Trabalhadores da Partex. "Demos riqueza à Gulbenkian, agora somos postos de lado"

Os 50 postos de trabalho da Partex Services Portugal estão em risco com a venda aos tailandeses, garante o coletivo de trabalhadores, que acusa a Fundação Gulbenkian de abandono e de recusa em dialogar.
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Na mesma semana em que os trabalhadores da petrolífera Partex impugnaram em tribunal a decisão do governo português de não se pronunciar sobre a venda da empresa aos novos acionistas tailandeses, por temerem despedimentos daqui a dois anos, o CEO António Costa Silva garantiu em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo e à TSF que a PTT Exploration and Production (PTTEP) "não tem a cultura de despedir pessoas" e que "foi a melhor escolha para a Partex", depois de a Fundação Gulbenkian ter decidido que não vai investir mais no petróleo e no gás.

Mas se para Costa Silva "a Gulbenkian é passado" e já está focado no novo acionista tailandês, esperando que o processo de venda fique concluído até ao final de 2019, para os trabalhadores da Partex o cenário é bem diferente. Perante as palavras do CEO, o grupo de representantes da Partex (GRP), em nome do coletivo de trabalhadores da Partex Services Portugal, também quis fazer ouvir a sua voz e acredita que a ação que já deu entrada em tribunal pode vir a anular o negócio.

"De acordo o que nos disse o nosso advogado, a impugnação face à decisão do governo de não se pronunciar não para o negócio. Mas traz riscos. Porque se nos for dada razão, o negócio é anulado. Imagine que a decisão do tribunal chega em abril de 2020 e que nos é favorável. Se o negócio tiver sido efetivado em dezembro de 2019, torna-se nulo e volta tudo para trás, à estaca zero", garante fonte oficial do GPR em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo.

Além da ameaça de despedimento coletivo que paira sobre os cerca de 50 trabalhadores da Partex Services Portugal, o que mais os incomoda neste momento é mesmo "a recusa da fundação em entrar em diálogo para criar uma rede de proteção que entre em vigor a seguir aos dois primeiros anos. Não há maneira de falarem connosco. Somos pessoas que durante décadas contribuíram para a riqueza da fundação e que de repente são postas de lado. A fundação não pode fugir da responsabilidade, até porque a Dra. Isabel Mota nos garantiu que fazíamos parte da família Gulbenkian e queremos ser tidos como tal. Não somos contra a venda, não queremos é perder com ela", sublinhou o mesmo representante dos trabalhadores.

Na sua visão, a venda da Partex lesa também a própria Fundação Gulbenkian (já que 40% do seu orçamento vem dos lucros da petrolífera) e o Estado português, que optou por não ter opinião na venda de um ativo de uma fundação privada de interesse público. "Fizemos isto porque já não é a primeira vez que a fundação tenta vender a Partex. Em 2017 isso aconteceu com um grupo chinês, que seria um ótimo acionista, mas depois descobriu-se que a empresa tinha sérios problemas de corrupção, o presidente foi detido e o negócio anulado. Se tivesse avançado, como é que nós ficávamos?", questiona o porta-voz dos trabalhadores.

Jornalista do Dinheiro Vivo

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