários e, a partir de 1 de setembro, em exames complementares de diagnóstico e terapêutica. O PCP quer o fim das taxas moderadoras para as pessoas com doença crónica, nas "consultas e demais prestações de cuidados, designadamente atos complementares de diagnóstico e terapêutica, realizados nos cuidados de saúde primários", e a eliminação total destas taxas em 2021..Os bloquistas defendem igualmente a instituição de um Plano Plurianual de Investimentos para o Serviço Nacional de Saúde, com uma dotação de 180 milhões de euros, destinados a investir sobretudo em meios complementares de diagnóstico e terapêutica que permitam ao SNS não ter de recorrer a serviços externos..Noutro plano, outra proposta que atravessa vários partidos passa pelo aumento de profissionais de várias especialidades no Serviço Nacional de Saúde. O PAN quer a contratação de 50 psicólogos para os cuidados de saúde primários do SNS, com o objetivo de chegar aos 200 até ao final da legislatura. Também o Livre apresenta medida idêntica, defendendo a contratação de 120 psicólogos para os centros de saúde. Já o PEV propõe o aumento do número de psicólogos nas escolas e nas prisões..IRS visado à direita e à esquerda.Bloco de Esquerda e PCP defendem a atualização em 1% - o valor da taxa de inflação esperado para 2020 - dos escalões do IRS, em vez dos 0,3% propostos pelo governo. Os comunistas defendem também a criação de um oitavo escalão do IRS para os rendimentos mais elevados (eliminando a taxa de solidariedade)..Já o CDS propõe a redução do IRS em meio ponto percentual nos três escalões mais baixos..No IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas), o CDS volta a apresentar a proposta de redução do imposto sobre as empresas para os 19%. O PCP propõe a criação de um novo escalão intermédio de IRC com uma taxa de 7%, para lucros tributáveis entre os 20 e os 35 milhões de euros, com o BE a apresentar também uma proposta idêntica.