Já era tempo de a humanidade começar a atuar sem ideias preconcebidas sobre como erradicar a pobreza. A atribuição do Prémio Nobel da Economia esta semana a Esther Duflo, ao seu marido Abhijit Vinaayak Banerjee e a Michael Kremer, pela sua abordagem para reduzir a pobreza global, parece indicar que estamos finalmente nesse caminho. Logo à partida, esta escolha reforça a noção de que a pobreza é mesmo um problema global e que deve ser assumido como tal. Em seguida, ilustra a validade do experimentalismo na abordagem que se quer cada vez mais científica às questões económico-sociais. Por último, pela análise que os laureados têm feito de questões específicas e precisas, temos a demonstração da importância das políticas económico-financeiras orientadas para as pessoas..A pobreza, historicamente, foi tendencialmente entendida como uma doença, como algo quase que contagioso, uma vergonha que convinha inclusivamente esconder dos outros. Será que já deixou de ser assim? Hoje, já se percebe que é indesmentível que a pobreza, tal como a doença, pode também ser amenizada pela ciência. Será muito absurdo pensar em abstrato num conceito de "medicina social"? Certo e definitivo, é mesmo que a pobreza, tal como outros fenómenos sociais, só se combate efetivamente pela prevenção das suas causas e nunca apenas pelo suavizar dos seus efeitos..O ato de ajudar desfavorecidos, de que o próprio assistencialismo - incluindo o moderno, que recorre às redes sociais e ao voluntariado - é exemplo, está carregado de simbolismo. Inclusivamente, formaliza até aquela necessidade quase instintiva que sentimos, enquanto cidadãos, de fazer alguma coisa perante a pobreza, mesmo que não saibamos concretamente o quê. Esta incerteza tem de ser cada vez menos admissível quando falamos de políticas públicas..A pobreza precisa, também ela, da tolerância zero global, com um combate que supere a política para "pobre ver" e o complexo do apaziguar das consciências. Como fazê-lo? O recente Prémio Nobel da Economia dá-nos pistas. As experiências de campo dos laureados mostram-nos as áreas fundamentais da economia do desenvolvimento: saúde, educação e igualdade de oportunidades. A taxa de risco de pobreza é a mais baixa desde que este indicador começou a ser tratado. A este dado não podem ser alheias as políticas económicas dos últimos anos, orientadas para as pessoas..O combate à pobreza não pode extinguir-se na otimização das prestações sociais - por muito que a mesma seja útil e necessária. A cultura da prevenção tem de ser assumida em modo "macro", com consensos que superem ciclos governativos em áreas fundamentais como a saúde, a educação e a mobilidade social..Remediar não basta..Deputada do PS
Já era tempo de a humanidade começar a atuar sem ideias preconcebidas sobre como erradicar a pobreza. A atribuição do Prémio Nobel da Economia esta semana a Esther Duflo, ao seu marido Abhijit Vinaayak Banerjee e a Michael Kremer, pela sua abordagem para reduzir a pobreza global, parece indicar que estamos finalmente nesse caminho. Logo à partida, esta escolha reforça a noção de que a pobreza é mesmo um problema global e que deve ser assumido como tal. Em seguida, ilustra a validade do experimentalismo na abordagem que se quer cada vez mais científica às questões económico-sociais. Por último, pela análise que os laureados têm feito de questões específicas e precisas, temos a demonstração da importância das políticas económico-financeiras orientadas para as pessoas..A pobreza, historicamente, foi tendencialmente entendida como uma doença, como algo quase que contagioso, uma vergonha que convinha inclusivamente esconder dos outros. Será que já deixou de ser assim? Hoje, já se percebe que é indesmentível que a pobreza, tal como a doença, pode também ser amenizada pela ciência. Será muito absurdo pensar em abstrato num conceito de "medicina social"? Certo e definitivo, é mesmo que a pobreza, tal como outros fenómenos sociais, só se combate efetivamente pela prevenção das suas causas e nunca apenas pelo suavizar dos seus efeitos..O ato de ajudar desfavorecidos, de que o próprio assistencialismo - incluindo o moderno, que recorre às redes sociais e ao voluntariado - é exemplo, está carregado de simbolismo. Inclusivamente, formaliza até aquela necessidade quase instintiva que sentimos, enquanto cidadãos, de fazer alguma coisa perante a pobreza, mesmo que não saibamos concretamente o quê. Esta incerteza tem de ser cada vez menos admissível quando falamos de políticas públicas..A pobreza precisa, também ela, da tolerância zero global, com um combate que supere a política para "pobre ver" e o complexo do apaziguar das consciências. Como fazê-lo? O recente Prémio Nobel da Economia dá-nos pistas. As experiências de campo dos laureados mostram-nos as áreas fundamentais da economia do desenvolvimento: saúde, educação e igualdade de oportunidades. A taxa de risco de pobreza é a mais baixa desde que este indicador começou a ser tratado. A este dado não podem ser alheias as políticas económicas dos últimos anos, orientadas para as pessoas..O combate à pobreza não pode extinguir-se na otimização das prestações sociais - por muito que a mesma seja útil e necessária. A cultura da prevenção tem de ser assumida em modo "macro", com consensos que superem ciclos governativos em áreas fundamentais como a saúde, a educação e a mobilidade social..Remediar não basta..Deputada do PS