Empregos sem candidatos atingem número recorde
O número de ofertas de emprego registadas nos centros públicos de emprego que estão por satisfazer atingiu quase 24 mil vagas no final de outubro, revelou ontem o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Desde junho que os postos de trabalho que ninguém quer ou para os quais não há perfis adequados anda na casa dos referidos 24 mil. Em outubro, o aumento nestes empregos vagos (oferta por satisfazer) foi superior a 54%.
Claro que esta explosão nas ofertas também reflete o que aconteceu em 2020, o primeiro período do embate da crise pandémica, em que muitas empresas tiveram de encerrar ou reduzir fortemente a atividade (por causa dos confinamentos). Em outubro de 2020, o número de ofertas de trabalho estava a cair cerca de 15%.
Em todo o caso, as 23,6 mil ofertas de emprego não preenchidas até ao final do mês passado configura um dos níveis mais elevados das séries oficiais que remontam a 1977.
O recorde histórico foi atingido em meados de 2017 (24,6 mil empregos por satisfazer), quando a economia portuguesa estava a recuperar da crise da dívida e dos efeitos do programa de austeridade da troika (que terminou em meados de 2014).
Estes números do IEFP vêm ao encontro do que têm dito muitos empresários (de vários setores), que se queixam de falta de mão-de-obra.
Também ajudam a confirmar que muitos empregos destes devem propor salários mais baixos e oferecer condições precárias ou pouco atrativas para quem está à procura de um trabalho digno ou de uma carreira.
O IEFP mostra que o desemprego registado até tem vindo a baixar e que o ritmo das colocações está a evoluir de forma rápida, o que ajuda a aliviar pressão sobre o mercado de trabalho e a Segurança Social (que assim tende a pagar menos subsídios de desemprego).
No entanto, o desajustamento entre procura e oferta é crescente: o número de postos de trabalho que ficam vazios está a subir a um nível muito mais veloz que os das colocações.
A realidade pode ser mais grave pois os centros do IEFP representam apenas uma parcela do mercado de emprego nacional. Há milhares de ofertas de emprego que não passam por esta plataforma pública, como é óbvio.
Segundo o instituto, que é tutelado pelo Ministério do Trabalho, de Ana Mendes Godinho, no final do mês de outubro de 2021, "estavam registados nos Serviços de Emprego do Continente e Regiões Autónomas, 351.667 indivíduos desempregados, número que representa 66,1% de um total de 532.053 pedidos de emprego".
No entanto, "o total de desempregados registados no País foi inferior ao verificado no mesmo mês de 2020 (-51.887 ou -12,9%) e, no mesmo sentido, face ao mês anterior (-7.481 ou -2,1%)".
O stock de desempregados recuou sobretudo no grupo dos indivíduos que estão inscritos há menos de um ano, diz o IEFP.
Ofertas por satisfazer
Mas vejamos com maior detalhe o fenómeno dos postos de trabalho em que menos gente pegou.
Como referido, "as ofertas de emprego por satisfazer, no final de outubro de 2021, totalizavam 23.606, nos Serviços de Emprego de todo o País".
O aumento anual foi de 8.312 empregos por preencher (a tal subida de 54%) face a outubro de 2020, embora tenha aliviado muito ligeiramente face a setembro (-0,8% ou menos 194 ofertas não correspondidas).
Quanto ao movimento "ao longo do mês" de outubro passado, "as ofertas de emprego recebidas totalizaram 12.889 em todo o País, número superior ao do mês homólogo de 2020 (+1.433 ou +12,5%).
Segundo o IEFP, "as atividades económicas com maior expressão nas ofertas de emprego recebidas ao longo deste mês (dados do Continente), por ordem decrescente, foram atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (mais 15,8%), comércio a grosso e retalho (14,4%) e alojamento, restauração e similares (13,1%)".
Quem arranja trabalho
No entanto, o IEFP conseguiu arranjar emprego (colocações) a 8.012 desempregados em todo o País, mais 1.038 face há um ano, um aumento de 15%. Mas o número de colocações foi inferior ao do mês anterior (-899; -10,1%).
Nas profissões, o instituto mostra que em outubro houve uma maior concentração de colocações de trabalhadores não qualificados (27,3%), de trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores (19,9%) e de trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (11,1%).