Honrar a farda

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Quando se perde uma vida não basta lamentar, emitir um comunicado e já está. Quando se perde uma vida é preciso apurar a razão, ir até ao fim na investigação e, doa a quem doer, apurar as responsabilidades. O agente da PSP, Fábio Guerra, perdeu a sua vida. De quem é a culpa, quem começou, quem provocou, quem o matou? São perguntas ainda sem respostas conclusivas.

O que sabemos, desde ontem, é que três suspeitos (dois militares e um civil) foram detidos, dos quais dois logo no sábado, na base militar do Alfeite. O Almirante Gouveia e Melo (antigo coordenador da task force da vacinação contra a covid-19) fez bem em reter de imediato os dois fuzileiros envolvidos nos confrontos e, alegadamente, na morte do agente da polícia. Há que dar o exemplo, não deixar para amanhã o que se deve fazer já e, acima de tudo e de acordo com os valores militares, honrar a farda e não deixar que a manchem.

A honra e a disciplina ainda são pilares fundamentais em ambiente militar - e não só. O Almirante fez o que deveria ser feito. Enquanto chefe de Estado Maior da Armada agiu e não deixou para mãos alheias uma decisão e um crime que toca, aparentemente, os seus homens.

Factos: Fábio Guerra era polícia, tinha 26 anos e foi morto à pancada. Nenhum confronto ou rixa justifica um homicídio qualificado, crime de que estão indiciados os três suspeitos. Cerca de duas centenas de polícias marcaram presença numa vigília em homenagem ao agente que morreu nesta segunda-feira, vítima das graves lesões cerebrais que sofreu após ser agredido à porta de uma discoteca de Lisboa. O Presidente da República visitou a esquadra em Alfragide para prestar homenagem ao PSP morto e aos seus camaradas; à noite, iria dirigir-se à Covilhã para visitar a família e emitiu uma nota de tristeza e pesar pela morte do agente da PSP, assinalando "as circunstâncias trágicas" em que aconteceu.

A somar a tudo isto, é caso para dizer que vai mal um país quando, em apenas um fim de semana, a PSP deteve 127 pessoas e detetou mais de 100 contraordenações em estabelecimentos de diversão noturna durante a operação que decorreu sábado e domingo. Foram identificadas 500 pessoas por posse de estupefacientes, ocorrências de desordem e suspeitos de práticas de crimes diversos. A violência na noite tem vindo a aumentar e é preciso atuar.
Numa época da história em que a Europa enfrenta uma guerra na Ucrânia, com razões para usar a força para se defender um país e as suas vidas, há quem use do seu tempo, força e bom nome das instituições para se envolver numa pancadaria noturna, ao ponto de ceifar uma vida. Usariam os agressores a mesma força para enfrentar, com igual bravura, uma guerra pela pátria? Terão noção de que as Forças Armadas têm vivido, nos últimos tempos, situações complexas como o assalto de Tancos ou a morte de um recruta dos Comandos e que é importante separar o trigo do joio para que uns elementos não manchem a bandeira, a honra e a bravura dos militares que juraram dar a vida para proteger a pátria?

Centremo-nos no que é importante: a humanidade. E não deixemos que a habitual memória curta nos permita esquecer rapidamente as situações horrendas como a que viveu Fábio Guerra ou a que vive hoje o povo ucraniano.

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