Último balão de oxigénio até final do ano

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Os portugueses estão prestes a receber o último balão de oxigénio do ano. À função pública chega sempre primeiro e lá para o final do mês ou início de dezembro chegará ao privado. O subsídio de Natal será esse tal balão que, neste ano em particular, vai ajudar a aguentar a pancada sofrida com a subida da inflação, dos preços dos alimentos, da energia e das taxas de juro no crédito à habitação.

Ainda que nem todas as famílias estejam a sentir essa alteração do mesmo modo (dependendo se a Euribor contratualizada é a três meses, seis meses ou um ano), o certo é que, no arranque de 2023, a mossa será generalizada. O Banco Central Europeu já garantiu que o aumento da taxa de referência é para continuar, pelo menos até ao final do primeiro semestre do próximo ano, para tentar travar a galopante inflação - que bate recordes de início dos anos 90 do século passado.

Este ano o subsídio de Natal é mais desejado do que nunca. No entanto, até cair na conta de muitos, ainda vai sendo alimentada uma certa ilusão de que está tudo bem e de que a ceia de Natal vai ser tão farta (pelo menos para alguns) quanto é costume. Mas o que se antecipa é que milhões de portugueses façam as contas ao 14.º mês duas ou três vezes antes de decidir o que despender nos presentes ou na festa de réveillon, pois pode ser preciso guardar alguma poupança - no caso dos agregados familiares que ainda têm essa capacidade - para enfrentar o duro arranque de 2023.

Depois do Natal ou das 12 passas, o balão dos festejos pós-covid pode furar. Na indústria e no comércio e serviços antevê-se o fecho de estabelecimentos que não irão conseguir aguentar o impacto da subida generalizada de preços, bem como o definhar do poder de compra dos clientes. O arranque do ano pode ter um duplo sabor amargo para certas empresas: muitas conseguiram sobreviver aos dois anos de pandemia, com enorme esforço e fazendo das tripas coração, mas neste inverno está em risco a sua sobrevivência.

O povo português tem sido resiliente perante todos os desafios, enfrentando ventos e marés. Sabe bem que "ainda há estrada para andar" e "a gente vai continuar", como canta Jorge Palma - que comemora os 50 anos de carreira e a quem dou aqui os parabéns pelo legado de letras e músicas memoráveis. Independentemente de qual o governo em exercício ou de qual o primeiro-ministro a citar as suas letras, Jorge Palma é intemporal e canta o que vai no coração dos lusitanos: "Enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar"[...], "a dependência é uma besta... e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo" - e isso não é um dado adquirido.

Diretora do Diário de Notícias

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