Von der Leyen tenta aprovação do executivo de Bruxelas

No conjunto dos deputados portugueses, há votos contra "uma comissão dos interesses dos grandes países". Haverá também exigências de "dinheiro novo para as políticas novas".
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Ursula von der Leyen apresenta nesta quarta-feira os comissários indigitados e o respetivo programa ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, para tentar a aprovação da equipa que vai liderar o poder executivo da União Europeia nos próximos cinco anos.

Entre os eurodeputados admite-se que "seria uma surpresa" se a equipa liderada pela alemã não conseguisse luz verde. No conjunto dos deputados portugueses há votos contra "uma comissão dos interesses dos grandes países", votos a favor de "um colégio equilibrado" e até uma abstenção "para não fechar portas".

Convicto de que a rejeição do colégio "só servirá para criar instabilidade e enfraquecer a comissão, sem servir ninguém", o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho votará a favor, mas promete vigilância, pois ainda identifica "uma incógnita" relativamente às perspetivas financeiras, das quais depende a distribuição de verbas, a partir de 2021.

"Vamos exigir dinheiro novo para as políticas novas", avisou Zorrinho, prometendo bater-se para evitar cortes "nas políticas de proximidade". O deputado afirma que a decisão de votar favoravelmente deve-se à atribuição das pastas sobre direitos sociais e medidas progressistas à família dos socialistas europeus.

O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel considera que Ursula von der Leyen construiu uma equipa "equilibrada", pois "ou é realmente uma coligação equilibrada ou se não for terá mais dificuldades do que aquelas que já teria num Parlamento tão fragmentado como este é".

"Ursula von der Leyen foi muito sagaz e quis criar um ambiente em que ninguém pudesse dizer que tinha perdido", afirmou Paulo Rangel, sem manifestar absoluta convicção de que a equipa de Ursula von der Leyen receba realmente luz verde.

PCP e BE votam contra aprovação do colégio de comissários

O eurodeputado do PCP João Ferreira considera que se trata de uma comissão alinhada com os interesses dos grandes países, como, aliás, considera que "já deu sinais de querer abrir portas a um Orçamento da União Europeia que vai diminuir os recursos devotados à [política de] coesão e vai aumentar componentes do orçamento, que aproveitam sobretudo aos grandes países nomeadamente no que respeita às questões da defesa, mas não só". O voto de João Ferreira será, por isso, contra a aprovação do colégio de comissários.

Na mesma linha, o eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão vai rejeitar a equipa de Von der Leyen, afirmando que o colégio, como está estruturado, "concretiza a redução do peso político da política da coesão e uma grande aposta na militarização da União Europeia".

O centrista Nuno Melo vai aprovar, mas com reservas, prometendo "nunca votar o que quer que tenha que ver com impostos europeus, ou o que tenha que ver com o fim da regra da unanimidade, no caso de recursos próprios ou de política externa tal qual como com as listas transnacionais".

Entretanto, para "deixar a porta aberta" para futuras negociações, o deputado do PAN Francisco Guerreiro promete abster-se. "Não passarei nenhum cheque em branco, portanto, abster-me-ei na votação da comissão", disse o deputado.

Ursula von der Leyen enfrenta a Câmara de Estrasburgo para fazer aprovar o colégio, quatro meses depois de ter sido eleita à justa, por uma diferença mínima. A alemã é também a presidente eleita com a maior oposição de sempre, com 327 votos contra, numa eleição que decorreu num ambiente crispado, poucas semanas depois de o Conselho Europeu a ter nomeado como alternativa ao processo do Spitzenkandidat.

Há cinco anos, Juncker teve apenas 44 eurodeputados contra a sua eleição. Durão Barroso, nem no segundo mandato enfrentou tanto confronto quando 117 deputados votaram contra.

O que dirá ao Parlamento?

Ursula von der Leyen fará um discurso antes da votação, no qual defenderá uma Europa unida, comprometida com as metas climáticas, defendendo nesse domínio "um forte investimento", tendo principalmente em conta que "o combate às alterações climáticas não é apenas uma responsabilidade política mas também uma responsabilidade moral para as gerações futuras".

No discurso que apresentou na semana passada à sua família política, no congresso do Partido Popular Europeu, prometeu "criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, especialmente para as pequenas e médias empresas. Temos de alcançar as nossas ambições climáticas com as empresas e não contra elas".

Na introdução ao debate, Von der Leyen deixará também uma palavra sobre a proteção da União Europeia aos "nacionalistas e aos populistas - aqueles que querem dividir e destruir a União Europeia".

"Nunca permitiremos a esses nacionalistas e populistas minarem o significado do que é o nosso modo de vida europeu", disse Von der Leyen no discurso que serviu de antecâmara ao debate de hoje, fazendo referência à polémica em torno do nome da pasta do comissário grego.

"O nosso modo de vida europeu é um roteiro de liberdade, de valores e do Estado de direito", apontou.

Quando foi eleita, Von der Leyen prometeu defender o Estado de direito com um mecanismo de sanção automática para quem puser em causa os valores democráticos, além de prometer medidas concretas para combater a violência contra as mulheres, nomeadamente a "criminalização em toda a Europa".

Na altura, também deixou a promessa de erradicar a pobreza na infância, através de uma garantia infantil, para assegurar que cada uma das crianças na Europa em risco de pobreza e exclusão social tem acesso aos direitos mais básicos, como cuidados de saúde e educação".

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