Mudar de vida
1. Mais velhos e com grau de instrução abaixo do secundário. E pela primeira vez há um gender gap a considerar: as mulheres também votam mais no PS. São as conclusões reveladas na análise feita aos votos dos portugueses nas últimas legislativas e que ajudam a explicar de onde veio a maioria absoluta de António Costa (leia aqui a notícia).
Há outros fatores, potencialmente ligados a estes, que também ajudarão a justificar a propensão maior para o voto socialista. E que passam pelo retrato da própria população portuguesa.
Por exemplo, o número de funcionários do Estado, que cresceu como nunca durante os seis anos de governação socialista, chegando no final do ano passado a um recorde absoluto de 733.495 trabalhadores nos serviços públicos centrais ou locais. Só em 2021, em pleno processo de desmaterialização e digitalização, a função pública engordou umas significativas 14.500 pessoas. Salários pagos pelo Estado, despesa pública permanente, e por aí fora...
A estes podemos ainda juntar 1,9 milhões de reformados, cujas pensões são natural e justamente pagas pelo Estado.
A questão é que a análise feita aos resultados eleitorais faz também um retrato do país: um Portugal cada vez mais envelhecido e ainda com uma grande percentagem de pessoas com baixas qualificações - e reduzidas remunerações também.
2. Porém, se nos desligarmos do fator votação e olharmos só o retrato do país, a frio, temos razões sérias para preocupação. De acordo com o mais recente retrato estatístico, cujos resultados conhecemos já no arranque deste ano, um em cada quatro portugueses tem mais de 65 anos. Para o que contribui o facto de, nos últimos 20 anos, o número de nascimentos ter caído em 25% - e nos 10 mais recentes a fatia de mais velhos ter engordado em mais de 20%.
O problema demográfico é mais do que português, é europeu, mas ainda assim nós ficamos pior nesta péssima fotografia, que nem a imigração tem sido capaz de compensar.
Somos o terceiro país da União Europeia com um rácio mais preocupante de idosos para jovens - para cada dois, há três pessoas idosas (pior do que nós, só Itália) - e o primeiro em percentagem de pessoas entre os 25 e os 64 anos sem ensino secundário ou superior.
Se o nível de escolaridade em Portugal melhorou, como revelam os Censos, a verdade é que ainda está em valores que não são propriamente motivo de orgulho: só um em cada cinco portugueses tem o ensino secundário completo e no total de mais de 10 milhões de residentes não chegam a dois milhões os que têm uma licenciatura.
Este retrato não pressagia um bom futuro para Portugal. Não nos podemos conformar com a ideia de minguarmos até desaparecermos, de perdermos sucessivamente qualidade de vida e meios de sustentar os nossos velhinhos e, em simultâneo, garantir boas perspetivas de desenvolvimento aos nossos mais novos. É isso que esperam os mais frágeis da nossa sociedade, muitos dos quais ajudaram à maioria absoluta.