19 MAI 2022
18 maio 2022 às 22h03

Reerguer o tampão a Leste

Rosália Amorim

Roménia, Polónia e Ucrânia fazem parte do circuito do primeiro-ministro nos próximos dias. Até há cerca de três meses os olhos de Portugal estavam postos nestes países do Leste europeu graças aos milagres económicos, ao crescimento desses mercados, às exportações e à estratégia seguida por esses destinos para atrair investimento direto estrangeiro; hoje o foco mantém-se em termos geográficos, mas a preocupação é outra: a guerra na Europa.

A visita do primeiro-ministro arrancou ontem e já tinha sido anunciada no início do mês, após reunião por videoconferência com o seu homólogo ucraniano, Denys Shmygal. Aproveitando agora a deslocação a Kiev, Costa deverá assinar um acordo de apoio financeiro de Portugal à Ucrânia, no âmbito do programa de ajudas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ontem, Bruxelas anunciou um novo auxílio macrofinanceiro de nove mil milhões de euros à Ucrânia, uma espécie de fundo de emergência, na sequência da invasão russa. A UE já tinha atribuído 1,2 mil milhões de euros de apoio. Toda a ajuda internacional é pouca face à destruição massiva em que se encontra o país de Zelensky.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, aposta numa perspetiva de atuação e financiamento de longo prazo. Reconstruir a Ucrânia é mais do que uma oportunidade de negócio ou uma lufada de ar fresco para as empresas do velho continente. Reerguer a Ucrânia é uma demonstração de força europeia. É combinar investimento com reformas, mas impondo condições, como o combate à corrupção e a independência do sistema judicial. Apoiar e financiar aquele país invadido é sinónimo de recentrar o papel da nação de Zelensky em jeito de tampão entre Ursula e Putin. Com ou sem adesão da Ucrânia à UE - processo de intenções que poderá não passar disso mesmo, mas só o futuro e a pressão geoestratégica o dirá -, toda a Europa precisa de uma Ucrânia renascida das cinzas, mais forte e mais resistente.