Donald Trump nunca escondeu a sua agenda em relação ao Médio Oriente e, em particular, à escolha de aliados. A administração Trump manteve a aliança com a Arábia Saudita e, ao rasgar o acordo nuclear com o Irão, deu a entender qual seria o principal alvo na região. À beira da eleição presidencial, Trump não teve ainda a "sua guerra". George Bush teve a guerra do Golfo, Bill Clinton teve a guerra do Afeganistão, George W. Bush, o filho, teve a guerra do Iraque - com a preciosa ajuda de Blair, Aznar e Durão Barroso - e Obama teve indiretamente a guerra da Síria. O reacender da tensão com o Irão ao longo da última semana pode ser uma "compensação" dessa ausência, ou pode mesmo ser mais do que isso..O ataque de drones de há uma semana às explorações sauditas de petróleo foi reivindicado pelos houthis, que no Iémen combatem do lado oposto ao da Arábia Saudita, mas Trump apressou-se a acusar o Irão e a comunicar ao mundo, por Twitter como sempre, que os Estados Unidos estavam prontos a responder. O ataque em questão teve um impacto grande na produção petrolífera e no mercado mundial. O Irão não tem propriamente o estatuto de "Suíça do Médio Oriente" e são bem conhecidas as tensões e disputas permanentes com a Arábia Saudita. Mesmo de lados opostos, muito poderia ser dito sobre o Irão e sobre a Arábia Saudita no que toca ao não respeito pelos direitos humanos. Mas a questão é: estará Trump disponível ou não para chegar às últimas consequências? O mundo não precisa agora, nem nunca precisou, de guerras forçadas. De nenhuma guerra cuja única justificação seja a imposição de um poder militar, vender armas ou disputar territórios ou recursos de outros. A guerra do Iraque foi fabricada e ainda hoje pagamos todas as consequências, que o diga o povo iraquiano..As Nações Unidas e o seu secretário-geral estão preocupados. Devíamos estar todos. Mas, infelizmente, não é o caso. As autoridades francesas já vieram dizer que, com estes ataques, estamos perante um "novo contexto". Após a investigação internacional, o Pentágono disse ter todas as provas necessárias de que o Irão é o responsável. No momento em que escrevo prepara-se um encontro entre Estados Unidos e Irão. Qual será o caminho seguido por Trump é mesmo a grande incógnita. Vivemos num mundo em que as guerras podem ser fabricadas e/ou forçadas. O negócio conta mais. Não há nada de proteção na atuação recente dos Estados Unidos. Se Trump avançar, podemos estar perante uma guerra com consequências devastadoras. Se não avançar, continuamos a alimentar a tensão e a brincar com o fogo até que a guerra seja uma questão de tempo. Não há nada que justifique, a não ser a imbecilidade, a arrogância e a ignorância de um presidente que não tem, infelizmente, uma comunidade internacional à altura para parar o seu jogo. A mesma comunidade internacional que, em também em nome do negócio, tem aparado todas as "aventuras" trágicas da Arábia Saudita..Eurodeputada do BE