No balanço destes 45 anos desde o 25 de Abril é inquestionável reconhecer como positivo a conquista e manutenção das liberdades que a Constituição de 1976 consagrou e os progressos sociais conseguidos na saúde, na educação, na segurança social, na atenuação das desigualdades. Tivemos estabilidade política e os governos fizeram as reformas que permitiram alcançar bons resultados nessas áreas fundamentais para o bem-estar dos portugueses. Mas falhámos na economia, não produzimos o bastante para garantir os níveis do investimento e da despesa necessários à manutenção e ao progresso do Estado social a que aspiramos. Por isso nos endividámos em excesso, o Estado, as empresas e as famílias. É esse o nosso calcanhar de Aquiles..Uma das causas dessa incapacidade de criar riqueza radica no processo nada democrático que se seguiu ao dia 25 de abril de 1974..É claro que o golpe militar que pôs termo ao regime de ditadura anterior teve legitimidade indiscutível..Fui acordado em sobressalto com um toque do telefone fixo da minha casa - nessa época um telefonema durante a noite era normalmente para anunciar coisa má. Do outro lado, o meu amigo José Niza, autor da letra da canção que serviu de senha para o início da operação militar, anunciava-me, eufórico, que estava em curso o derrube do regime. Tive uma explosão de alegria. Mas pouco tempo depois percebi que o comando da revolução não queria a democracia nem a liberdade. Seguiram-se meses de caos, prisões arbitrárias, tomada dos media por forças radicais, o chamado PREC, que conduzia o país para uma outra ditadura, porventura mais cruel, à moda soviética. Esse processo atingiu o seu clímax a 11 de março de 1975, em que numa assembleia de militares não identificados, entre propostas de fuzilamento de militares democratas que tentaram impedir o radicalismo crescente, foram decididas as nacionalizações do sistema financeiro. Nos meses que se seguiram foram nacionalizadas todas as empresas industriais e de transportes de alguma dimensão, a ocupação selvagem das explorações agrícolas mais bem geridas. Em pouquíssimo tempo a economia foi destruída. E as forças radicais ainda impuseram um pacto aos partidos que, entre outras coisas, impediu a privatização das empresas nacionalizadas por quase 20 anos. A nossa Constituição só foi revista e permitiu as privatizações depois da queda do Muro de Berlim. Nunca recuperámos desse trauma..Passados estes 45 anos, não temos um grande banco controlado por portugueses, não temos uma grande indústria em mãos nacionais, perdemos todos os centros de decisão económica. E, talvez pior do que tudo isso, instalou-se uma cultura antiliberal, que desconfia das empresas e dos empresários, que diaboliza o risco e que considera crime o falhanço empresarial..Advogado