Vitamina para serenar as ruas e mudar a agenda
O primeiro-ministro admitiu aumentos extraordinários para a Função Pública, porque a taxa de inflação do ano passado foi de 7,8%, ficando acima dos 7,4% inicialmente previstos. A contestação social tem sido enorme e o governo de António Costa enfrenta uma baixa popularidade. Da saúde à educação, passando pelos transportes públicos, o descontentamento tem-se agravado e os velhos e novos sindicatos ganharam força no ano passado e este ano.
A reunião plenária no Parlamento sobre política geral, nesta quarta-feira, evidenciou a crescente crispação. Apesar da maioria absoluta, António Costa não tem vida fácil nesta legislatura. Talvez para tentar acalmar os ânimos, Costa recorreu a uma vitamina: deu luz verde relativamente aos salários e Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, logo avançou também que vai propor aos sindicatos progressões mais rápidas para os funcionários públicos para "corrigir os efeitos" do congelamento das carreiras, medida semelhante à prevista para os professores, e que deverá abranger 65% de trabalhadores, ou seja, 349 mil trabalhadores da Administração Pública. O problema é que a progressão assenta em pontos e não em anos. Chegará isso para serenar as ruas?
Descer o IVA sobre os alimentos foi outra das novidades da semana. Costa defendeu-a no Parlamento, apesar de, já antes, os seus ministros das Finanças e da Economia e do Mar se terem manifestado contra, com o argumento de que, tal como sucedeu em Espanha, essa descida poderia ser absorvida pela inflação e, portanto, sem reflexo líquido na carteira dos consumidores.
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Anunciar não basta, vai ser preciso reunir com os produtores e os retalhistas para assegurar a eficácia da medida. António Costa já admitiu essa necessidade, um sinal de esperança vitaminada no caminho da contenção da espiral inflacionista. Mas, citando frei Tomás, falta "ver para crer".
Aumentos, progressões e também descida do IVA sobre os alimentos. São três os anúncios, generalistas e não detalhados, que o governo avançou. E já surtiram, pelo menos, um efeito imediato: com estas novas mensagem políticas, o Executivo retirou o foco das críticas do polémico pacote para a habitação - no qual o arrendamento coercivo é a medida mais contestada - e recolocou os holofotes na agenda que criou.
Diretora do Diário de Notícias