Maniche: A traição de Vieira, o arroz de grelos com Pinto da Costa e o Toyota trocado por ienes

O ex-jogador passa em revista toda a sua carreira no livro <em>Maniche18, as Histórias (ainda) Não Contadas</em>. São 300 páginas carregadas de episódios caricatos e outros mais sérios em 18 capítulos. A admiração por Mourinho é uma constante. Mas também são contadas algumas mágoas e zangas.
Publicado a
Atualizado a

Nuno Ricardo de Oliveira Ribeiro, mais conhecido por Maniche, é dos poucos jogadores portugueses que representou os três grandes do futebol português e jogou em alguns colossos europeus como o Chelsea, o Atlético Madrid e o Inter Milão. Pela seleção nacional realizou 52 internacionalizações e participou na fase final do Euro 2004 perdida para a Grécia. Hoje, com 41 anos, e já retirado, resolveu contar num livro os episódios mais marcantes da sua carreira. A obra, cujo título é Maniche 18, as Histórias (Ainda) não Contadas, escrito em coautoria com Tiago Guadalupe e editado pela Prime Books, vai estar disponível nas livrarias ainda nesta semana, e conta com prefácio de José Mourinho, posfácio de Gianni Infantino (presidente da FIFA) e testemunhos de Cristiano Ronaldo, Luiz Felipe Scolari, Fernando Torres, Pinto da Costa, Jorge Mendes, Jorge Jesus, Zlatan Ibrahimovic, entre muitos outros. Leia aqui algumas passagens do livro.

O livro começa com o prefácio escrito por José Mourinho, treinador que orientou Maniche em três clubes: Benfica, FC Porto e mais tarde no Chelsea. Ao longo das páginas, é perfeitamente visível a profunda admiração do jogador pelo técnico natural de Setúbal, pois grande parte da obra faz referências ao Special One. Daí que tenha sido a pessoa escolhida para escrever o prefácio.

"Conheci um miúdo rebelde em 2000. Em 2004, era um dos melhores médios do mundo. Porquê? Simplesmente porque nunca deixou de ser rebelde, espontâneo, genuíno e a sua humildade abriu-o para o conhecimento e a interpretação do jogo [...] Em pouco tempo, transformou-se num dos melhores médios do mundo, e hoje, passados tantos anos, continuo à procura de Maniches, e a verdade é que tenho muitas dificuldades em encontrar [...] De expulso a capitão de equipa. De exemplo de mau profissional a exemplo de raça benfiquista. De extremo deslocado a comedor de bolas onde elas andam mais... no centro do campo. Ele era um médio, ele era um 8, ele era o melhor amigo do 6 e o parceiro do 10. Ele defendia como um 6 e atacava como um 10. Ele aprendeu a jogar a 6 e a jogar a 10... era um 8! Um 8 top! Jogava como treinava e treinava como jogava. O meu jogador estava a chegar, o meu jogador estava a madurar. Saí do Benfica e o destino levou-nos até ao Porto..."

O primeiro treinador e a alcunha Maniche

Depois de descrever a infância difícil no bairro da Boavista, às portas de Benfica, e as dificuldades porque passou no seio de uma família humilde, Maniche recorda como chegou ao Benfica aos 9 anos e destaca a importância do seu primeiro treinador, o responsável por ter ganho a alcunha que dura até hoje.

"Arnaldo Teixeira foi muito mais do que um simples transmissor de conhecimentos, foi um lapidador, um educador, um formador, um excelente condutor de crianças. Fez-me ver que alcançar objetivos ambiciosos, mas realistas, é possível, desde que baseados num esforço constante e construtivo. E a verdade é que eu realizei o meu sonho, fui jogador profissional de futebol, fui em ato aquilo que era em potência, tornei a mera possibilidade em realidade e consegui dar à minha família uma vida melhor. Além de tudo o que referi anteriormente e que é difícil de quantificar, o mister Arnaldo deu-me outra coisa: foi ele que me batizou como Maniche. Quando saí dos iniciados do Benfica para os juvenis, ele, como já referi anteriormente, era o treinador dos juvenis. O cabelo louro que eu apresentava, escorrido sobre um rosto branco, muito idêntico ao de Michael Manniche, o avançado dinamarquês que jogou no Benfica nos anos 80, foi o suficiente para ele me atribuir essa alcunha. As parecenças eram evidentes, mas só a nível físico, pois tínhamos características totalmente diferentes. E, assim, o Nuno tornou-se Maniche. Uma alcunha que passou a fazer parte da minha vida, que me acompanhou dentro e fora das quatro linhas, e que me irá escoltar até ao fim dos meus dias."

A verdade sobre a saída do Benfica

É um dos capítulos mais interessantes do livro, no qual Maniche conta as verdadeiras razões que o levaram a sair do Benfica, culpando Luís Filipe Vieira pelo sucedido. A intenção do clube da Luz era mantê-lo, mas uma exigência de Vieira, relacionada com o empresário Paulo Barbosa, terminou a história do jogador no Benfica.

"Vieira vira-se para mim e diz-me: 'Tenho aqui um contrato de cinco anos para ti. Quero que renoves porque és um jogador importante para o presente e para o futuro do clube.' O contrato estava em cima da mesa, esperando apenas a minha assinatura. Nem olhei para o vencimento. Queria continuar no Benfica e cinco anos de contrato era um motivo de felicidade para mim. Aproximo-me. Pego numa caneta e, quando vou assinar o contrato, o Vieira diz: 'Espera! Espera! Assinas cinco anos, mas tens de ir para o José Veiga!' [...] 'Pensa bem porque se não fores para o Veiga, não jogas nunca mais aqui. Vais treinar à parte até ao final do teu contrato.' Mantive-me firme aos meus princípios, aos meus valores éticos e morais, e voltei a rejeitar a troca de empresário. Saí porta fora e não assinei o contrato que estava à minha espera. Aquela situação prejudicou-me? Sim e muito. Não só a nível desportivo mas principalmente em termos pessoais e familiares. O meu futuro, e por consequência o da minha família, ficou assim envolto numa nuvem de incerteza e repleto de pontos de interrogação."

Veja aqui um vídeo com momentos marcantes da carreira de Maniche.

O convite de Mourinho para ir para o FC Porto

Completamente encostado no Benfica e posto a treinar à parte, Maniche viveu "momentos horríveis". Mas nunca desistiu, e em final de contrato aguardava pacientemente que o telefone tocasse com alguém a propor-lhe um novo desafio. E esse dia chegou.

"Sabia que iam surgir clubes interessados em mim, só não sabia quais. Era uma incógnita. Teria de ser alguém que surgisse acreditando em mim para me resgatar, a custo zero, ao Benfica. Esse alguém apareceu e dá pelo nome de José Mourinho, que tinha assinado contrato com o FC Porto no início do ano de 2002, substituindo Octávio Machado. Mourinho telefonou-me e fez-me um convite: 'Estás preparado para vir para o norte do país, jogar no FC Porto e enfrentar uma nova realidade? Posso contar contigo? Eu gostava muito e, caso aceites, falarei com o presidente Pinto da Costa para validar a tua contratação.' Acho que o mister Mourinho percebeu a minha incrédula reação. Fiquei mesmo surpreendido. Estava à espera de tudo menos da chamada do José Mourinho e, por consequência, do FC Porto. Respondi logo que sim, nem pensei duas vezes [...] Sabia que o José Mourinho confiava em mim. Sabia também que o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa apreciava as minhas capacidades e virtudes pois, no meu segundo ano de Alverca, o presidente portista concedeu uma entrevista em que referiu que havia dois jogadores do Alverca que gostava de ver no FC Porto: Deco e eu."

A refeição em casa de Pinto da Costa

Antes de assinar pelo FC Porto, Maniche foi jantar a casa do presidente portista para acertar os últimos pormenores do contrato. Só não contava com a refeição que lhe foi servida...

"Pinto da Costa convidou-me para ir jantar a sua casa [...] A mesa estava colocada na sua sala de refeições. Sentamo-nos e a sua esposa põe um tacho na mesa. Retira a tampa e eu nem queria acreditar no que vi... arroz de grelos com filetes de peixe. Pensei: 'Ooohhh, não!!!' Eu não gosto de leguminosas, e grelos, então, dispenso totalmente [...] Comi tudo, tudinho, até ao último bago de arroz. Mais, no final ainda elogiei: 'O arroz de grelos estava divinal. Muito, muito bom. Os meus sinceros parabéns.' O presidente do FC Porto ainda me perguntou se eu não queria repetir... 'Repetir?! Não!!!', pensei eu. Respondi que já estava saciado e que à noite, por norma, não gostava de comer muito [...] Saí da casa de Pinto da Costa radiante, cheio de vontade de começar a treinar no meu novo clube e... com fome! Até hoje não sei se Pinto da Costa percebeu em algum momento, naquela noite, que eu detestava grelos."

A história da camisola rasgada de Rui Jorge

Mais uma das revelações feitas no livro sobre uma história de 2004 em que foi atribuída a José Moutinho a culpa no famoso caso da camisola de Rui Jorge rasgada no final de um Sporting-FC Porto, que terminou empatado a um golo. Afinal, quem rasgou a camisola ao jogador dos leões foi outra pessoa.

"Em Lisboa, decorria já a segunda parte e vencíamos por 1-0, quando, de súbito, João Pinto caiu junto à linha lateral e embateu com violência nos painéis publicitários lá colocados [...] Nessa altura, sob indicação do árbitro, Rui Jorge repôs, rapidamente, a bola em jogo - fomos completamente apanhados em contrapé, e o Liedson aproveitou e entrou na área. Paulo Ferreira efetuou um corte em esforço, e o juiz Lucílio Baptista acabou por assinalar uma grande penalidade, diga-se de passagem, inexistente. O Sporting fez o 1-1, resultado que viria a manter-se inalterado até ao final do jogo. Ficámos todos indignados e chateados com aquela situação. Já no balneário, houve a normal troca de camisolas entre os jogadores. A primeira camisola que chegou foi a do Rui Jorge, e a camisola foi rasgada [...] Na sala de conferências de imprensa, o dirigente José Bettencourt mostrou a camisola do Rui Jorge rasgada. Atribuiu a ação ao Mourinho. Para Bettencourt, o treinador do FC Porto tê-la-ia rasgado em pleno balneário quando o roupeiro do Sporting a tentava trocar por uma outra de um jogador portista. A José Mourinho foi ainda atribuída a frase: 'Eu quero que o Rui Jorge morra em campo.' Terá sido assim? Todo o mundo pensa que foi o Mourinho que rasgou a camisola do Rui Jorge, mas não foi. Foi o Costinha. José Mourinho não rasgou e tão-pouco disse que queria que o Rui Jorge morresse."

Mourinho no cesto da roupa suja

Na época 2003-04, num jogo frente ao Boavista, no Bessa, José Mourinho foi expulso ao intervalo. Maniche conta no livro como o treinador conseguiu dar indicações aos jogadores... mesmo estando impedido de ir ao balneário ao intervalo.

"Durante a primeira parte do jogo do Bessa, José Mourinho foi expulso por protestos. Ao intervalo, chegámos ao balneário e não estava lá o nosso treinador para nos dar as indicações para a segunda metade. Na temporada anterior usara o tal telefone em alta voz para comunicar connosco, mas desta vez não havia um plano B. Ainda hoje estou para saber como é que ele conseguiu, mas a verdade é que entrou no nosso balneário. Como? Escondido. Embrulhado dentro do cesto da roupa suja. Quando saiu do seu esconderijo, foi o espanto geral dentro daquelas quatro paredes. Brincámos com a situação e depois do momento de descontração disse-nos o que tínhamos de fazer para que, no final dos 90 minutos, o resultado sorrisse a nosso favor. E sorriu: vencemos por 0-1."

A Liga dos Campeões e as ameaças a Mourinho

Maniche relata com algum detalhe o dia 26 de maio de 2004, em que o FC Porto venceu o Mónaco por 3-0 e conquistou a Liga dos Campeões. Uma noite marcada, contudo, pelas ameaças feitas a Mourinho que mal festejou o triunfo com os jogadores.

"Nessa mesma noite, eu, o Jorge Costa, o Vítor Baía e mais alguns jogadores apercebemo-nos da situação pessoal que atormentava o nosso treinador. Soubemos, não por ele, que alguma coisa anormal se estaria a passar e que não seria pacífico. Ficámos a saber que tinha recebido, através do telemóvel do Reinaldo Teles, ameaças de morte por 'supostamente' ter assinado com outro clube. Foi uma situação constrangedora. Foi o apogeu de, em primeiro lugar, uma campanha de boatos e calúnias de que fora alvo. Depois, perseguições e esperas à porta da sua casa, todas elas a ameaçarem a integridade física da família. Mourinho não é uma máquina, é um ser humano como todos os outros [...] Era o treinador do momento no mundo. Podia dar-se ao luxo de escolher o próximo projeto a liderar. Entre os cumprimentos ainda o conseguimos enfiar, por breves momentos, dentro do balneário para pedirmos para ele festejar connosco o título europeu alcançado. A resposta foi curta e concisa: 'Não. Não. A festa é vossa e não minha. Vocês é que merecem festejar.' Merecíamos tanto como ele uma festa que ele tanto tinha contribuído e na qual não iria ter oportunidade de participar, mas percebemos e respeitámos a sua decisão. Saiu do balneário e nunca mais o vimos."

Trocar um Toyota elétrico por ienes

Um dos vários episódios engraçados contado por Maniche remonta a dezembro de 2004, quando o FC Porto venceu o Once Caldas no Japão e conquistou a Taça Intercontinental. O médio foi eleito o melhor em campo e ganhou um presente especial...

"Tradicionalmente, o melhor jogador em campo recebia um carro do patrocinador principal da competição. Era um Toyota elétrico. Quando me disseram, eu disse prontamente que não queria o carro. O chefinho, Reinaldo Teles, que me estava a acompanhar disse-me com cara de espanto: 'Ó menino, não queres o carro?' Eu respondi que não queria o carro, queria o dinheiro referente ao valor do mesmo. Perante a minha resposta, ele foi falar com a organização da competição e, minutos depois, trouxe-me um saco repleto de notas ienes - a moeda japonesa [...] eu tinha o dinheiro que havia recebido nos bolsos do casaco e, durante a viagem, adormeci. O Secretário, que estava sentado ao meu lado, tirou-me os ienes e atirou ao ar. Quando acordei, pus a mão ao bolso do casaco e nada! As notas estavam todas espalhadas pelo avião, cobrindo o chão do mesmo. Pareciam notas do Monopoly , mas estas eram de verdade."

O Dínamo de Moscovo e a zanga com Nuno Espírito Santo

Maniche aproveitou uma concentração da seleção nacional para dar uma entrevista a dizer que queria deixar o Dínamo de Moscovo. As suas palavras motivaram uma zanga com Nuno Espírito Santo, hoje treinador do Wolverhampton.

"Nuno Espírito Santo, na altura guarda-redes, foi uma grande desilusão para mim [...] Fui um dos maiores 'culpados' por ele ter ido jogar no Dínamo de Moscovo, mas, por vezes, a memória é curta e a ingratidão é grande. Tudo se precipitou devido a uma entrevista que dei à comunicação social durante a concentração da seleção nacional no Algarve [a dizer que queria deixar o clube] Quando regresso a Moscovo, já me tinham contado que o Nuno não tinha gostado da minha entrevista, porque 'supostamente' envolvia os portugueses que alinhavam no clube [...] Disse-lhe que foi injusto e que era um comportamento ingrato, pois não sabia se ele tinha conhecimento ou não, mas tinha sido eu que o tinha ajudado a chegar a Moscovo. Eu não disse que os portugueses no clube não gostavam da Rússia [...] Depois deste episódio completamente dispensável e infeliz, nunca mais falei com o Nuno Espírito Santo enquanto permaneci em Moscovo. Senti que ele tinha sido injusto e ingrato. Anos mais tarde, encontrei-me com ele na Gala Gaiense e falámos naturalmente porque não guardo rancor de ninguém."

Quase a vias de facto com o treinador do At. Madrid

O At. Madrid foi um dos vários clubes representados por Maniche. Mas naquela temporada 2006-07 nem tudo lhe correu bem e reagiu mal quando o treinador Javier Aguirre lhe comunicou que estava dispensado. Uma discussão feia em pleno balneário quase tomou contornos de violência física.

"Vou com uma toalha enrolada à cintura e quando chego ao balneário estão todos os meus companheiros sentados. Sento-me também e Aguirre começa a falar: 'Antes de falar do que aconteceu no jogo de ontem, tenho uma notícia para vos comunicar. Não conto mais com o Nuno. Nuno, eu não conto mais contigo, podes encontrar um clube, o que tu quiseres.' Perplexo e já com o sangue a começar a ferver, levantei-me e questionei-o: 'Mas porque é que já não contas mais comigo?' Nem tenho palavras para classificar a resposta do mexicano: 'Não, não conto mais contigo. Não fazes mais parte do plantel. Estou farto de ti!' Perante esta resposta, começo a caminhar em direção do treinador e digo olhos nos olhos: 'Se já estás farto de mim, eu também estou farto de ti, porque tu és mau treinador e muito má pessoa! Eu não sei como é que tu deste educação aos teus filhos. Tu não consegues educar este grupo de trabalho com valores, como consegues educar os teus filhos? Tu és uma merda de homem e uma merda de treinador. És o pior treinador que eu encontrei na minha vida.' Ele começa a vir na minha direção, eu largo a toalha, pois não sabia o que aquilo iria gerar. Encostámo-nos um ao outro e se não fosse a rápida ação dos meus colegas, o que iria acontecer não seria algo de que me iria orgulhar. O sucedido é comunicado ao presidente do clube, ao diretor desportivo e não havia forma nem condições para continuar no Atlético."

O Sporting e a Via Verde que nunca foi paga

Na época 2010-11, Maniche assina pelos leões e dá uma enorme alegria ao pai, sportinguista ferrenho. Foi o último clube que representou e ficou muito surpreso com a forma como lhe foi comunicada a dispensa.

"Entretanto, o Sporting CP faz-me um convite para ingressar no clube de Alvalade na temporada 2010-11. Era a oportunidade de regressar ao país que tanto amo, de fazer a vontade à minha filha mais velha e realizar o sonho de uma pessoa muito especial: o meu pai [...] Aceitei logo o convite. Perdi muito dinheiro com a vinda para Portugal. Na Alemanha ganhava quatro vezes mais [...] No momento da assinatura do contrato, José Eduardo Bettencourt perguntou-me: 'Maniche, estás contente com o contrato ou queres alterar alguma coisa?' Eu respondi algo que o iria surpreender: 'Sim, gostava que adicionassem a Via Verde no meu contrato. Como vivo na zona da Expo, para treinar na academia, em Alcochete, tenho de passar diariamente a Ponte Vasco da Gama nos dois sentidos. Podem adicionar essa alínea ao meu contrato? Só quero isso. Mais nada.' [...] Obviamente aquilo era uma brincadeira minha. Ri-me e disse-lhe que realmente havia algo que eu queria... reaver o meu número de sócio e também o do meu pai. Prontamente, Bettencourt disse que sim. E, só para que conste, o Sporting não me adicionou a Via Verde ao contrato e eu paguei para reaver os dois números de sócio [...] Depois de rescindir contrato de forma totalmente amigável, achei 'estranho' que tivessem contratado o brasileiro Elias por 6 milhões de euros. Para um clube que estava tão débil financeiramente, que efetivamente estava, era, no mínimo, muito estranho."

Os elogios e a conversa com Scolari

O penúltimo capítulo é dedicado à seleção nacional e não faltam referências a Luiz Felipe Scolari e ao modo como o treinador brasileiro motivava os jogadores. A caminhada do Euro 2004 também é descrita ao pormenor, com referência ao grande golo que apontou frente à Holanda.

"Scolari foi assim o selecionador que me chamou pela primeira vez à seleção A. Jamais o esquecerei. Serei eternamente agradecido por me conceder a oportunidade, a alegria e o orgulho de representar ao mais alto nível o meu país. Quando cheguei ao estágio da seleção, Scolari falou comigo pessoalmente. Disse-me que estava contente por me ter ali. Pediu-me para fazer exatamente aquilo que fazia no FC Porto, que jogasse da mesma forma, com a mesma simplicidade, com a mesma intensidade e atitude [...] Bati à porta do quarto do mister e entrei. O Felipão perguntou-me como é que eu me sentia e se estava tudo bem. Falámos do jogo. Prolongámos a conversa por mais dez minutos sensivelmente, e o Scolari diz-me em jeito de conclusão da conversa: 'Maniche, tu és um grande médio-centro. Não tenho a mínima dúvida que tu e o Paul Scholes são os melhores médios do mundo.' Eu agradeci o elogio, despedi-me dele e saí do quarto cheio de moral, contente e com o meu ego bem alimentado. Regresso ao bar para me encontrar com o Deco. Assim que chego, o Mágico pergunta-me: 'Mano, o que é que ele queria?' Eu disse-lhe: 'Mano, disse-me que eu e o Scholes somos os melhores médios do mundo.' O Deco começa a rir à gargalhada. Eu pergunto-lhe a razão para tamanha risota e ele diz-me já com lágrimas nos olhos de tanto rir: 'Mano, eu não acredito nisto. Ele disse-me exatamente a mesma coisa. Tu e o Paul Scholes são os melhores médios do mundo.'

Títulos conquistados:

1 Liga dos Campeões (FC Porto, 2003-04)

1 Liga Europa (FC Porto, 2002-03)

1 Taça intercontinental (FC Porto, 2004)

2 Ligas Portuguesas (FC Porto, 2002-03 e 2003-04)

1 Taça de Portugal (FC Porto, 2002-03)

1 Supertaças Cândido de Oliveira (FC Porto, 2003)

1 Liga inglesa (Chelsea, 2005-06)

1 Liga italiana (Inter Milão, 2008-09)

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt