Estima-se que haja 1,2 milhões de cidadãos nascidos no Reino Unido a viver nos outros países da União Europeia, a maioria deles em Espanha. Deixaram o seu país natal, pensando que tinham os seus direitos garantidos. Agora, quando já têm a vida construída noutro lado, veem essa realidade em risco. Margaret, Rachel, Jennifer e Neal contam ao DN as suas histórias e o impacto que o referendo de junho de 2016 teve nas suas vidas. Todos se queixam de não ser ouvidos pelos deputados britânicos e mantêm a esperança de que ainda seja possível pôr um travão no processo de saída da União Europeia.."Fiquei devastada com o estúpido referendo".Margaret Hales, EspanhaTem 72 anos e vive em Alicante com o marido desde que se reformou, há 12 anos. .Eu e o meu marido resolvemos vir viver para Espanha quando nos reformámos. Eu era académica, ele psicólogo consultor. Adoramos os espanhóis e a sua cultura. Somos católicos e adoramos as fiestas..Fiquei devastada pelo resultado do estúpido referendo do Brexit. Desde então, trabalhei sem parar para informar os britânicos das mudanças que o Brexit vai trazer. Escrevo regularmente ao meu deputado no Reino Unido. Sou uma europeia dos pés à cabeça. Sou atualmente presidente da União Europeia de Mulheres, fundada em 1953. O Brexit tomou totalmente conta da minha vida. Passo as minhas horas a ajudar as pessoas a registarem-se aqui em Espanha e a lutar contra ele..Obviamente que tenho medo das consequências do Brexit, porque sei quais são. Falta de liberdade para andar pela União Europeia. Quão terrível é isso? Eu sou uma reformada, mas para as jovens famílias é medonho. A liberdade de movimentos tornou-se numa vítima do populismo..Acho que ainda há tempo para parar o Brexit. Apoio um segundo referendo porque dá às pessoas uma oportunidade para considerarem a realidade das propostas, agora que sabem o que isso significa..Os deputados deviam pôr o país à frente dos partidos. Westminster tem estado a brincar com a vida das pessoas. O Reino Unido está viciado em dinheiro, não nas pessoas.."Devíamos ficar e ajudar a moldar a UE para o futuro".Rachel Marriott, Alemanha Tem 31 anos e vive há sete na Alemanha. Dá aulas de inglês numa creche em Berlim..Sou totalmente contra o Brexit e acredito que não há melhor acordo do que aquele que atualmente temos, com plena adesão à União Europeia. Devíamos ficar e ajudar a moldar a UE para o futuro..O Brexit teve um impacto enorme na minha vida. Foi por ele que me tornei uma cidadã alemã e que tenho agora dupla cidadania. Era a única forma de proteger os direitos que uso todos os dias para viver em Berlim. Os direitos que a maior parte de nós usou para nos mudarmos para cá de boa-fé. Além disso, vou-me casar com o meu noivo alemão neste verão e tenho medo de que o Brexit ainda possa estragar o meu casamento por causa do aumento do preço dos voos, impostos repentinos ou outras surpresas desagradáveis. Também tenho receio de não poder visitar a minha família tanto quanto o faço agora porque será mais caro..Acho que os expatriados não estão a ser ouvidos pelos deputados. Parece óbvio que não têm ouvido a mudança de humor do público e muito menos as preocupações dos britânicos nos outros países da UE. Mas a Alemanha tem-nos dado muito apoio..Só queria que o governo britânico reconsiderasse o Brexit e revogasse o artigo 50.º com ou sem um novo referendo. Parece improvável, mas a esperança é a última a morrer.."Nenhum de nós pode planear o seu futuro".Jennifer Dobson, FrançaTem 21 anos e deixou o Reino Unido com os pais quanto tinha 5. É recém-licenciada. .Eu não pude votar porque fiz 18 anos em França e estava há demasiado tempo fora do Reino Unido. Se tivesse votado, seria para ficar na UE, porque cresci em França e sei perfeitamente quais são os benefícios da UE..O impacto do Brexit na minha vida será enorme. Desde esse dia, ficarei em desvantagem em relação aos meus colegas do curso de Gestão de Eventos, porque eles terão liberdade de movimentos e eu não. No meu trabalho, isso é importante e é algo que nunca pensei que pudesse perder. Estou a pedir autorização de residência para poder continuar a trabalhar, mas estou preocupada porque pode ser difícil. Trabalho com contratos de curta duração como assistente de palco na Disneyland Paris e o salário não é estável. Queria candidatar-me à cidadania, mas preciso de um contrato permanente, apesar de ter vivido em França toda a minha vida..Gostaria que o artigo 50.º fosse revogado. Não consigo ver os benefícios do Brexit. A minha geração votou fortemente para ficar porque é o nosso futuro. Se houver segunda votação, aqueles que vivem na UE deviam ter direito a votar, porque somos os que sofrem mais..O negócio dos meus pais depende dos clientes britânicos em França, mas não sabemos como isto vai ficar. Uma das minhas irmãs estuda na Holanda. Até sabermos as implicações do novo estatuto que vamos receber, nenhum de nós pode planear o futuro.."Theresa May usou-nos como moeda de troca".Neal Whatson, RoméniaTem 52 anos e é engenheiro de perfuração. Em Bucareste há 14 meses, viveu na Áustria..Sou um remainer. Não quero mudanças na nossa relação enquanto membros plenos da UE. O Brexit causa-me muita preocupação por não saber qual será o impacto na minha vida e no meu trabalho. Sou empregado de uma empresa austríaca, destacado em Bucareste. Já vivi cinco anos na Áustria e antes na Noruega..O Brexit também causou algum stress na minha família, já que alguns votaram para sair. Claro que a posição deles é fundamentada em anos de imprensa de direita no Reino Unido a culpar a UE de tudo o que está mal. Tento falar com eles, mas para alguns é quase uma religião, não querem lidar com os factos porque isso contradiz a sua visão da vida. Não acreditam que um "não acordo" terá um impacto negativo. Estou preocupado com o impacto a longo prazo nas oportunidades que os meus sobrinhos e sobrinhas terão de viver, estudar e trabalhar na UE, com o bem-estar económico do meu país e a sua reputação enquanto uma sociedade acolhedora e tolerante..O governo devia ter garantido os direitos dos cidadãos da UE no Reino Unido desde o início. Estou certo de que, se o tivesse feito, os outros 27 teriam retribuído. Em vez disso, Theresa May usou-nos como moeda de troca e deixou cinco milhões de pessoas no limbo. A sua atitude e a linguagem dos maiores defensores do Brexit expuseram os cidadãos da UE no Reino Unido a atitudes xenófobas tóxicas, o que é imperdoável.
Estima-se que haja 1,2 milhões de cidadãos nascidos no Reino Unido a viver nos outros países da União Europeia, a maioria deles em Espanha. Deixaram o seu país natal, pensando que tinham os seus direitos garantidos. Agora, quando já têm a vida construída noutro lado, veem essa realidade em risco. Margaret, Rachel, Jennifer e Neal contam ao DN as suas histórias e o impacto que o referendo de junho de 2016 teve nas suas vidas. Todos se queixam de não ser ouvidos pelos deputados britânicos e mantêm a esperança de que ainda seja possível pôr um travão no processo de saída da União Europeia.."Fiquei devastada com o estúpido referendo".Margaret Hales, EspanhaTem 72 anos e vive em Alicante com o marido desde que se reformou, há 12 anos. .Eu e o meu marido resolvemos vir viver para Espanha quando nos reformámos. Eu era académica, ele psicólogo consultor. Adoramos os espanhóis e a sua cultura. Somos católicos e adoramos as fiestas..Fiquei devastada pelo resultado do estúpido referendo do Brexit. Desde então, trabalhei sem parar para informar os britânicos das mudanças que o Brexit vai trazer. Escrevo regularmente ao meu deputado no Reino Unido. Sou uma europeia dos pés à cabeça. Sou atualmente presidente da União Europeia de Mulheres, fundada em 1953. O Brexit tomou totalmente conta da minha vida. Passo as minhas horas a ajudar as pessoas a registarem-se aqui em Espanha e a lutar contra ele..Obviamente que tenho medo das consequências do Brexit, porque sei quais são. Falta de liberdade para andar pela União Europeia. Quão terrível é isso? Eu sou uma reformada, mas para as jovens famílias é medonho. A liberdade de movimentos tornou-se numa vítima do populismo..Acho que ainda há tempo para parar o Brexit. Apoio um segundo referendo porque dá às pessoas uma oportunidade para considerarem a realidade das propostas, agora que sabem o que isso significa..Os deputados deviam pôr o país à frente dos partidos. Westminster tem estado a brincar com a vida das pessoas. O Reino Unido está viciado em dinheiro, não nas pessoas.."Devíamos ficar e ajudar a moldar a UE para o futuro".Rachel Marriott, Alemanha Tem 31 anos e vive há sete na Alemanha. Dá aulas de inglês numa creche em Berlim..Sou totalmente contra o Brexit e acredito que não há melhor acordo do que aquele que atualmente temos, com plena adesão à União Europeia. Devíamos ficar e ajudar a moldar a UE para o futuro..O Brexit teve um impacto enorme na minha vida. Foi por ele que me tornei uma cidadã alemã e que tenho agora dupla cidadania. Era a única forma de proteger os direitos que uso todos os dias para viver em Berlim. Os direitos que a maior parte de nós usou para nos mudarmos para cá de boa-fé. Além disso, vou-me casar com o meu noivo alemão neste verão e tenho medo de que o Brexit ainda possa estragar o meu casamento por causa do aumento do preço dos voos, impostos repentinos ou outras surpresas desagradáveis. Também tenho receio de não poder visitar a minha família tanto quanto o faço agora porque será mais caro..Acho que os expatriados não estão a ser ouvidos pelos deputados. Parece óbvio que não têm ouvido a mudança de humor do público e muito menos as preocupações dos britânicos nos outros países da UE. Mas a Alemanha tem-nos dado muito apoio..Só queria que o governo britânico reconsiderasse o Brexit e revogasse o artigo 50.º com ou sem um novo referendo. Parece improvável, mas a esperança é a última a morrer.."Nenhum de nós pode planear o seu futuro".Jennifer Dobson, FrançaTem 21 anos e deixou o Reino Unido com os pais quanto tinha 5. É recém-licenciada. .Eu não pude votar porque fiz 18 anos em França e estava há demasiado tempo fora do Reino Unido. Se tivesse votado, seria para ficar na UE, porque cresci em França e sei perfeitamente quais são os benefícios da UE..O impacto do Brexit na minha vida será enorme. Desde esse dia, ficarei em desvantagem em relação aos meus colegas do curso de Gestão de Eventos, porque eles terão liberdade de movimentos e eu não. No meu trabalho, isso é importante e é algo que nunca pensei que pudesse perder. Estou a pedir autorização de residência para poder continuar a trabalhar, mas estou preocupada porque pode ser difícil. Trabalho com contratos de curta duração como assistente de palco na Disneyland Paris e o salário não é estável. Queria candidatar-me à cidadania, mas preciso de um contrato permanente, apesar de ter vivido em França toda a minha vida..Gostaria que o artigo 50.º fosse revogado. Não consigo ver os benefícios do Brexit. A minha geração votou fortemente para ficar porque é o nosso futuro. Se houver segunda votação, aqueles que vivem na UE deviam ter direito a votar, porque somos os que sofrem mais..O negócio dos meus pais depende dos clientes britânicos em França, mas não sabemos como isto vai ficar. Uma das minhas irmãs estuda na Holanda. Até sabermos as implicações do novo estatuto que vamos receber, nenhum de nós pode planear o futuro.."Theresa May usou-nos como moeda de troca".Neal Whatson, RoméniaTem 52 anos e é engenheiro de perfuração. Em Bucareste há 14 meses, viveu na Áustria..Sou um remainer. Não quero mudanças na nossa relação enquanto membros plenos da UE. O Brexit causa-me muita preocupação por não saber qual será o impacto na minha vida e no meu trabalho. Sou empregado de uma empresa austríaca, destacado em Bucareste. Já vivi cinco anos na Áustria e antes na Noruega..O Brexit também causou algum stress na minha família, já que alguns votaram para sair. Claro que a posição deles é fundamentada em anos de imprensa de direita no Reino Unido a culpar a UE de tudo o que está mal. Tento falar com eles, mas para alguns é quase uma religião, não querem lidar com os factos porque isso contradiz a sua visão da vida. Não acreditam que um "não acordo" terá um impacto negativo. Estou preocupado com o impacto a longo prazo nas oportunidades que os meus sobrinhos e sobrinhas terão de viver, estudar e trabalhar na UE, com o bem-estar económico do meu país e a sua reputação enquanto uma sociedade acolhedora e tolerante..O governo devia ter garantido os direitos dos cidadãos da UE no Reino Unido desde o início. Estou certo de que, se o tivesse feito, os outros 27 teriam retribuído. Em vez disso, Theresa May usou-nos como moeda de troca e deixou cinco milhões de pessoas no limbo. A sua atitude e a linguagem dos maiores defensores do Brexit expuseram os cidadãos da UE no Reino Unido a atitudes xenófobas tóxicas, o que é imperdoável.