O atual presidente do Brasil foi eleito mesmo tendo ideias que remontam, na melhor das hipóteses, ao século XIX, e já protagonizou num mês, em nome próprio ou da família, escândalos para um século..O seu antecessor é a mais fiel tradução do político que subiu à conta de conluios escusos - aliás, recebeu à sucapa, já presidente, um empresário corrupto para combinar o silêncio de aliados..Antes, uma chefe de estado levou o país à maior recessão da sua história, graças a doses industriais de intervencionismo económico e de inabilidade política..O padrinho dela, entretanto, passou oito anos no poder a usar aquilo a que os americanos chamam de idiot defense - não vi, não ouvi, não sabia, não conhecia - como reação a dois dos maiores escândalos de corrupção da história, o mensalão e o petrolão, que prosperavam nas suas barbas..Por essas e por outras, os brasileiros não acreditam no poder executivo..O Congresso, entretanto, abriga parlamentares que apoiaram todos aqueles presidentes, a troco de uns dinheirinhos aqui, de um carguinho acolá..Na anterior legislatura, 60% deles tinham sido condenados, eram réus ou estavam sob investigação em crimes de corrupção, fraude, lavagem de dinheiro, sequestro ou homicídio; na atual, os cadastrados são menos mas o número de oportunistas medíocres mantém-se ou cresceu..Tornaram-se conhecidos no mundo numa tragicómica votação do impeachment onde justificaram o voto pela queda da presidente eleita em nome "do grupão de amigos de Uberlândia", "dos corretores de seguros", "do ensino de sexo na escola", "da família quadrangular evangélica", "da paz em Jerusalém", "das mãos calejadas dos fumicultores e da indústria fumageira" ou "de você, mamãe". Houve um, talvez o pior de todos, que até votou em homenagem a um torturador..Por essas e por outras, os brasileiros não acreditam no poder legislativo..Sem confiança nos poderes executivo e legislativo, o Brasil abriu caminho para a famigerada lawfare, quando a lei se torna instrumento político..O sucesso da Operação Lava-Jato, que prendeu poderosos de todas as áreas e destapou o esgoto das relações entre política e poder financeiro, fez de Sergio Moro uma estrela internacional..E questões com potencial político decisivo acabaram esgrimidas, não em urna ou em parlamento, mas em sessões televisionadas do Supremo Tribunal Federal, cujos onze membros se tornaram mais famosos do que os onze titulares da seleção nacional..Mas se a maioria dos ministros do Supremo é hostilizada nas ruas por ficar muitas vezes do lado dos poderosos, até a incensada Lava-Jato foi chamuscada: primeiro porque Moro, ministro da Justiça, contradiz a cada intervenção o Moro juiz da operação e depois porque a sua substituta, Gabriela Hardt, mesmo sabendo-se sob holofotes, cometeu asneiras de principiante na sentença que condenou Lula da Silva no caso do Sítio de Atibaia..Rigorosa na forma - disse durante o julgamento, ao septuagenário Lula, que "se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema", uma frase tão publicitada que valeu até estampa numa camisa da primeira-dama Michelle Bolsonaro -, a juíza revelou-se afinal desleixada no conteúdo..Uma perícia provou que Hardt usou copy paste da sentença de Moro sobre o apartamento tríplex - numa das páginas da sentença dela, em vez de "sítio" aparece mesmo escrito "apartamento". E até o Ministério Público pediu retificações por "erros materiais" na sentença: a magistrada confundiu "corrupção passiva", crime imputado a Lula, com "corrupção ativa", considerou que Adelmário Pinheiro e Léo Pinheiro eram dois réus diferentes, quando são a mesma pessoa, e ainda se esqueceu de mencionar a absolvição de três dos envolvidos num dos supostos crimes..Se depois de executivo e legislativo se terem desacreditado, já nem no poder judicial se pode confiar, o que resta aos brasileiros? Resta, como sempre restou, afogar mágoas no melhor Carnaval do mundo já a partir de sexta-feira.