Águeda é muito mais do que uma terra atravessada pelo rio que lhe dá nome. Muito mais do que as sombrinhas que desde 2012 a pintam de todas as cores. É a capital das bicicletas, uma indústria que se tem alargado a outros concelhos e que transformaram Portugal no maior exportador europeu - 2,7 milhões de unidades em 2019. O negócio não parou com a pandemia..Na cidade, são sobretudo os mais velhos que as usam nas deslocações diárias, mas ao fim de semana a bicicleta vem à rua com todas as idades e conduzidas por gente equipada a rigor. Há, também, muitos clubes que promovem o ciclismo..São muitas as empresas dedicadas ao fabrico de componentes para bicicletas, que as montam e abastecem as principais marcas estrangeiras. Estão sediadas no "vale das bicicletas", que inclui Águeda, Anadia, Aveiro e Murtosa. Contribuem para haver pouco desemprego e os salários sejam ligeiramente superiores ao que recebem os operários na indústria, 20 a 30 euros acima do salário mínimo nacional, 635 euros..O negócio terá surgido a partir da indústria metalomecânica, em que a região deu cartas. Fornecia a matéria-prima e o saber necessários, o resto foi evoluindo com os anos. Houve unidades que fecharam, as que ficaram e surgiram especializaram-se em componentes específicos e seguindo a mais moderna tecnologia..Vai quase tudo para exportação, o número de ciclistas também está a crescer em Portugal mas ainda são poucos os que optam pelas bicicletas elétricas, em grande expansão em toda a Europa, dizem os empresários locais. Há apenas quatro lojas de venda de bicicletas em Águeda e não sentem o mesmo incremento que as fábricas, apesar de registarem uma grande procura nos últimos meses e estarem sem artigos para tanta procura..Luís Silva tem uma loja há seis anos num supermercado de Águeda, a Oli Bike. Decorada com as sombrinhas e as bicicletas para venda, agora praticamente só as usadas. São as que ficam como retoma das novas que comercializam, marcas internacionais..A loja fechou na primeira semana do estado de emergência, a 16 de março, abriu quando se percebeu que estas lojas não estavam obrigadas a fechar. Para abastecer clientes que praticam a modalidade em grupo, alguns que competem e os ainda poucos que as utilizam nas deslocações. O custo de uma bicicleta pode começar nos 400 euros e acabar nos 20 mil, dependendo do modelo e do material.."O negócio está como nunca esteve, não há bicicletas para vender, é um problema mundial. Ainda conseguimos comprar no início da pandemia, depois as principais marcas deixaram de ter para entrega. A coleção 2021 foi agora lançada e começam a chegar os primeiros modelos", diz Luís Silva, que espera chegar ao final do ano com mais do dobro da faturação de 2019..Compra sobretudo em Espanha e na Alemanha, muitas das vezes bicicletas com componentes e montagem em Portugal..O exemplo máximo é a Triangle's, que exporta 100% da produção. É especializada em quadros de bicicleta em alumínio para e-bikes (bicicletas elétricas), produto de alta gama. É a única da Europa completamente robotizada, com máquinas alemãs concebidas propositadamente e segundo as indicações dos seus engenheiros. "Criámos a fábrica para fornecer o mercado europeu, mas não conseguimos satisfazer todas as necessidades do mercado", diz Luís Pedro, formado em Engenharia e Gestão Industrial, diretor-geral da empresa..Foi criada em 2015 a partir de um consórcio de três empresas do ramo: Rodi (maioritária), Miranda & Irmão e Ciclo Fabril, com um investimento de 32 milhões de euros. Esperam equilibrar as contas no próximo ano. Começaram a laborar em dezembro de 2016, mas só em 2017 engrenaram. Tem crescido 30% a 40% ao ano, ritmo que pensam manter neste ano.."A pandemia teve um efeito positivo no setor. Quando a Europa fechou, a área das bicicletas continuou a crescer e mais do que era expectável. Muita gente passou a deslocar-se de bicicleta elétrica, o que não acontece em Portugal, a experiência do uso da bicicleta para as deslocações para o trabalho ainda é diminuta. Na Alemanha, na Holanda e na Dinamarca é o principal meio de transporte", sublinha Luís Pedro..Quando Júlio Cruz começou a andar de bicicleta não tinha outras opções. E só se podia ter uma bicicleta aos 18 anos. Teve de ir ao regedor abrir o sinal nas finanças para tirar a licença de condução. "Íamos com um requerimento da câmara, eles ensinavam os sinais de trânsito, pagávamos 20 escudos e tínhamos a licença.".Tem 76 anos, "nascido, criado e batizado em Paredes", Águeda. Pedala numa pasteleira, que diz ser mais velha do que ele, uma bicicleta de mulher. Como lhe foi parar às mãos? "É uma grande história." História que começa em 1962..Júlio trabalhava desde os 13 anos na metalúrgica Amaro, começou a ganhar seis escudos ao dia. Foi sendo aumentado, mas não tanto como era exigido. Quando fez 18 anos, recebia 14,6 escudos/dia e o devido era 26,80.."Fiz 18 anos em janeiro e não me aumentaram, estávamos quase no final do ano, quando apareceram os fiscais do trabalho. Recebíamos à semana e era o empregado do escritório que vinha com uma folha e entregava o dinheiro, estávamos sempre a espreitar para ver se havia um aumento. Nesse dia, ele disse: 'Escusas de olhar, vieram os fiscais e vais receber os 28,60 escudos que o patrão é obrigado a pagar e com retroativos. No fim do dia, deixa sair todos e passa pelo escritório.' E assim foi, recebi um envelope cheio de notas, uma fortuna.".Júlio Cruz recorda esse dia como se fosse hoje, E até as palavras do Sr. Amaro, o patrão, disse-lhe para entregar o dinheiro ao pai, que também trabalhava na firma. "Éramos pobrezitos, sete irmãos", conta. Respondeu: "Está bem, não se preocupe Sr. Amaro.".Nem sentiu o chão no caminho para casa, tão contente ia que a mãe desconfiou. Decidiram não contar nada ao pai e repartir o dinheiro pelos dois. O irmão, dois anos mais novo mas mais aventureiro, disse-lhe logo que devia comprar uma bicicleta. Ele respondeu que não sabia andar, o irmão prometeu ensinar-lhe e lá foi ao Abrantes pedir para lhe "montar uma bicicleta"..O irmão apareceu à porta da metalúrgica na sexta-feira seguinte a ter recebido o dinheiro, no sábado foram para um descampado para ele aprender. No domingo, já foi com ela ao centro de Águeda, fazendo jus à pasteleira, "andar a pastelar", mas sem cair. Apenas rasgou um casaco ao fazer uma razia a um muro numa descida..A bicicleta de Júlio Cruz era de marca estrangeira, uma Rudge (inglesa), um topo de gama que lhe custou dois mil escudos..A maior parte do que é produzido em Portugal é para exportação, apenas 10% fica cá. É o primeiro exportador europeu, segundo dados do Eurostat, produz u o equivalente a 2,7 milhões de bicicletas em 2019, à frente da Itália (2,1 milhões), da Alemanha (1,5 milhões), da Polónia (0,9 milhões) e dos Países Baixos (0,7 milhões). Estes cinco países representam 70% da produção total da União Europeia, mais 5% do que em 2018..De Portugal saíram unidades e componentes no valor de mais de 400 milhões de euros (402 942 434) em 2019, um aumento de 22,5% em relação a 2018 (328 966 328), que já tinha registado uma subida de 10% comparativamente a 2017 (299 253 787). Acrescentam-se os 10% que ficam em Portugal, ou seja, 40 milhões de euros em 2019, segundo dados da Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Imobiliário e Afins (ABIMOTA)..O Instituto Nacional de Estatística (INE) indica que exportámos 1,5 bicicletas sem motor em 2019, ligeiramente menos do que em 2018 (1,7 milhões), mas em contrapartida quadruplicou a exportação destes veículos a motor de 2018 para 2019 - venderam cem mil unidades, fora todos os componentes para estes modelos..Nas bicicletas tradicionais, exportamos sobretudo para a Alemanha (39 milhões de euros), seguindo-se a Espanha (35 milhões) e a França (21 milhões). Nos veículos elétricos, lidera a Espanha (25 milhões de euros), em segundo os Países Baixos (13 milhões) e a França em terceiro, mas com valores muito inferiores (2,2 milhões de euros). As importações são muito mais diminutas, Espanha surge como o principal país de origem (1,7 milhões de euros)..Em 2020, os valores dos primeiros sete meses do ano indicam uma quebra de vendas em março, que se agravou em abril, mas que começou a subir em maio. Em julho, exportámos bicicletas tradicionais no valor de 26 milhões de euros, mais do que em janeiro, 22 milhões. E, nas elétricas, a faturação mais do que duplicou - 12,4 milhões de euros em julho contra 5,6 milhões em janeiro..Apenas duas fábricas portuguesas têm marca própria: a Eleven (Águeda) e a Beeq (Vila Nova de Gaia), sobretudo bicicletas elétricas. A Esmaltina também as faz mas surgem no mercado em nome de outras empresas. Por exemplo, as bicicletas Colluer (espanhola) e Merida (alemã) são fabricadas em Portugal. E o gigante asiático FJ Bikes (Fritz Jou Manufacturing ), de Taiwan, instalou-se em Águeda. "Existem fábricas de bicicletas desde Braga até Vila Franca de Xira, mas em Águeda estão mais concentradas", explica Gil Nadais, o secretário-geral da ABIMOTA..Há 55 anos, Júlio Cruz andava com a sua pasteleira para todo o lado. "Ia à Costa Nova [45 km], a Oliveira de Azeméis [33 km], era o nosso transporte, não havia dinheiro para mais, naquele tempo quem tinha uma bicicleta era um doutor", conta..Foi à tropa, 36 meses no Ralis em Lisboa, casou-se, começou a ganhar "melhorzinho" e comprou uma motorizada. Vendeu a bicicleta por 500 escudos. Comprou depois um carro, que foi trocando e passou a ser o principal meio de transporte..Com o avançar da idade e o número e de deslocações a baixar, voltou à bicicleta. Deu-lhe um vizinho, que estava doente e ele levava ao hospital, em Aveiro. Disse-lhe: "Não sei como te hei de pagar, esta bicicleta é para ti.".Júlio arranjou a bicicleta, meteu pneus novos, passados dois dias, roubaram-lha. Ficou desolado, outro amigo lembrou-se da bicicleta da avó que estava arrumada a um canto. Disse-lhe: "Estima isto que é uma relíquia, era da minha avó. Deve ter mais de 80 anos.".Boa para dar as suas voltinhas pela cidade, mantém o carro para as viagens mais longas, aos domingos. Dia em que vai à missa e almoça no restaurante Tem-Tem. Fim da história..Tempos bem diferentes dos atuais. Na Triangle's só fazem quadros e é um robô que os solda, oito modelos, com um preço médio de 150 euros por unidade. Componente para as bicicletas elétricas de "gama alta" das principais marcas europeias, não custam menos de cinco mil euros. Fornecem as principais empresas de e-bikes, sobretudo para Alemanha, Holanda e Espanha..A Triangle's surgiu a partir da constatação de que era preciso um fornecedor europeu para concorrer com a Ásia, onde os quadros são fabricados de forma tradicional. Aqui, os quadros são soldados por um robô, o que permite reduzir a mão-de-obra em 80%, tornando o valor final muito competitivo com a China. Com a vantagem de serem produzidos com os critérios de qualidade europeus e chegarem "no prazo de três a quatro dias para qualquer ponto da Europa"..Vinte e três mil metros quadrados no concelho da Águeda, instalações sem químicos à vista, cheiros ou ruídos. Robôs gigantes cortam, soldam, tratam e pintam os quadros, dependendo a pintura e os acabamentos da vontade dos clientes. O laboratório é uma área importante, onde se testa a resistência e a qualidade dos quadros..O número de robôs tem vindo a aumentar, compraram quatro recentemente e que estão a ser montados. Pedem ao DN para não fotografarmos demasiado perto, não vá alguém copiar o modelo. O mesmo pedido é feito na Miranda & Irmão, outro fabricante de componentes que visitámos..A carga e a descarga do material é manual, também os acabamentos, a inspeção e o controlo de qualidade. Ao todo, 205 trabalhadores, número que espera aumentar para 230 no próximo ano, 30% da mão-de-obra especializada, principalmente no ramo da engenharia..Não pararam com a pandemia. A produção está completamente tomada para os próximos três anos, o que os obriga a recusar projetos. "Infelizmente, não conseguimos fornecer tantos clientes como gostaríamos", diz Luís Pedro..Produzem uma média de 11 mil quatros por mês, 120 mil no final deste ano, esperando atingir os 250 mil anuais em 2022.."Nunca esteve tão bem a nível da exportação. Houve empresas que fecharam durante o estado de emergência, mas logo retomaram. Em maio estavam com uma diminuição de 20% da faturação, recuperaram para menos 4% e deverão superar os valores de 2019 até ao final do ano. O negócio de e-bikes aumentou 40%", informa Gil Nadais, um psicólogo que presidiu à Câmara Municipal de Águeda, três mandatos, e usa uma e-bike nas deslocações de casa para a associação..A Miranda & Irmão tem 70 anos de existência, vai na terceira geração, agora nas mãos de João Filipe Miranda e dois primos. O avô iniciou-se no negócio em 1940 mas só registou a empresa dez anos depois. Produzem vários tipos de componentes para bicicletas, como dropout e quadros, mas é nas pedaleiras (crank [manivela] e a roda dentada onde passa a corrente) que mais inovam e faturam, com um grande foco nas bicicletas elétricas."Existem milhares de variações, a nossa vantagem é que temos a produção otimizada de forma a conseguir uma grande flexibilidade", começa por explicar João Filipe Miranda, acrescentando: "Conseguimos desenvolver um modelo específico e personalizá-lo, interpretar as necessidades dos clientes e encontrar soluções. Somos muito versáteis, fazemos o fato à medida, é uma das nossas vantagens, além de que estamos próximos do cliente.".O avô começou por fazer faróis para as motorizadas e bicicletas, também pirilampos para tratores, acabando por se especializar em outros componentes. "A Ásia deu cabo disso tudo e tivemos de nos adaptar", explica o neto. Os materiais, principalmente o alumínio, e as fermentas são de fabrico nacional..Acabam de investir dez milhões de euros para ampliar as instalações, que terão dois pisos. Encontrando-se em fase de montagem das últimas máquinas para iniciar a produção em janeiro. Tudo computorizado e com grandes linhas de montagem. Tecnologia importada da Alemanha e desenvolvida pela Miranda & Irmão.."Há um conjunto de tecnologia desenvolvida por nós que faz que a corrente esteja sempre no lugar. Fazemos um produto técnico e apostamos em testá-lo intensamente", garante João Filipe, que é formado em Marketing e Gestão..Criam, testam e patenteiam, mais de 40 patentes internacionais. Em 2018 era a empresa com mais patentes sujeitas a aprovação. Afinal são 70 anos a trabalhar no ramo, razão pela qual é sigiloso o nome da marca alemã que lhes faz as máquinas."Expomos o produto num ano e, no seguinte, estamos a ser reproduzidos nas empresas asiáticas." Levaram uma dessas empresas a tribunal..A principal forma de testarem os produtos é através dos amantes do ciclismo, não só patrocinando ciclistas de estrada mas sobretudo na equipa da empresa: a Miranda Factory Team, com oito profissionais, campeões em Portugal..Constituem a seleção portuguesa, vice-campeã do mundo em cross country (endurance), na vertente e-bike, só não ganharam à Suécia. E, no último fim de semana, o júnior Nuno Reis subiu ao pódio nos dois dias da etapa da Taça do Mundo de Downhill 2020, em Maribor, na Eslovénia, com um segundo e um terceiro lugares..Ainda se vê a antiga parede que delimitava as antigas fábricas, quando era rainha a primeira máquina de forja automática. O alumínio entra em barra e é comprimido para dar forma à peça, produzem milhares de manivelas por dia. Há máquinas por todo o lado, algumas que pesam 300 toneladas e assentes numa estrutura com 30 metros de profundidade. Também uma linha de pintura, onde a personalização se sente mais.."A tendência do setor em Portugal é para a especialização em componentes, componentes de gama alta para bicicletas que custam sete a oito mil euros, para pessoas que valorizam a qualidade e a personalização. Quem valoriza mais o dinheiro vai à Ásia", defende João Filipe..Os trabalhadores têm-se mantido nos 200 e, com a pandemia, só pararam 15 dias, "por precaução". Há quem ali trabalhe há mais de 40 anos, como Elias Costa. Tem 69 anos e está há 55 na empresa, mantendo-se depois da idade da reforma. "Vim para aqui com 14 anos, a mulher também cá trabalhou, cunhados e outros elementos da família", conta..A Miranda & Irmão fatura 20 milhões de euros anuais e não terá quebras neste ano. A pandemia provocou foi atrasos na entrega dos materiais. João Filipe diz que a empresa tem a vantagem de ser autossuficiente a nível dos materiais usados, algo que não acontece com muitas empresas do setor e há quem tenha fechado por falta de peças, sobretudo as que montam as bicicletas.."O mercado europeu começou a ressentir-se devido à pandemia porque há falta de entrega do material e não consegue dar resposta às necessidades. E ainda há muitas marcas que montam as bicicletas dependentes dos componentes da Ásia, mas há uma tendência para se fabricar cada vez mais na Europa. As empresas europeias têm uma capacidade de respostas mais imediata, o que se verificou ser fundamental com esta pandemia", justifica..Uma dessas fábricas é a Incycles, os quatro sócios estão ligados ao ciclismo há 30 anos, juntaram-se e dedicaram-se à montagem de bicicletas em 2008. Detém uma das duas únicas marcas nacionais de bicicletas, a Eleven..Inauguraram em maio novas instalações, 13 mil metros quadrados. O objetivo foi concentrar no mesmo edifício todas as unidades de fabrico e passar da montagem de 600 bicicletas diárias para mil, chegando às 260 mil bicicletas por ano..Quatro linhas de montagem, outras tantas de enraiamento (montagem dos aros). Também fabricam, pintam e fazem a parte elétrica dos quadros, tudo finalizando na montagem de bicicletas personalizadas. Têm uma equipa de design e reivindicam uma grande flexibilidade na produção, que é assegurada por 130 pessoas, sobretudo a controlar o que as máquinas fazem..Faturaram seis milhões de euros em 2018 e no ano passado passaram para 38 milhões, um salto de gigante que se justifica por produzirem as elétricas Jump, da marca Eleven, vendidas à plataforma Uber para todo o mundo, incluindo Portugal. É, aliás, a bicicleta mais famosa da empresa..João Maia, administrador da empresa, espera que se mantenham os mesmos valores neste ano, para voltar a subir a parada em 2021, alcançando os cem milhões de euros em vendas..Deixou de estudar aos 15 anos e o seu percurso profissional é exemplificativo do que se passa com os sócios e outros empresários na região. Começou na empresa de pedais para bicicletas dos pais..A marca Eleven é responsável por 15% da produção, 90% dedicados às bicicletas elétricas, artigos de gama baixa-média, e que custam entre 1 200 e 3000 euros..Exportam para toda a Europa - maioritariamente para Alemanha, Bélgica, Holanda e Inglaterra -, mas também para os Estados Unidos e a Nova Zelândia..João Maia sublinha que Portugal é o primeiro exportador da Europa, não o primeiro produtor. "Fazemos apenas rodas, pedaleiras, quadros e os selins, o resto vem de fora. O problema atual é a falta de componentes, há um atraso de três meses nas entregas, há fábricas que tiveram de fechar. Nós tínhamos algum stock e material em contentores que minimizaram a situação.".A China parou de produzir em janeiro e só voltou a fazê-lo três meses depois. Com a pandemia e as pessoas obrigadas à distância social, a evitar ajuntamentos, assistiu-se a um boom na procura de bicicletas. Não tiveram capacidade de resposta, além das dificuldades de transporte dos contentores devido às restrições mundiais para combater a covid-19..A Incycles nunca parou e já esgotou as encomendas até ao final de 2021, não se verificando os piores receios de quebras de vendas quando surgiram os primeiros casos da covid-19 na Europa. "Mudámos em plena pandemia, foi o que mais nos assustou. Se houvesse um surto, tínhamos de parar e, como estávamos em mudança, seria complicado.".João Maia não tem a certeza de quantas bicicletas das que produzem ficam em Portugal, muito poucas, já que estão especializados em e-bikes e a onda ainda não chegou. "Estamos atrasados quatro anos em relação a Espanha, que por sua vez está atrasada quatro anos em relação à Europa. Há cinco anos, venderam-se cinco milhões de e-bikes no mercado alemão, era o boom a nível europeu", diz João Maia..Muitas bicicletas à entrada, de todos os tipos e modelos, numa exposição que não está completa devido à mudança. Umas distinguem-se pelo design, outras pela eficácia, ainda pelas cores, umas muito leves e cujo peso é inversamente proporcional ao seu valor.