Foi apresentada nesta semana a nova arma ligeira do Exército português. À arma em si não vou referir-me. Não sou qualificada para isso e nunca peguei em arma alguma. Reconheço, no seguimento do processo de modernização em curso em Portugal, a necessidade óbvia e já antiga de inovar também aí. É adequado, em contexto de paz, apostar neste investimento? À partida, fará sempre sentido no espírito do velho provérbio "se queres a paz, prepara a guerra". Mas adequa-se também pela dignidade que traz ao nosso exército e a Portugal no concerto global das nações, pela excelência que é reconhecida às nossas forças armadas, no seu conjunto, em missões internacionais..Não é novidade que a nossa civilização se encontra em mutação. A mudança no clima e o estado de "pré-colapso" do sistema ambiental para que o planeta se dirige são já indisfarçáveis. Mas não só. Como que em paralelo com a degradação da natureza, assistimos ao ressurgimento de "ismos" e fenómenos que já mais do que uma vez nos puseram coletivamente em perigo. Um deles é o regresso do discurso do medo e sua instrumentalização, até por responsáveis de cúpula. É impossível não perceber no discurso de alguns líderes o modo como instigam o medo à diferença, aquele medo cujo melhor símbolo será sempre o do muro que divide. É o caso de Donald Trump, que se elegeu democraticamente com a promessa de um muro nacionalista e que dificulta o gun-control num país particularmente afetado por tiroteios em escolas. Por cá, há também quem recorra ao preconceito no discurso político..Global e historicamente, o unilateralismo tem contribuído só para a guerra. O belicismo e a diplomacia atabalhoada de Trump só tornam mais possível no horizonte um novo conflito mundial, com novos contornos tecnológicos e maior potencial de devastação. Até a própria guerra comercial, como face menos dura das várias que a guerra tem assumido ao longo da história, não deixa, também ela, de ser conflito..Só se pode combater o discurso belicista e do medo com uma cultura de promoção da paz. Como torná-la possível? Uma forma é recuperar o conceito de "segurança humana" e o discurso da paz positiva, de que já Kofi Annan falava há década e meia, consolidando-o perante o de "segurança nacional". O primeiro exige a ponte entre democracia, direitos humanos, ambiente e combate à proliferação das armas mortíferas e propõe a educação como o seu pilar. Não será agora a hora de inovarmos cada vez mais no sentido de uma cidadania ativa, orientada para os valores da tolerância e da ética do respeito pela diferença? A esse desafio acresce o de conseguir dar a essa cidadania uma capacidade de mobilização pedagógica global. É que se queremos paz, harmonia e democracia, temos mesmo é de aprender a prepará-las. E em conjunto..Deputada do PS