Na quadra 702 Sul de Brasília situa-se o Santuário João Bosco, em homenagem ao padroeiro da capital. A 14 de março de 1985, apenas 15 meses após a sua inauguração, as 80 colunas do templo foram abaladas pela agitação dos fiéis presentes a uma missa..Um deles queixou-se de fortes dores abdominais e foi conduzido à pressa, sob as 435 lâmpadas que compõem o lustre de 3,5 metros do santuário e os vitrais em 12 tons de azul, para o hospital mais próximo..Trinta e seis dias e sete cirurgias depois, morreria, aos 75 anos, já em São Paulo, vítima de infeção generalizada..Chamava-se Tancredo Neves, havia sido eleito em janeiro daquele ano o primeiro presidente da República pós-ditadura militar e tomaria posse no dia seguinte à missa no Santuário João Bosco se a sua saúde não tivesse desmoronado..Durante a campanha para as indiretas que o elegeram, Tancredo tinha um preferido para vice-presidente. E os partidos da sua coligação ainda avançaram com três alternativas. Mas, por uma razão ou por outra, todos os quatro nomes acabaram recusados em favor de José Sarney, que, mesmo sendo quinta escolha, com a morte de Tancredo se tornaria presidente da República..Mais ou menos por essa altura, ao perder a eleição para o governo de Minas Gerais, um experiente senador já se conformava com o papel secundário que a história lhe reservara quando recebeu um inusitado convite. Um obscuro candidato à presidência precisava de alguém com o seu low profile para o acompanhar na aventura. O obscuro candidato, Collor de Mello, acabaria por superar os quatro candidatos à sua frente nas sondagens e eleger-se. Para cair, pouco depois, abrindo caminho para o experiente senador low profile Itamar Franco chegar ao Planalto..Já depois dos oito anos de governo do seu ministro das Finanças, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, e de outros oito sob administração de Lula da Silva, a sucessora deste, Dilma Rousseff, procurava em 2010 um candidato a vice. Os nomes inicialmente propostos, com afinidades ao PT, não agradaram. Teria, para agregar votos, de ser alguém de um partido à direita, definiu Lula. As duas primeiras sugestões do maior desses partidos, o PMDB, pareceram fracas. A terceira, péssima. No entanto, como se tratava do todo-poderoso presidente do partido, Michel Temer, acabaria por prosperar. Seis anos depois, ele substituí-la-ia..Serve esta breve introdução - que de breve não teve nada - para apresentar o general Paulo Assis. Quem? Já voltamos a ele..Até meados do ano, o candidato a vice dos sonhos de Jair Bolsonaro era o senador Magno Malta, pastor protestante, adepto da cura gay e vocalista da banda gospel Tempero do Amor, para conquistar o voto evangélico. Recusou, para tentar a reeleição para o Senado - perderia, por ironia, para um ativista homossexual..Seguiu-se a opção por Janaína Paschoal, advogada que redigiu o impeachment, vetada por divergência de discurso com Bolsonaro e por determinação de Olavo de Carvalho, o guru do presidente eleito..Nas vésperas do prazo-limite para apresentação do vice, surgiu o nome de Luiz Philippe de Orléans e Bragança, descendente de Dom Pedro II, segundo e último imperador do Brasil, de 1840 a 1889, e sobrinho de Luiz Gastão de Orléans e Bragança, atual chefe da Casa Imperial e, portanto, rei, caso a república do Brasil fosse uma monarquia..Mas em cima da hora, por intermediação do citado general Assis, que comandou no Exército o capitão Jair Bolsonaro, foi o general Hamilton Mourão o escolhido. Acabou eleito a 28 de outubro..Garantiu Assis, em entrevista ao The Intercept Brasil na semana passada, que Mourão será o presidente seguinte. Antes ou depois de 2022, sugeriu..Com um histórico de terceiras, quartas e quintas escolhas alçadas a chefes de Estado no país, ninguém pode ter a coragem de duvidar. Com um caso suspeito, como o do assessor milionário Fabrício Queiroz, a perseguir Bolsonaro ainda antes da posse, menos ainda.
Na quadra 702 Sul de Brasília situa-se o Santuário João Bosco, em homenagem ao padroeiro da capital. A 14 de março de 1985, apenas 15 meses após a sua inauguração, as 80 colunas do templo foram abaladas pela agitação dos fiéis presentes a uma missa..Um deles queixou-se de fortes dores abdominais e foi conduzido à pressa, sob as 435 lâmpadas que compõem o lustre de 3,5 metros do santuário e os vitrais em 12 tons de azul, para o hospital mais próximo..Trinta e seis dias e sete cirurgias depois, morreria, aos 75 anos, já em São Paulo, vítima de infeção generalizada..Chamava-se Tancredo Neves, havia sido eleito em janeiro daquele ano o primeiro presidente da República pós-ditadura militar e tomaria posse no dia seguinte à missa no Santuário João Bosco se a sua saúde não tivesse desmoronado..Durante a campanha para as indiretas que o elegeram, Tancredo tinha um preferido para vice-presidente. E os partidos da sua coligação ainda avançaram com três alternativas. Mas, por uma razão ou por outra, todos os quatro nomes acabaram recusados em favor de José Sarney, que, mesmo sendo quinta escolha, com a morte de Tancredo se tornaria presidente da República..Mais ou menos por essa altura, ao perder a eleição para o governo de Minas Gerais, um experiente senador já se conformava com o papel secundário que a história lhe reservara quando recebeu um inusitado convite. Um obscuro candidato à presidência precisava de alguém com o seu low profile para o acompanhar na aventura. O obscuro candidato, Collor de Mello, acabaria por superar os quatro candidatos à sua frente nas sondagens e eleger-se. Para cair, pouco depois, abrindo caminho para o experiente senador low profile Itamar Franco chegar ao Planalto..Já depois dos oito anos de governo do seu ministro das Finanças, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, e de outros oito sob administração de Lula da Silva, a sucessora deste, Dilma Rousseff, procurava em 2010 um candidato a vice. Os nomes inicialmente propostos, com afinidades ao PT, não agradaram. Teria, para agregar votos, de ser alguém de um partido à direita, definiu Lula. As duas primeiras sugestões do maior desses partidos, o PMDB, pareceram fracas. A terceira, péssima. No entanto, como se tratava do todo-poderoso presidente do partido, Michel Temer, acabaria por prosperar. Seis anos depois, ele substituí-la-ia..Serve esta breve introdução - que de breve não teve nada - para apresentar o general Paulo Assis. Quem? Já voltamos a ele..Até meados do ano, o candidato a vice dos sonhos de Jair Bolsonaro era o senador Magno Malta, pastor protestante, adepto da cura gay e vocalista da banda gospel Tempero do Amor, para conquistar o voto evangélico. Recusou, para tentar a reeleição para o Senado - perderia, por ironia, para um ativista homossexual..Seguiu-se a opção por Janaína Paschoal, advogada que redigiu o impeachment, vetada por divergência de discurso com Bolsonaro e por determinação de Olavo de Carvalho, o guru do presidente eleito..Nas vésperas do prazo-limite para apresentação do vice, surgiu o nome de Luiz Philippe de Orléans e Bragança, descendente de Dom Pedro II, segundo e último imperador do Brasil, de 1840 a 1889, e sobrinho de Luiz Gastão de Orléans e Bragança, atual chefe da Casa Imperial e, portanto, rei, caso a república do Brasil fosse uma monarquia..Mas em cima da hora, por intermediação do citado general Assis, que comandou no Exército o capitão Jair Bolsonaro, foi o general Hamilton Mourão o escolhido. Acabou eleito a 28 de outubro..Garantiu Assis, em entrevista ao The Intercept Brasil na semana passada, que Mourão será o presidente seguinte. Antes ou depois de 2022, sugeriu..Com um histórico de terceiras, quartas e quintas escolhas alçadas a chefes de Estado no país, ninguém pode ter a coragem de duvidar. Com um caso suspeito, como o do assessor milionário Fabrício Queiroz, a perseguir Bolsonaro ainda antes da posse, menos ainda.