Exclusivo "Se queremos evitar o populismo, a primeira coisa a fazer é ver se os partidos tradicionais estão a fazer o seu trabalho"

Professora de Ciência Política no Barnard College da Universidade de Columbia, especialista em estudos sobre a social-democracia e o fascismo na Europa dos séculos XIX e XX, a americana Sheri Berman é uma das oradoras da 4.ª edição das Conferências de Lisboa. A conferência, que será 100% virtual, realiza-se entre 30 de setembro e 2 de outubro e tem como tema "A aceleração das mudanças globais e os impactos da pandemia".

Vai participar na 4.ª edição das Conferências de Lisboa num painel chamado "Democracia liberal e multilateralismo debaixo de fogo". Políticas como o America First de Donald Trump já mudaram a ordem mundial ou são apenas uma fase?
É importante pensarmos no impacto que Trump já teve, mas temos de reconhecer que muitas destas instituições e relações já estavam sob pressão antes. E isso explica em parte porque é que Trump, com o seu America First, conseguiu ter um tal impacto: ou seja, ele atacou coisas que já estavam a ter problemas. Dito isto, não invalida a importância do papel que Trump tem. É o primeiro presidente dos EUA numa geração a ter este desrespeito pelas instituições e relações que sempre foram essenciais não só para os Estados Unidos, mas também para o Ocidente em geral. A NATO, o multilateralismo, as relações económicas, tudo. Ele tem uma visão muito simplista do mundo, protecionista, que considera as instituições e as relações multilaterais antitéticas. Por isso as atacou de forma mais direta e consistente do que qualquer outro presidente. Mas é importante explicar que outras tendências já tinham começado a minar muitas destas instituições e relações antes de Trump aparecer.

E o que podemos esperar se tivermos mais quatro anos de presidência Trump?
Essa é a verdadeira questão que preocupa as pessoas que estão a tentar restaurar a ordem mundial. Foram feitos muitos, muitos estragos nos últimos quatro anos - nas relações entre os EUA e a Europa, com falta de liderança americana em várias questões, da segurança à democracia, passando pelas alterações climáticas. Mais quatro anos disto, vai ser ainda pior. E irá tornar incrivelmente mais difícil, depois, voltar atrás. Não só por serem mais quatro anos, mas porque com a mudança na posição da América no mundo, a retirada de vários tratados multilaterais, vai ser muito difícil reconstruir estas realidades. É muito fácil destruir, mas é difícil reconstruir. Se tivermos mais quatro anos de Trump e ele reforçar ainda mais esta posição, convencido de que tem um mandato renovado para o fazer, vai ser muito difícil depois reconstruir as instituições e as relações que eram as bases do Ocidente desde o fim da II Guerra Mundial.

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