Crédito para a habitação, crédito para o carro, crédito para as obras, crédito para as férias, crédito para tudo... Foi assim a vida de muitos portugueses antes da crise, a contrair crédito sobre crédito. Particulares e também os bancos (que facilitaram demais) ficaram com culpas no cartório. A pergunta que vale a pena fazer hoje é se, depois da crise e da intervenção da troika, a realidade terá mudado assim tanto? Parece que não. Hoje não é só o Estado que está sobre-endividado, mas são também os privados, quer as empresas quer os particulares..Falando dos particulares, o Banco de Portugal adotou medidas para travar o crédito. O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, diz que "são necessárias medidas que ataquem os desenvolvimentos sistémicos negativos resultantes da interação das decisões individuais, mesmo que fundamentadas - medidas que visem mitigar os efeitos sistémicos negativos sobre a estabilidade das instituições financeiras". Afirmações proferidas numa conferência do BdP sobre supervisão comportamental, ontem, terça-feira..Carlos Costa afirma que "os agentes económicos não têm em conta e, portanto, não contemplam as externalidades das suas decisões ou ações, em particular o risco sistémico"... A juntar a decisões, mais ou menos racionais, junta-se outro fator que considera inflamável: a euforia do mercado imobiliário. "A intensidade e a propagação de expectativas distorcidas de valorização de ativos são tanto maiores quanto menor for a literacia e a experiência financeiras de uma dada população.".Para prevenir novas loucuras na atribuição de crédito, o BdP fez recomendações que as instituições têm de aplicar ao emprestarem dinheiro. Essas medidas já entraram em vigor em julho deste ano. O supervisor quer que, regra geral, os bancos não concedam um empréstimo à habitação superior a 90% à avaliação do imóvel e que o peso das prestações do crédito, mesmo incorporando uma subida dos juros, não absorva mais de metade do rendimento das famílias e quer prazos mais curtos no crédito. Basta bom senso para não concordar com empréstimos que vão aos 40 ou além dos 40 anos... Apesar destes travões, os bancos concederam mais de 900 milhões de euros para a compra de casa precisamente no mês de julho, o segundo valor mais elevado deste ano. Será que estas recomendações são insuficientes para travar os excessos no crédito? Será preciso ser mais duro nas medidas?