Boas notícias de Lisboa
Depois de seis anos e governar-se ao sabor das vontades de Medina e Salgado, parcos seis meses com Carlos Moedas à frente dos destinos de Lisboa trouxeram uma forma bem diferente de governar, uma mudança refrescante, marcada pela comprovação de que a navegação de uma cidade pode e deve fazer-se com visão ampla e integradora do valor e contributos de todos - e não de olhos virados para o umbigo e impondo decisões à força de murros na mesa.
Foram-se os tempos das reuniões em que os lisboetas não tinha palavra ou eram até retirados da sala, como chegámos a assistir nos vídeos municipais espalhados pelas redes sociais durante o consulado anterior - o mesmo em que as decisões mais importantes para a cidade eram tomadas à porta fechada e demasiadas vezes sem sequer dar conhecimento ou palavra aos deputados municipais eleitos. Ainda se lembra do jardim na Segunda Circular?
Com Moedas, entrámos numa era em que as portas estão abertas não apenas à oposição, mas também aos munícipes. É verdade que o novo presidente da Câmara, com os mesmos sete vereadores que tem o PS e ainda mais três na oposição com assento em Lisboa (PCP e BE), é obrigado a negociar. Mas essa veia de consensos e acordos é marca pessoal do social-democrata, não é fruto das circunstâncias. Como é traço da ação que lhe reconhecemos a experiência de quem não viveu sempre fechado nas quatro paredes deste retângulo atlântico e da sua autofágica vida partidária, mas antes foi colhendo exemplos vividos e experimentando-os à luz dos costumes, jeitos e parâmetros nacionais.
O resultado está à vista. Por muito que haja ainda quem tente vender a ideia de que Carlos Moedas é um presidente da câmara que pouco fez ou conseguirá fazer, um autarca a prazo, de longevidade diretamente proporcional às contrariedades e aos trambolhos que lhe vão pondo à frente dos pés, o presidente da Câmara de Lisboa tem conseguido mover-se com o mais importante dos apoios: o dos lisboetas. Importante porque valida a sua posição como líder em desvantagem representativa, mas sobretudo porque é ao lado deles que Carlos Moedas governa, escutando as suas preocupações e necessidades, abrindo a discussão a quem vive Lisboa.
Em seis meses de liderança, conseguiu aprovar um orçamento em que o PS tentou dar o dito por não dito, passar a devolução de 3% do IRS aos lisboetas, reformular algumas ciclovias de terror da cidade (como a da Almirante Reis), lançar as bases para gerar uma comunidade energética e ambientalmente sustentável, abrir as decisões da autarquia a quem nela vive. Do seu orçamento fazem parte outras medidas que decorrem de promessas eleitorais e que só dependem da votação da oposição para se concretizarem - incluindo os descontos na EMEL para lisboetas e os transportes gratuitos para os mais velhos e os mais jovens, que o autarca espera ver avançar ainda nesta semana, bem como a materialização de uma comunidade de startups (que foi também sonho do saudoso João Vasconcelos).
Carlos Moedas está só a começar. Mas já mostrou ter fibra e resistência para vencer obstáculos. Possa quem se senta do outro lado da barricada fazer oposição construtiva e Lisboa chegará a 2025 capaz de orgulhar-nos a todos como uma das melhores cidades para se viver.