Exclusivo Uma língua que nem eu consigo falar direito

Os jornais brasileiros neste fim de ano, ao fazer seus balanços sobre quem se destacou em 2018, têm criado categorias que escapam até ao meu entendimento - logo eu, que, em outras eras geológicas, andava em más companhias e era dos primeiros a ouvir e disseminar os novos calões, gírias, escárnios e maldizeres. Claro que, com o passar dos anos, tendemos a nos voltar para os extratos médios da língua, onde ficamos a salvo de não sermos compreendidos. O problema é que, enquanto voltamos a falar um português médio e convencional, o mundo ao redor continua reinventando a língua, e aí é a nossa vez de não perceber o que estão dizendo.

Outro dia, por exemplo, O Globo, do Rio, me apresentou listas de "quem lacrou" e "quem causou" no ano que está a findar. E, como não reconheci as pessoas de quem se dizia que "lacraram" ou "causaram", fiquei sem saber do que se tratava. Mas não me conformei. Consultei alguns jovens - menores de 40 anos - e eles me explicaram tudo. "Lacrar" é fazer algo perfeito, sensacional, ou soltar alguma frase extraordinária e definitiva. Assim, ao ouvir esta frase de alguém ou saber de alguma façanha dele, basta dizer: "Lacrou!" É um elogio. E "causar", pelo visto, é provocar um grande rebuliço ou agitação, como, digamos, escrever um romance que seja proibido pelo Vaticano ou ser acusado de assédio sexual pela avó do presidente Trump. E, então, se diz: "Causou!"

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