O indicador que mede o custo da habitação em relação ao rendimento disponível das famílias portuguesas teve o maior agravamento do grupo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) em 2018, comparativamente a 2017. O preço das casas é dos que mais sobem neste grupo da OCDE, mas o mesmo não se pode dizer dos salários..Portugal registou uma subida de 6% nessa disparidade entre custo da habitação e rendimento, num grupo de 22 economias estudadas, mostram cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base em dados do novo panorama económico da OCDE (outlook), divulgados nesta semana. É a maior subida destes registos, que remontam a 1999..Ou seja, neste grupo da OCDE as famílias portuguesas são as que mais perdem poder de compra em 2018, tendo em conta a subida de preços quase generalizada da habitação no território..O segundo maior aperto nesta relação custo habitacional/rendimento familiar ocorre num país mais próspero do que Portugal, a Irlanda, onde a subida anual foi de 5,3% em 2018. Na Holanda, um dos países mais ricos da zona euro, o aumento da disparidade foi de 5,2%; está em terceiro lugar..No grupo da OCDE, o agravamento médio foi de apenas 1%. Na zona euro não foi além dos 1,3%..No extremo oposto aparecem dois países escandinavos, onde as casas estão a ficar mais acessíveis face ao poder de compra. O custo relativo da habitação em relação aos níveis de rendimento das famílias caiu 4,9% na Suécia e 3,3% na Finlândia, mostram os mesmos cálculos do DN/Dinheiro Vivo..Os dados mostram ainda que este indicador da disparidade financeira no acesso à habitação está a apertar cada vez mais em Portugal. Esse fenómeno dura já há três anos consecutivos. Embora a relação entre custo imobiliário e rendimento esteja ligeiramente abaixo da média de longo prazo (esteve em queda entre 2002 e 2015), a tendência foi interrompida em 2016, com uma subida de quase 4%. Em 2017, o agravamento foi de mais 5,6%..A OCDE não aborda o problema da habitação em Portugal no novo outlook, mas neste ano a instituição até já se debruçou sobre o tema, assim como outras entidades (Comissão Europeia, FMI, Banco de Portugal)..Neste estudo a OCDE mostra algo que ajuda a explicar o que está a acontecer. Portugal teve em 2018 o segundo maior aumento nominal do preço das casas (num grupo de 33 países), com uma subida superior a 10%, cinco vezes mais do que a expansão salarial (ver infografia abaixo). Mais só na Eslovénia (15%)..Untitled infographic Infogram.Em contrapartida, o salário médio por trabalhador teve dos avanços mais baixos (11.º mais fraco) no tal grupo de 33 economias. O aumento médio nominal salarial ficou em 2% no ano passado, indica a OCDE..Turismo ajuda a explicar.Recentemente, no extenso estudo económico que fez sobre Portugal, a OCDE alertou para o facto de a habitação estar sob uma "considerável pressão"..Referiu que o "boom do turismo" e a política dos vistos gold aumentaram muito a procura de casas "especialmente em Lisboa, no Porto e no Algarve", mas que "o crescimento da oferta de habitação não acompanhou o ritmo"..Untitled infographic Infogram.Entre 2007 e 2014 o investimento anual em habitação caiu mais de 50%, logo, boa parte do crescimento não chega para compensar esse grau de destruição dos anos da crise. "Nos últimos anos tem havido um aumento constante na oferta de alojamentos turísticos." O número de camas "aumentou 23% entre 2013 e 2017"; um terço desse crescimento tem que ver com a maior disponibilidade de "quartos em habitações locais".."Em Lisboa, a oferta do Airbnb mais do que duplicou" desde 2015, mas a procura turística total continua a ultrapassar claramente a oferta. Isto está a conduzir "a um forte crescimento dos preços do alojamento turístico" e contribui para uma "pressão ascendente sobre as rendas da habitação" e outros custos, em Portugal..A OCDE conclui que este ambiente pode "reduzir a competitividade do setor do turismo em Portugal" e pode levar a "intervenções políticas que limitam a expansão do turismo", como por exemplo medidas que promovam a habitação a preços mais acessíveis, como já está a acontecer.