Dança das cadeiras no PS começa neste fim de semana no Algarve

Para a reunião magna do Partido Socialista, Carlos César e António Costa desenharam muito mais do que a marcação de lugares sentados. No momento em que se começa a discutir a sucessão do líder é preciso atenção aos "sinais". É o início de um ciclo político, reconhece Marcelo.
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Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes vão ter direito a lugar de destaque na mesa do congresso socialista que este sábado começa na Portimão Arena.

Os candidatos à sucessão de António Costa serão tratados de forma idêntica na coreografia da reunião magna dos socialistas. Costa, em entrevista ao Expresso, no passado fim de semana, deixou várias indicações, na leitura de analistas e politólogos, de que não será recandidato a líder do partido em 2023. Desde logo, ao falar da sucessão, e deixar dito que há "muitos e bons" sucessores, e que daí não advirá problema de maior para o PS. A última vez que a questão se colocou, no congresso de há dois anos, Costa lembrou que não estava a pensar "reformar-se".

Depois, porque ao não decidir já se é ou não recandidato em 2023, criou um tabu que o próprio faz questão de frisar não o ser. Mas é. Ao remeter a decisão para mais tarde, Costa evita perguntas sobre o tema e alimenta nos bastidores do aparelho a dúvida sobre que decisão vai o secretário-geral tomar. E quando.

Neste fim de semana, no Algarve, o congresso socialista, para além de consagrar Costa, ficará na história do partido como o primeiro congresso onde de facto começa a discutir-se a sucessão. Cada um dos protocandidatos terá palco, visibilidade e oportunidade para se apresentar aos militantes. Na mesma entrevista, António Costa referiu que não vai "apoiar" nenhum dos candidatos que se perfilam, e que não tem a tentação de "designar sucessores". Da cadeira mais alta do congresso, o secretário-geral assistirá ao confronto que será travado no púlpito e nas televisões entre os seus delfins. E, apesar de nos próximos dois anos, o líder socialista se chamar António Costa, este será o congresso em que as alternativas vão aproveitar para se afirmarem. No próximo, daqui a menos de dois anos - este foi sendo adiado, sucessivamente, por causa da pandemia - já haverá novo líder sentado no lugar que agora é de Costa e, provavelmente, será um dos quatro que estarão, neste fim de semana, na linha da frente.

Outro dos indicadores que revelam a convicção de Costa de que não será recandidato em 2023 é a questão da remodelação do governo. Se Costa quisesse remodelar porque desejava continuar, já teria feito essas mexidas no governo, independentemente da data do congresso do partido.

"Vai ser muito interessante ver a lista, os lugares e como são ordenados", diz ao DN um socialista que prefere manter o anonimato. Segundo este alto dirigente, a ordenação das listas terá sempre uma leitura política. Costa pode dizer que não tem preferidos para a sucessão, mas a forma como escolher os mais próximos na hierarquia do partido pode dar boas indicações sobre o que quer o secretário-geral. Por outro lado, depois do congresso - talvez agora só para o ano - há de haver uma remodelação. E, nessa altura, nova oportunidade para "comparar" a importância das pastas que forem atribuídas a cada um dos pré-candidatos e o seu grau de importância dentro de um futuro governo remodelado.

No PS, as sucessões nem sempre foram fáceis, sobretudo quando o secretário-geral era primeiro-ministro. Depois de Soares o PS atravessou o deserto, depois de Guterres entrou em convulsão, e depois de Sócrates, um "golpe de Estado" democrático, com a invenção de umas primárias antes das diretas tiraram, à bomba, António José Seguro do lugar.

Costa quer evitar "derramamento de sangue" aquando da sua saída. Mas o circo socialista para a sucessão começa a desenhar-se neste fim de semana. E o imperador do partido, o socialista que mais tempo governou, e sem maioria, lá estará, escondendo o polegar quando falar cada um dos quatro aspirantes a líder. Ele, Costa, vai estar lá, mas o futuro do partido depois de 2023 parece já não passar por ele.

Em Belém, Marcelo tem sido um espectador paciente e reservado. Ao DN, o Presidente da República afirma que "claramente se vai entrar num novo ciclo político", que começa com o Congresso do PS e só termina daqui a dois anos, com as legislativas. Até lá, não há eleições à vista, pelo que esta campanha autárquica pode ser "a última eleição" de Costa. Com o aproximar da imunidade de grupo e a "libertação" da sociedade à vista, os próximos dois anos serão decisivos para o futuro do país. Entre a gestão da pandemia, a distribuição efetiva dos fundos do PRR e os congressos dos partidos à direita, marcados para o início de 2022, Marcelo antevê "o regresso da política", depois de quase ano e meio de "tréguas" por causa da covid-19.

Mas um fim de ciclo de dois anos não será demasiado tempo?

pedro.cruz@globalmediagroup.pt

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