Primeiro a escola, depois a cidade. Como o Sp. Braga está a captar novos sócios e adeptos

Através do coração futebolístico dos miúdos nas escolas, o Sporting de Braga ultrapassa o estigma do clube dos adeptos dos três grandes bracarenses. Agora, a tendência na região é a do braguismo primeiro. Nesta sexta-feira, há dérbi contra o rival V. Guimarães.
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O início da operação de charme Turma Gverreira, estratégia dos departamentos de sócios, de marketing e de comunicação do Sporting Clube de Braga para amplificar o nome do clube na região da capital minhota, teve os seus primórdios em 2006, coincidindo com a chegada de João Vieira Pinto ao Arsenal minhoto. Atualmente, é uma ação de angariação de novos públicos (literalmente: jovens e novos adeptos) que já passou por perto de uma centena de escolas no concelho, tem repercussão no aumento de sócios, de adeptos e na mudança da consciência bracarense.

Hoje, inverte-se um processo que já estava colado há décadas aos simpatizantes do líder da I Liga (em igualdade pontual com o Benfica): eram fãs dos três grandes que deixavam um espaço no coração para o Braguinha. Agora, são braguistas. Braga, Braga, Braga - e pouco ou nenhum Benfica, FC Porto ou Sporting, havendo até alguma animosidade e agressividade para com os seguidores dos três grandes (especialmente os do parceiro de liderança do campeonato).

O processo de braguismização em curso leva cerca de uma década, tornando-se cada vez mais assertiva, eficaz e sem nunca perder a essência e o objetivo, tendo nas visitas de craques das equipas masculina e feminina às escolas de Braga um pilar fundamental (53 jogadores da equipa principal masculina, alguns deles mais do que uma vez, e oito jogadoras da equipa feminina, que recentemente passaram a integrar esta iniciativa, sendo que não há números dos primeiros anos).

"A estratégia das escolas, que tem outras faces, privilegia a ligação afetiva e a proximidade com o clube. Estamos a falar de idades em que a preferência clubística ainda se está a formar, pelo que a expectativa passa por criar gosto pelo clube no imediato, conquistar as crianças e jovens como adeptos e permitir que sejam os sócios e os 'clientes' do SC Braga no futuro", enquadra o diretor de marketing, Rui Soares.

O coordenador da Escola Básica de São João de Souto (no centro histórico da cidade), Luís Filipe Fonseca, traduz em emoção: "Infelizmente, em Portugal, temos o vício de sermos do Benfica, do FC Porto ou do Sporting. Agora, já se nota muita diferença, relativamente a 2009, quando vim para cá [Braga, ele que nasceu há 39 anos em Nespereira, Cinfães]. Na altura, era: 'miúdo, de que clube és? Benfica. FC Porto. Sporting.' Agora, dizem que são do Braga. Alguns ainda poderão dizer que também são de um dos três grandes. Mas já se vê uma franja de miúdos que são apenas braguistas."

Só nos últimos três anos, dezenas de atletas heróis estabeleceram algum tipo de vínculo com 2514 alunos em 16 visitas, numa média de 160 alunos por visita. Um ritmo que é definido para não esgotar a paciência aos miúdos e, obviamente, pelo calendário da equipa principal - e neste ano será forte, uma vez que a equipa de Abel Ferreira já ficou pelo caminho na Liga Europa e compete nas três frentes nacionais (Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga).

"Para mim, é uma dor de cabeça. Tenho de controlar os meninos para que não sufoquem os jogadores. Para os professores, também é algo mágico, ter ali jogadores do Braga. Quando era pequenino também via os jogadores como super-heróis, hoje vê-se que são pessoas como nós, têm umas pernas mais musculadas e compleição física mais forte. Mas também ajuda a acabar com esse mito", conta Luís Filipe Fonseca, cuja escola recebeu a visita de João Novais, Fábio Martins e Claudemir logo no início da época (além de duas craques da poderosa equipa feminina). "Estas visitas também atraem os adultos, dos professores aos auxiliares", observa o professor que também é treinador de jovens aspirantes a futebolistas (neste momento, orienta uma equipa de iniciados na Escola Craquenet). É tudo ganho para a SAD/clube: ao lançar o charme para conquistar a preferência clubística dos jovens, acaba por ativar ou reativar as ligações de alguns adultos com o emblema.

"Por norma, os miúdos ficam completamente eufóricos. Há alguns que ficam petrificados. 'Uau, jogadores do Braga, aqui?'", relata Luís Filipe Fonseca. "Os miúdos absorvem-nos completamente, abafam-nos. Os jogadores estavam a trocar umas bolas e já não tinham espaço para o fazer."

Número de sócios sempre a aumentar

Toda esta excitação tem consequências. A evolução do número de sócios entre dezembro de 2015 e a atualidade: 20 384 para 24 781. Destes, 11 541 têm 18 ou menos anos. "Em dezembro de 2009, os sócios sub-15 eram 7517, hoje são 7998. E há um dado muito relevante a comunicar: em 2009, os sócios sub-14 não pagavam quota, o que hoje se verifica. Ou seja, crescemos num contexto de mudança de não pagantes para pagantes", explica Álvaro Portela, responsável pelo departamento de sócios do Sporting de Braga.

A ambição publicamente manifestada pelo presidente António Salvador é a der ser campeão nacional até 2021, ano do centenário do clube. Para isso, o clube precisa de massa crítica e de apoio. Por isso é que o programa Turma Gverreira é fulcral para o crescimento dos braguistas e do Braga. "Num plano mais amplo, facilitamos o processo de inscrição como sócio, com o kit de novo sócio presente em mais de meia centena de espaços comerciais da região, e as vantagens que lhe estão associadas. Em função da localização periférica do estádio, sentimos necessidade de nos aproximar da cidade, de pertencermos ao seu dia-a-dia e de termos a marca presente no quotidiano das pessoas", avança Rui Soares.

"Realizamos imensos eventos pela cidade e potenciamos a proximidade com os adeptos, confiando que esta estratégia, aliada aos resultados desportivos, permitirá a solidificação do SC Braga como o clube de uma cidade que tem especificidades demográficas. Acrescento que no âmbito da Turma Gverreira, temos protocolos com as instituições de ensino para que, em cada jogo em casa, se preencha um setor do estádio denominado Turma Gverreira. Essa iniciativa foi inaugurada nesta época, com números muito interessantes, superiores a dois mil/jogo, uma vez que além de convidarmos algumas turmas - a ideia é que no final da época todos os estudantes do concelho tenham tido a oportunidade de assistir a um jogo -, damos também a possibilidade de eles virem acompanhados pelos pais, a um preço especial", conclui o diretor de marketing.

Nesta sexta-feira, o jogo no terreno do vizinho e rival Vitória de Guimarães é especial por várias razões. Para manter a vaga na liderança da I Liga; por se tratar de um dérbi com uma rivalidade muito encarniçada (ainda no fim de semana passado os braguistas se queixaram de ser agredidos pelos vitorianos quando faziam o caminho de regresso a Braga após o triunfo, por 1-0, em Felgueiras, para a Taça de Portugal); por ser, finalmente, frente a um clube de adeptos genuínos - em Guimarães, ou se é vitoriano ou não se é nada. Espírito de Conquistadores. O processo de braguismização em curso está a pôr os rivais minhotos a um nível mais aproximado no que toca a lealdade dos nativos.

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