Na quinta-feira foi o Dia Mundial da Pessoa Refugiada, depois do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em que celebrámos um país singular na pluralidade da sua diáspora e história. O que têm os dois dias em comum? A resposta primeira e óbvia é a de que tratam ambos de questões que, em abstrato, se prendem com o conceito de identidade. Se a 10 de junho lembramos o coletivo da nossa história, da sua cultura, da literatura e até da geografia, a 20 celebramos a coragem de todos aqueles cuja identidade é um contexto de fuga a perseguições por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Aqueles que, por intolerância institucionalizada na sua terra de origem, não têm regresso possível à casa de que fugiram..Neste último 10 de Junho, na partilha cerimonial dos habituais discursos, ressurgiu a metáfora do "elevador social", quer no contexto nacional quer no contexto de toda a lusofonia e a sua história. A discussão em torno da mobilidade social e da igualdade de oportunidades, em Portugal e no conjunto da lusofonia, é sempre válida para o Partido Socialista, de matriz verdadeiramente pluriclassista. Mas isso não nos deve impedir de tentar elevar essa reflexão e abrir as portas dessa metáfora ao restante mundo. Segundo o relatório publicado nesta semana pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há atualmente mais de 70 milhões de pessoas deslocadas. A delineação entre refugiado e migrante é legítima e sobretudo necessária, como o ACNUR já alertou. No entanto, essa mesma delineação não esvazia o facto de que quem migra procura um mundo melhor. A questão que se mantém ainda, claro, é saber como operar o elevador da mobilidade global, respeitando a dignidade humana e a sustentabilidade. Portugal tem feito a sua parte e já recebeu 1870 pessoas refugiadas desde 2015, provenientes de programas de recolocação, de reinstalação e de resgates no mar Mediterrâneo. A par disto, intensifica-se a cooperação com a Organização Internacional das Migrações, tendo em vista a criação de canais legais de migração para Portugal..Miguel Duarte é o mais recente rosto nacional desta problemática global. O seu caso, além de inspirador, lembra que Portugal tem inscrito nas suas leis que o auxílio em caso de risco de vida é um direito e é um dever. É fundamental ultrapassarmos o umbigo da nacionalidade e deixarmos de responder aos SOS do Mediterrâneo com um "salve-se quem puder". Portugal e a Europa têm o dever de auxílio não apenas por alguma espécie de karma histórico pelo seu passado de colonização e migração ou só porque a economia nos pede trabalhadores, mas por coerência - lembrando Camões - com um dos valores mais altos, o da solidariedade universal..Deputada do PS
Na quinta-feira foi o Dia Mundial da Pessoa Refugiada, depois do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em que celebrámos um país singular na pluralidade da sua diáspora e história. O que têm os dois dias em comum? A resposta primeira e óbvia é a de que tratam ambos de questões que, em abstrato, se prendem com o conceito de identidade. Se a 10 de junho lembramos o coletivo da nossa história, da sua cultura, da literatura e até da geografia, a 20 celebramos a coragem de todos aqueles cuja identidade é um contexto de fuga a perseguições por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Aqueles que, por intolerância institucionalizada na sua terra de origem, não têm regresso possível à casa de que fugiram..Neste último 10 de Junho, na partilha cerimonial dos habituais discursos, ressurgiu a metáfora do "elevador social", quer no contexto nacional quer no contexto de toda a lusofonia e a sua história. A discussão em torno da mobilidade social e da igualdade de oportunidades, em Portugal e no conjunto da lusofonia, é sempre válida para o Partido Socialista, de matriz verdadeiramente pluriclassista. Mas isso não nos deve impedir de tentar elevar essa reflexão e abrir as portas dessa metáfora ao restante mundo. Segundo o relatório publicado nesta semana pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há atualmente mais de 70 milhões de pessoas deslocadas. A delineação entre refugiado e migrante é legítima e sobretudo necessária, como o ACNUR já alertou. No entanto, essa mesma delineação não esvazia o facto de que quem migra procura um mundo melhor. A questão que se mantém ainda, claro, é saber como operar o elevador da mobilidade global, respeitando a dignidade humana e a sustentabilidade. Portugal tem feito a sua parte e já recebeu 1870 pessoas refugiadas desde 2015, provenientes de programas de recolocação, de reinstalação e de resgates no mar Mediterrâneo. A par disto, intensifica-se a cooperação com a Organização Internacional das Migrações, tendo em vista a criação de canais legais de migração para Portugal..Miguel Duarte é o mais recente rosto nacional desta problemática global. O seu caso, além de inspirador, lembra que Portugal tem inscrito nas suas leis que o auxílio em caso de risco de vida é um direito e é um dever. É fundamental ultrapassarmos o umbigo da nacionalidade e deixarmos de responder aos SOS do Mediterrâneo com um "salve-se quem puder". Portugal e a Europa têm o dever de auxílio não apenas por alguma espécie de karma histórico pelo seu passado de colonização e migração ou só porque a economia nos pede trabalhadores, mas por coerência - lembrando Camões - com um dos valores mais altos, o da solidariedade universal..Deputada do PS